Global
As vendas no varejo americano ficaram estáveis em junho na comparação mensal, ficando um pouco acima do esperado pelo mercado que previa uma queda de 0,3% m/m. As vendas nos postos de gasolina e concessionárias de carros tiveram uma influência negativa no resultado, tendo em vista que muitas concessionárias foram afetas por interrupções de vários dias nos negócios caudas por ciberataques a um fornecedor de softwares. Ao excluir essas duas categorias, as vendas varejistas tiveram um aumento e 0,8% m/m. O varejo de não lojistas, por sua vez, que inclui especialmente o comércio online, teve um aumento de 8,9% a/a.
Na reunião o Banco Central Europeu desta semana o comitê optou por manter a taxa de juro inalterada tendo em vista a ausência de um conjunto suficiente de dados. O comitê continua vendo que as pressões de preços domésticos persistem, especialmente no setor de serviços, com a expectativa de que a inflação exceda a meta até a metade do ano que vem. O BCE segue com um posicionamento de que continuará com uma postura restritiva pelo tempo que fora necessário. Dessa forma, o processo de tomada de decisão continua dependente de dados, sem compromisso prévio com uma trajetória específica para as taxas. Lagarde, presidente do BCE, afirmou que até a próxima reunião, em setembro, o comitê poderá analisar uma boa quantidade de informações. Ela indicou indiretamente que há um progresso adicional na desinflação à frente, tomando o cuidado de reiterar que não há obrigação de corte de juros no curto prazo.
Iniciou a temporada de divulgação de resultados das empresas dos EUA no 2T24. Goldman Sachs mostrou forte alta no lucro do segundo trimestre. Após alguns trimestres de resultados estáveis, o banco apresentou melhora nas margens, principalmente devido a novas operações do banco de investimentos. O segmento teve uma alta de 21% a/a e somou US$ 1,73 bilhões de receita, impulsionada pela estruturação de dívida e underwriting de IPOs. Além disso, a Asset e Wealth Management cresceram 27% a/a e contribuíram com US$ 3,88 bilhões de receita. Já o lucro líquido foi de US$ 3,04 bilhões, quase o triplo dos US$ 1,22 bilhões vistos no 2T23 e US$ 200 milhões acima do esperado pelo consenso. Essa melhora na lucratividade mostra que o banco conseguiu superar a estagnação vista nos resultados de 2023, mas cabe aos próximos trimestres definirem se essa foi uma melhora isolada ou se é uma etapa inicial da reabertura dos mercados para a Goldman.
Os resultados do BofA apresentaram queda anual. O fator que mais prejudicou o resultado foi o aumento da taxa de juros para os consumidores, que influenciou as margens de lucro. O segundo maior credor americano teve receita líquida de juros de US$ 13,7 bilhões, em linha com as expectativas. A receita líquida total do BofA foi de US$ 25,4 bilhões, também alinhada com o consenso. Já o lucro líquido superou a expectativa em US$ 5 bilhões e somou US$ 6,9 bilhões, representando queda de 6,8% a/a. Apesar das quedas operacionais, o guidance do banco para o resto do ano aponta uma melhora na lucratividade, além de receitas maiores. O lucro por ação foi de US$ 0,83, levemente acima da estimativa da FactSet de US$ 0,80.
O Morgan Stanley teve alta de 41% a/a no lucro líquido. Assim como os outros grandes bancos, o maior impulsionador de resultado foi o segmento de banco de investimentos, que teve alta de 51% a/a na receita líquida. Além disso, a área de trading também se destacou ao crescer 23% a/a e gerar US$ 7 bilhões de receita. Porém, o segmento de Wealth, carro chefe do banco, teve receita de US$ 6,86 bilhões, levemente abaixo de esperado. A captação líquida da área veio 36% menor do que a FactSet previa e foi de US$ 36,4 bilhões, devido ao cenário pouco favorável de juros altos. O lucro líquido do banco foi de US$ 2,2 bilhões com EPS de US$ 1,24, acima do estimado pelos analistas, US$ 0,54.
O 2T24 da BlackRock apresentou números mistos. A carteira de ativos gerida pela empresa alcançou recorde e marcou US$ 10,64 trilhões, 13% acima do ano passado. Sua receita somou US$ 3,88 bilhões, alta de 7% a/a e foi levemente abaixo do esperado. A área de private foi a maior impulsionadora dos resultados e houve a aquisição não recorrente do Global Infrastructure Private Partners por US$ 12,5 bilhões. Apesar da receita aquém das expectativas, as margens operacionais tiveram melhora na comparação anual. Os fluxos líquidos de fundos de longo prazo aumentaram em US$ 6 bilhões, enquanto os fluxos líquidos totais foram de US$ 82 bilhões com alta de 2,5% a/a. Por fim, o lucro líquido teve alta de 10,7% a/a ao somar US$ 1,55 bilhões.
O 2T24 da Netflix mostrou que ainda existe espaço para crescimento na operação da empresa. A receita do semestre foi de US$ 9,56 bilhões e teve alta de 16,8% a/a, refletindo a alta de 16,5% da base de assinantes ou 8 milhões de usuários, número 2 vezes maior do que se esperava. Já a receita por usuários teve alta de 1% cada. Ademais, o lucro líquido teve avanço de 48% a/a e somou US$ 2,15 bilhões com EPS de US$ 4,88, enquanto se esperava US$ 4,74. Como empresa, a Netflix mostrou resultados sólidos e lucro forte, e como competidora do setor de streaming, reiterou sua liderança.
