A reunião do FOMC essa semana confirmou as expectativas do mercado de manutenção da fed funds rate no intervalo de 5,25%-5,50%. O comunicado não mostrou grandes mudanças de posicionamento, sendo a única alteração a avaliação de “falta de progresso” nos dados de inflação para um “progresso moderado”, indicando que ainda precisam ter mais confiança para voltar a discutir sobre o início do ciclo de redução da taxa de juros. Ainda, o comunicado mostrou que os dirigentes reconhecem um crescimento sólido, com um crescimento da demanda subjacente ainda forte. Powell afirmou que os indicadores referentes ao mercado de trabalho finalmente voltaram ao nível que estavam antes da pandemia, isto é, relativamente apertado, mas não sobreaquecidas. O comitê também mudou a projeção mediana da taxa de juros de 4,6% para 5,1%, indicando que há espaço para apenas um corte ainda esse ano. Mesmo assim, Powell reforçou que o FOMC pode alterar a projeção caso algum dado relevante seja divulgado, como foi o caso do CPI essa semana. Como a maior parte dos membros não tinha atualizado as projeções depois do dado do CPI, fica em aberto se a visão apresentada é a mais consistente.
O CPI americano ficou estável em maio em relação ao mês anterior, depois de uma alta de 0,3% m/m em abril. Na comparação anual, o índice teve uma variação de 3,3%, contra a variação de 3,4% a/a em abril. Esses dados foram abaixo do esperado, tendo em vista que o consenso esperava uma alta de 0,1% m/m e 3,4% a/a. O núcleo, por sua vez, teve uma alta mensal de 0,2% m/m, também desacelerando em relação ao mês anterior, que teve uma leitura de 0,3% m/m, e um avanço anual de 3,4%. A desaceleração pode ser explicada por uma queda nos preços de energia, especialmente da gasolina. Essa retração foi compensada por um aumento nos preços de habitação.
O PPI, índice de preços ao produtor americano, sofreu uma queda inesperada no mês de maio de 0,2% m/m contra 0,1% m/m esperados pelo consenso. A queda pode ser explicada especialmente pelos custos mais baixos de energia, indicando que a inflação ao produtor está em tendência de queda. Essa leitura mostra uma desaceleração no índice, depois de uma alta de 0,5% m/m em abril. Nos últimos 12 meses o índice acumula uma alta 2,2%. O núcleo, por sua vez, ficou estável no mês depois de uma alta de 0,3% m/m em abril.
O CPI da China apresentou a quarta alta consecutiva em maio, com avanço de 0,3% a/a, ficando em linha com as expectativas e inalterado em relação a leitura do mês anterior. O PPI, índice de preço ao produtor, por sua vez, mostrou uma deflação perdendo força no mês, com queda de 1,4% m/m, praticamente em linha com as expectativas, depois de observarmos retrações de 2,8% m/m e 2,5% m/m em março e abril, respectivamente. Essa desaceleração pode ser explicada pelo aumento nos preços das commodities, além da melhora nas condições de oferta e demanda de bens industriais no mercado interno.
Brasil
O IPCA, inflação oficial do país, mostrou um aumento de 0,46% m/m nos preços e ficou acima das expectativas de 0,42% m/m. Essa alta foi impulsionada especialmente pelo avanço no grupo de alimentação e bebidas, com destaque para tubérculos, raízes e legumes. Além disso, de acordo com o IBGE, os efeitos econômicos da tragédia do Rio Grande do Sul já começaram a aparecer, tendo em vista o peso de Porto Alegre no cálculo no índice de preços. No acumulado dos últimos 12 meses, o indicador tem um avanço de 3,93%, também acima das expectativas, além de ser a primeira vez desde outubro do ano passado que a inflação anual tem uma aceleração em relação ao registrado no mês anterior de 3,69%.
