Na última quarta-feira, o FOMC, comitê de política monetária dos EUA, aumentou a taxa de juros em 25 bps, em linha com as expectativas do mercado. Os juros dos EUA agora estão entre 5,25% a 5,50%, valor mais alto em 22 anos. Mesmo com a taxa em nível elevado, está de acordo com a expectativa do mercado, já que a economia do país está passando por um momento delicado. Além disso, o guidance do FED indica que a inflação do país deve desacelerar, sinal positivo, indicando que a taxa de juros deve seguir no nível de agora se não houver grandes surpresas na economia americana.
A temporada de divulgação de balaços continua nos EUA. A Alphabet, dona do Google, abriu a temporada de resultados das Big Techs mostrando força de mercado de online advertising e IA. A empresa é um parâmetro para a saúde das propagandas digitais, e mostrou solidez e números superaram as expectativas. O ganho com publicidade subiu 3,3% a.a. e somou US$ 58,3 bilhões no total, com destaque para o YouTube que representou US$ 7,8 bilhões, sendo 13,4% do total. O lucro líquido foi de US$ 18,4 bilhões, maior que o esperado pelo mercado, e representou alta de 14,8% a.a. Se esperava uma receita de US$ 72,8 bilhões, enquanto a companhia apresentou US$ 74,6 bilhões.
A Microsoft mostrou resultados do 2T23 levemente acima das expectativas. Sua receita foi de US$ 56,2 bilhões, crescimento de 8% a.a. e superando em US$ 0,7 bilhão o consenso do mercado. Já o lucro líquido subiu 21% em comparação anual, sendo US$ 20,1 bilhões, com lucro por ação de US$ 2,69, enquanto se esperava US$ 2,55. Há um destaque para Azure, plataforma de computação em nuvem, que aumentou 26% no período, também além do que o esperado pelo mercado. Mesmo com os resultados positivos, o guidance para o próximo período foi abaixo do que se estimava, com uma receita entre US$53,8 bilhões e US$ 54,8 bilhões, contra US$ 55,04 bilhões. Isso pode ser explicado pelos maiores investimentos em cloud, com um aumento gradual ao longo dos próximos trimestres.
Meta, controladora do Facebook, surpreendeu o mercado ao apresentar números extremamente sólidos referente ao 2T23. A monetização do Reels foi o maior destaque operacional da empresa, que conseguiu uma receita anualizada de US$ 10 bilhões, receita idêntica à do Tiktok em 2022. O corte de custos que desligou mais de 20.000 funcionários surtiu efeito na Meta, e mostrou ter sido a decisão certa. A receita total do período ficou em US$ 32 bilhões, com 11% de alta ao ano, e guidance de crescimento entre 15% e 24% para o próximo trimestre. O lucro líquido foi de US$ 7,78 bilhões, alta de 16% a.a., e o ganho por ação superou expectativa de US$ 2,91 e somou US$ 2,98.
Brasil
Vale apresentou um resultado do 2T23 em linha com as expectativas, após números fracos no trimestre anterior. A empresa registrou lucro líquido de R$4,6 bilhões no período, o que representa 78% do publicado no mesmo período do ano passado e teve uma receita líquida de vendas aproximadamente 13% menor na comparação do mesmo trimestre do ano anterior. No geral, os menores preços realizados de Níquel e minério de ferro impactaram o resultado 2T23. Essa variação negativa dos preços também refletiu no EBITDA da Vale, que apresentou uma queda de 26% a.a.., levemente abaixo das expectativas com R$19,1 bilhões vs. consenso de R$20,3 bilhões.