Brasil
O IBC-Br, índice de atividade econômica considerado prévia do PIB, subiu 0,25% m/m em maio, abaixo da estimativa do mercado de 0,30%. Ainda, o BC revisou o dado de abril, com uma expansão de 0,27%, mostrando uma persistência do ritmo nos meses do 2T24. Nos últimos 12 meses o indicador acumula um avanço de 1,66% e esse ano observamos uma alta de 2,01%. O segundo trimestre do ano está sendo marcado pelas enchentes no Rio Grade do Sul, que afetaram a agricultura, indústrias e logística.
Essa semana o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que o governo federal fará uma contenção de R$ 15 bilhões no orçamento de 2024, a fim de cumprir as exigências do arcabouço fiscal. A maior parte da contenção, R$ 11,2 bilhões será objeto de bloqueio orçamentário. O restante do montante será feito como contingenciamento, de forma que a projeção de resultado primário fique dentro da banda de tolerância da meta fiscal. Apesar de o mercado entender que o governo precisa realizar um corte de gastos maior, de R$ 27 bilhões, o congelamento anunciado essa semana foi uma notícia positiva, tendo em vista que era esperado um corte de R$ 11 bilhões.
A segunda etapa da privatização da Sabesp obteve R$ 186,8 bilhões em ordens, com a oferta de 17% das ações da companhia. Cada ação foi negociada a R$ 67, 18,3% abaixo do fechamento de mercado de quinta-feira (18/07). O valor da ação abaixo do preço de mercado pode ser explicado pelo desenho da oferta, em que o preço da primeira fase – que foi comprada pela Equatorial – foi usado como teto para a segunda etapa, visto que o valor das ações deveria ser o mesmo. A demanda desta oferta foi um recorde nacional histórico, especialmente por conta do preço das ações que ficou bastante abaixo do valor negociado em bolsa e pela boa reputação da Equatorial, que será a nova sócia de referência da empresa. Além disso, os investidores mandaram ordens artificiais para inflar seus pedidos tendo em vista a grande perspectiva de rateio da emissão. Assim, a oferta acumulou R$ 14,8 bilhões considerando os 15% de ações comprados pela Equatorial na primeira fase do processo.
Mercados
Nesta semana, o mercado foi impactado pela declaração do presidente Lula, que relativizou novamente o compromisso com a meta fiscal, gerando preocupações sobre um possível contingenciamento insuficiente para atingir o déficit zero em 2024. Essa fala impulsionou o dólar, que fechou em 5,60, registrando uma alta de 3,24% na semana. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tentou minimizar o impacto, afirmando que as declarações foram descontextualizadas e reiterando o compromisso com o arcabouço fiscal. Economistas projetam a necessidade de um contingenciamento de R$ 40 bilhões, apesar do governo indicar R$ 15 bilhões. A apresentação do Relatório Bimestral de Receitas e Despesas na próxima semana testará esse compromisso. Além disso, uma falha cibernética global afetou bancos, companhias aéreas e emissoras, elevando a tensão dos investidores e fortalecendo a moeda americana. O índice do dólar teve seu avanço também influenciado por dados econômicos positivos dos EUA e a fuga para a segurança devido aos problemas tecnológicos. Analistas destacam que a recente pressão de venda pode ter sido exagerada, considerando o crescimento econômico contínuo dos EUA e a expectativa de cortes de juros pelo Fed.
O Ibovespa acumulou queda de 0,99% durante a semana, a primeira após quatro semanas de alta. Após anúncio de corte de R$15 bilhões nas despesas para cumprir o arcabouço fiscal, o mercado respirou, mas analistas alertam que a medida é insuficiente para colocar a dívida pública em trajetória sustentável. Como destaque, Embraer (EMBR3) subiu 1,14% após anúncio de aumento na entrega de aeronaves e negociações avançadas com Latam e Gol. Eletrobras (ELET3) concluiu a venda de ações da Isa Cteep (TRPL4), com impactos mistos. Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4) tiveram leves oscilações, e os frigoríficos fecharam em baixa, exceto BRF (BRFS3), que subiu 0,86%.
Jerome Powell, presidente do Fed, afirmou que os dados econômicos do segundo trimestre aumentaram a confiança de que a inflação está se aproximando da meta de 2%. Com a expectativa de cortes nas taxas de juros a partir de setembro e uma probabilidade superior a 90% precificada na curva de juros futuros dos EUA, o Russell 2000, índice de empresas de menor capitalização de mercado, acumulou ganhos de 1,03%, indicando um maior apetite ao risco. Em contraste, o S&P 500 apresentou queda de 2,36%. No meio da semana, o índice Nasdaq sofreu uma queda generalizada (fechando a semana com - 4,11%), impulsionada pela venda de ações do setor de tecnologia, que se ampliou para outros setores. O setor tech permaneceu sob pressão dado os temores de restrições mais rigorosas nas exportações para a China, discutidas pela administração Biden, o que pode impactar as vendas e lucros dos fabricantes de chips americanos. Com a expectativa de cortes nas taxas de juros, os investidores estão realocando seus portfólios para setores fora das big techs, visando aproveitar os benefícios econômicos mais amplos de taxas mais baixas.
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