O volume de serviços no Brasil voltou a registrar crescimento em abril, com uma expansão de 0,5% m/m acima dos 0,2% m/m esperados. Esse foi o segundo avanço seguido em termos mensais. Na comparação anual, o setor teve um aumento de 5,6% em abril contra 4,3% da expectativa do mercado. Dessa forma, o volume de serviços está 12,9% acima do patamar pré-Covid, mas ainda abaixo do ponto mais alto da série histórica no final de 2022. O resultado positivo do setor é beneficiado pelo mercado de trabalho forte, com aumento da renda, que impulsiona o consumo dos serviços em geral.
O volume de vendas no varejo apresentou uma alta de 0,9% m/m, ficando abaixo das expectativas de 1,7% m/m. Mesmo assim, o dado mostra aceleração em relação à leitura de março de 0,3% m/m. Na comparação anual o dado também ficou abaixo do esperado, 2,2% vs. 3,9% esperados. Dos oito grupos estudados, cinco apresentaram alta. Os destaques positivos da leitura foram material para escritório, móveis e eletrodomésticos e combustíveis.
O IBC-Br, considerado uma prévia do PIB, ficou perto da estabilidade em abril, com uma variação de 0,01% m/m, de forma a se recuperar timidamente da queda de março. Esse dado ficou aquém dos 0,45% m/m esperados pelo consenso. Na comparação anual, o índice teve uma alta de 4,01% e, no trimestre encerrado em abril, o índice teve alta de 0,76% t/t. Dessa forma, observamos uma retomada do crescimento no primeiro trimestre do ano, tendo em vista um ambiente de inflação controlada, aumento de renda e mercado de trabalho aquecido, favorecendo o consumo. A estagnação no mês se deve principalmente por conta da queda da produção industrial. Os efeitos da taxa de juros até agora devem se tornar mais evidentes no próximo trimestre, favorecendo a atividade econômica. Mesmo assim, ainda existem incertezas relativas à trajetória da taxa de juros, além de possíveis impactos relacionados à tragédia no Rio Grande do Sul.
Mercados
Mercados locais têm 'respiro' com aceno de Haddad e Tebet a corte de despesas. Embora percepção de risco ainda persista, a sinalização de que o governo acelerará a revisão de despesas conforme demonstrado pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, fizeram com que o mercado reagisse. A taxa DI para janeiro de 2025 caiu de 10,72% para 10,64%, enquanto a do DI para janeiro de 2026 recuou de 11,32% para 11,23%. Mesmo assim, o Ibovespa cedeu aos 119.662 pontos, representando uma queda de -0,91% na semana.
O Ibovespa continuou com o seu desempenho negativo, influenciado por dados abaixo das expectativas do IBC-BR e preocupações fiscais. O ministro Haddad tem uma reunião fechada com banqueiros para discutir possíveis mudanças no arcabouço fiscal, uma semana após o vazamento no mercado de que o governo poderia propor alterações nesse arcabouço após encontro do ministro com representantes de instituições financeiras. A cautela predomina no mercado, com investidores aguardando desdobramentos dessa reunião e atentos às incertezas fiscais.
S&P500 e o Nasdaq fecham novas máximas históricas durante a semana. Impulsionados pelo setor de tecnologia e expectativas de cortes de taxas pelo Fed, na semana, os índices da bolsa americana bateram recordes. Apesas disso, relatórios indicaram uma queda inesperada nos preços ao produtor em maio e um aumento nos pedidos de seguro-desemprego, alimentando especulações sobre as possíveis reduções de juros pelo Federal Reserve. No entanto, a trajetória dos juros permanece um ponto de atenção, já que novos cortes podem não ocorrer como antecipado.
Os preços do petróleo sobem, caminhando para o primeiro ganho semanal em quatro semanas (Brent +3,77%). O mercado equilibra o impacto das altas taxas de juros nos EUA com a sólida demanda por petróleo bruto e combustível. Já as cotações do minério de ferro (-1,70%) na China caíram pela segunda sessão consecutiva, pressionadas por preocupações com a demanda e altos estoques portuários. A volatilidade desses mercados reflete toda a incerteza global.
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