O IPCA-15 de julho registrou uma queda de -0,07%, primeira deflação do índice desde setembro de 2022, superando a expectativa de queda de 0,01%. O destaque foi para as contas de luz e alimentos, que fizeram os grupos de habitação e alimentação e bebidas caírem, respectivamente, 0,94% e 0,40%. Os grupos que mais subiram foram de transportes, em 0,63%, e de despesas pessoais, em 0,38%. Outro ponto importante de mencionar é que as pressões inflacionárias se mostraram menos disseminadas e as medidas de núcleo e serviços tiveram uma desaceleração razoável. Esse comportamento que temos observado nos índices de inflação e uma atividade econômica que perde força abrem espaço para o início do ciclo de queda de juros na próxima reunião do Copom.
Mercados
Nessa semana intensa, os mercados performaram de forma mista, refletindo, principalmente, as decisões de política monetária de dois dos principais blocos econômicos mundiais. Na esfera internacional, decisão de juros dos EUA e União Europeia, índice de despesas de consumo pessoal (PCE) americano, resultado de Big Techs e repercussão do pacote de estímulos para a economia chinesa foram os principais drivers de preço. No Brasil, atenções voltadas ao IPCA 15 de julho, que surpreendeu o mercado.
Como já era esperado, o Federal Reserve aumentou a Fed Funds Rate em 25 bps, elevando a taxa para o intervalo entre 5,25%-5,50%. A probabilidade implícita na curva americana já ilustrava esse movimento e não pegou ninguém de surpresa, ou seja, a questão agora é o rumo que a política monetária americana tomará. Nesse tom, o último discurso de Jerome Powell demonstrou sinais positivos em relação a inflação e sinalizou uma possível manutenção da taxa em setembro, a depender dos dados até lá. Assim, o mercado passou a enxergar a possibilidade de um fim do ciclo contracionista e reagiu positivamente.
O PCE, primeiro dado a ser divulgado após o discurso de quarta-feira e preferido do FED para analisar a trajetória inflacionária, veio em linha com as expectativas. O número de hoje corrobora com o view positivo do mercado após discurso de Powell, e as bolsas americanas acumularam mais ganhos no último pregão de julho.
O IPCA-15 de julho registrou uma desaceleração de 0,07% em relação a junho. O dado mostrou uma suavização dos núcleos que compõem inflação e nos preços dos serviços. Logo após a divulgação, os juros futuros recuaram e a curva implicou chance majoritária de corte de 50 bps na Selic agora no começo de agosto. Nesse sentido, o mercado doméstico acelerou os ganhos, considerando um valuation descontado a uma taxa livre de risco menor.
O banco central Europeu também aumentou as três principais taxas de juros em 25 bps. O movimento já era previsto e os próprios membros já tinham anunciado previamente. De acordo com o research do BTG, o banco central europeu se provou mais dovish com os dados mais recentes, apontando uma transmissão mais clara da política monetária para a demanda. Ainda na linha do BTG, a interpretação do relatório divulgado deixou a porta aberta para novo ajuste ou até uma pausa, a depender também dos próximos dados. No mais, o mercado segue precificando na curva Eonia (Euro Overnight Index Average) que o ocorrido na última coletiva foi o encerramento do ciclo contracionista na zona do Euro.
O Ibovespa atingiu nessa semana o maior nível desde abril de 2022. Assim, com bastante volatilidade nos pregões e nas commodities, o índice ficou praticamente no zero a zero nos últimos cinco dias e fechou a última semana de julho aos 120.187 pontos. O headline da semana fica para Vale, que divulgou um resultado abaixo das expectativas para o 2T23. Na margem, viu-se dados fracos de lucro e receita líquida, que influenciou na cotação do papel e consequentemente no Ibovespa dado que a empresa possui a maior participação na composição do índice.
O real se apreciou em relação ao dólar e os vencimentos futuros da curva de juros brasileira apresentaram mais um alívio. Tivemos um volume majoritariamente positivo no índice, com um movimento de realização de lucros mais para o final da semana, influenciado por ruídos políticos e interferência na política de dividendos da Petrobrás. No geral, os mercados refletiram uma melhora de seus respectivos cenários inflacionários e continuam à deriva de dados Chineses, que de certa forma ditam parte do ritmo da economia global.
2022 
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