26/06/24

Análise da Semana - 27 a 31 de Maio de 2024

O PIB americano foi revisado para baixo e foi reportada uma alta anualizada de 1,3% no primeiro trimestre de 2024, mostrando um crescimento mais lento do que o esperado para a economia americana. Em abril, foi divulgada uma prévia que apontava 1,6% de avanço na economia, valor esse que veio 30 bps abaixo do crescimento realizado. Segundo o departamento de estatística americano, a queda nos gastos do consumo foi o principal motivo para a baixa de 0,3%. Apesar disso, o Fed prevê que o segundo trimestre do ano tenha um crescimento de 3,5% no PIB e a expectativa do mercado é que em 2024 a força de trabalho consiga superar esse primeiro trimestre de crescimento mais lento.

 O PCE, núcleo da inflação americana, teve alta de acordo com expectativas. O PCE core teve alta de 0,2% em abril, em linha com as projeções. A inflação se manteve estável em relação a março, indicando que a alta no nível de preços continua persistente e pode indicar que um corte na taxa de juros básica do Fed irá demorar para acontecer. No ano a ano, o PCE cresceu 2,7% e foi em linha com a pesquisa realizada pela FactSet. Os gastos de consumidores subiram 0,2% ao mês, baixa de 10 bps em relação a março. De um modo geral, o PCE de abril não teve nenhuma surpresa, somente sinalizou que a inflação dos EUA continua em um nível elevado. A leve alta na inflação não representa uma piora na economia, mas sim uma espera maior para a recuperação da economia americana.

O CPI da zona do euro teve avanço de 2,6% em maio, acima do esperado. A preliminar do índice de preços ao consumidor europeu de maio aponta crescimento mais uma vez, após alta de 2,4% em abril. A pesquisa da FactSet apontou expectativa de alta de 2,5% para maio, sendo que a realizada foi de 2,6%, enquanto o CPI mensal marcou os 0,2%, também 0,1% acima da expectativa. O núcleo do CPI, que exclui itens voláteis, cresceu 2,9% em maio, frente aos 2,7% de abril. Por sua vez, o índice de serviços apresentou alta de 4,1%, 40 bps acima do mês anterior. Ainda que a inflação europeia esteja acerelada, espera-se que o BC europeu realize corte na taxa de juros na próxima semana. Porém, esses novos dados do CPI indicam que deve ser um corte único, ou seja, na decisão de julho não deve haver outro corte nos juros básicos.

 

Brasil

O IPCA-15, uma prévia da inflação oficial brasileira, voltou a um ritmo mais acelerado em relação ao mês de abril. Em maio o índice de preços teve uma variação de 0,44% m/m, contra 0,21% m/m em abril, dessa forma o IPCA-15 acumula uma alta de 3,70% nos últimos 12 meses. Esse dado, entretanto, ficou abaixo da estimativa dos analistas que esperavam uma inflação mensal de 0,49% e uma taxa acumulada de 3,75% nos últimos 12 meses. As principais influências da leitura foram os grupos de saúde e cuidados pessoais, e transportes principalmente por conta da alta dos combustíveis e passagens aéreas. A alta nos preços do primeiro grupo foi influenciada pelo aumento nos preços de produtos farmacêuticos, depois da autorização de reajuste de até 4,5% nos preços de medicamentos a partir de 31 de março.

O Caged apontou alta anual na criação de emprego no Brasil pelo 4º mês seguido. No total, foram criadas mais de 240 mil novas vagas com carteira assinada em abril, ligeiramente abaixo das 244 mil vagas de março. O número representa alta de 32% no ano a ano.  Em 2024, o acumulado do ano já soma mais de 958 mil de novas vagas. A área com maior criação de vagas foi de serviços, com mais de 138 mil empregos formais e em segundo foi a indústria geral com 35 mil. Além disso, o agronegócio conseguiu reverter o saldo negativo de vagas que teve em março e gerou mais de 6 mil vagas em abril. São Paulo foi o estado que mais gerou vaga, seguido por Minas Gerais com, respectivamente, 76 mil e 25 mil novas vagas.

Segundo o Pnad, a taxa de desemprego no Brasil é a menor em 10 anos. No 1T24, a taxa de desocupação marcou 7,5%, queda de 1 bp em relação ao trimestre anterior e 1% ao ano. Foi a menor taxa de desemprego desde abril de 2014, que marcava 7,2%. O total da população desocupada foi de 8,2 milhões, relativamente estável na comparação trimestral, mas com baixa de 9,7% ou 822 mil pessoas em termos anuais. Já a PNAD Contínua registrou 100,8 milhões de pessoas ocupadas, representando estabilidade no trimestre e alta de 2,8% a/a ou 2,8 milhões de ocupados a mais. Além disso, o número de trabalhadores com carteira assinada foi o maior registrado na série histórica, atingindo 38,19 milhões de pessoas. O número de trabalhadores sem carteira assinada foi 13,5 milhões, que também representa recorde histórico.

 

Mercados

Nessa última semana do mês, os feriados no Brasil, EUA e Londres drenaram a liquidez dos mercados globais. No geral, as principais bolsas refletiram o mau humor nos Estados Unidos e não conseguiram performar, fechando o mês de maio no campo negativo. A exceção fica para a Nasdaq, que se descolou das bolsas americanas, dado resultado da Nvidia. Dentre as principais headlines, destaque ficou para o índice preferido do Fed para analisar a condução da política monetária (PCE). Fora isso, falas de dirigentes do Fed, dado de confiança do consumidor, leilão fraco de Treasuries e escalada das tensões no Oriente Médio foram outros drivers de preço. No Brasil, mercado repercutiu o IPCA-15 e digeriu o outcome desse leilão de Treasuries e a volatilidade do minério de ferro.

No começo da semana, os juros domésticos estenderam alívio com a leitura marginalmente melhor que a expectativa do IPCA-15. O indicador veio abaixo do esperado e exibiu desaceleração dos preços de serviços. Nessa linha, vimos uma descompressão de risco curto prazista e a curva brasileira passou a elevar ligeiramente a precificação para um corte de 6 bps no Copom de junho. Vale lembrar que essa sinalização era de 5 bps no fechamento de segunda-feira e 4 bps no final da semana passada. Em outras palavras, tivemos uma ligeira melhora do cenário para junho e um possível corte de 25 bps voltou para a mesa. Mesmo assim, as maiores preocupações residem sobre a composição e o comportamento do próximo Banco Central, que já deu indícios de um posicionamento mais dovish em relação à trajetória inflacionária. Não à toa, a curva de juros brasileira permanece inclinada, demonstrando essa demanda de um maior prêmio de risco no longo prazo visto as incertezas à frente. Vale ressaltar que mesmo que a hipótese de um corte de 25 pontos tenha voltado a mesa, mercado tem como consenso a manutenção do patamar de Selic atual na próxima reunião.

O índice de inflação mais acompanhado do Fed subiu em linha com o esperado nas principais medições. A leitura do dado foi positiva no sentido de evidenciar alguma evolução no combate à inflação e o destaque ficou para uma desaceleração nos gastos dos consumidores.  Logo após a divulgação do dado, os juros cederam nos diferentes mercados e os índices de ações reagiram positivamente. O dólar frente a uma cesta de moedas perdeu força e contra o Real, a moeda americana se manteve estável, operando perto de R$ 5,20. Mesmo que a leitura tenha sido positiva, acreditamos que é cedo demais para mudar a percepção e a postura do Fed acerca da política monetária vigente. O dado de hoje certamente aumenta a incerteza de quando será possível termos um movimento de flexibilização, dada evolução lenta desse movimento de convergência para a meta estipulada.

Dentre o noticiário corporativo, vale o destaque para o Nubank, que ultrapassou o Itaú em valor de mercado e se tornou o banco mais valioso da América Latina. Com a alta dessa semana, o banco também se tornou a segunda empresa brasileira mais valiosa, US$ 56 bilhões, ficando apenas atrás da Petrobras, que vale perto de US$ 100 bilhões. Em suma, o rali recente do papel tem a ver com os resultados consistentes do banco, que depois de anos queimando caixa passou a entregar lucros consistentes e crescentes. Vale frisar que essa ultrapassagem do Itaú tem um simbolismo forte pois mostra como o banco digital conseguiu em poucos anos romper uma indústria que parecia fadada à baixa concorrência. Fora isso, vale também o destaque para a marca de 100 milhões de clientes atingida nesse ano e um ROE excelente de 23% no primeiro trimestre, superior ao do Itaú, 21,9%.

Na comparação semanal, o dólar ganhou força contra o real e a curva dos DIs futuros estressou significativamente na parte longa, por volta de 10 bps. O Ibovespa foi contaminado pelo humor estrangeiro e perdeu os 124 mil pontos, atingindo o menor patamar visto desde novembro do ano passado. Na semana, o índice acumulou uma desvalorização de 1,93% e fechou o mês de maio aos 122.323 pontos.

No fechamento do mês, mercados passaram por uma certa reprecificação de risco, pressionada pelo aumento dos rendimentos dos Treasuries dadas às preocupações com o momento e a escala dos cortes da taxa de juros pelo Fed. A fraca demanda no leilão de Treasuries dessa semana demonstra investidores cada vez mais cautelosos com o risco americano dado que os indicadores inflacionários mais recentes vêm sugerindo que teremos um longo caminho pela frente em termos de convergência inflacionária para a meta de 2%.

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