10/02/23

Análise da Semana - 6 a 10 de fevereiro

Global - Nesta terça-feira o presidente do FED, Jerome Powell, reiterou em discurso que a taxa de juros americana continuará subindo e que o processo desinflacionário começou. O banco central deve continuar com atenção nos indicadores macroeconômicos mensais. Por mais que o mercado esteja esperando uma pausa no ciclo de alta, os dados de emprego mais fortes do que esperado indicam a possibilidade de Powell ter um tom mais hawkish do que o da semana passada. Ele afirmou no discurso que a última reunião do FED passou a mensagem de que o processo é demorado, por isso acredita que o nível restritivo se manterá por mais tempo.

 Brasil

Houve a divulgação da ata do Copom da última reunião. O comunicado parece ter sido uma tentativa de encontrar convergências com o governo. A próxima reunião acontecerá antes da apresentação da proposta do novo arcabouço fiscal. Assim, os níveis de incerteza fiscal devem continuar altos até que essa proposta seja apresentada. O mercado está acreditando na manutenção da taxa Selic em 13,75% para o resto do ano.

A leitura do IPCA de janeiro registrou inflação de 0,53% m/m, um pouco abaixo da expectativa de 0,57% m/m, e mostra uma desaceleração em relação ao dado de dezembro. Essa desaceleração é, em parte, proveniente da dissipação das altas em bens industriais. Por outro lado, os responsáveis por manter o índice de preços no patamar positivo foram os combustíveis, alimentos e serviços subjacentes. O cenário de inflação para 2023 é desafiador com o principal vetor altista sendo a recomposição dos impostos federais sobre os combustíveis que deve acontecer em março. Além disso, as mudanças no arcabouço fiscal e o consequente aumento de prêmio de risco possivelmente irão dificultar a convergência da inflação para o centro da meta.

O setor varejista mostrou um arrefecimento de -2,6% m/m em dezembro, muito abaixo da expectativa de -0,8% m/m. Setorialmente o sentimento é misto, enquanto observamos dados positivos nos grupos de veículos e materiais de construção, os grupos que são impactados pelo aumento na inadimplência, elevado endividamento das famílias e continuidade do processo de substituição de bens e serviços recuaram. Para 2023, não é esperado que haja mudanças significativas no varejo. Os vetores positivos são o forte mercado de trabalho e o aumento do salário-mínimo. É necessário ainda ter cautela com os segmentos que dependem de financiamento, por conta do encarecimento do crédito e pela incerteza do cenário econômico à frente.

Essa semana começou a divulgação dos resultados do 4T22 das empresas brasileiras. O Itaú apresentou números em linha com o esperado pelo consenso. O lucro líquido recorrente do banco foi de R$ 7,7 bilhões, com um ROE de 19,3%. Isso representa uma queda de 5% t/t e 7% a/a, causado pelas provisões extras relacionadas à Americanas. A exposição restante a Americanas já foi contabilizada no balanço, o que significa que os números de 2023 aparecerão limpos, sem mais provisões necessárias. O guidance para 2023 implica em lucros de R$ 35,5 bilhões. A margem financeira bruta com cliente cresceu 5% t/t e 17% a/a por conta de volumes mais fortes e a taxa Selic média mais alta. O resultado do Itaú foi bem recebido pelo mercado.

O desempenho do Bradesco no 4T22 mostrou resultados fracos, com um ROE de 4%. O lucro líquido sofreu uma queda de 69% t/t e 76% a/a, ficando em R$ 1,6 bilhão e 60% abaixo das expectativas do BTG. Além disso, o lucro antes dos impostos foi negativo, impactado pelas provisões relacionadas á Americanas, as quais já foram totalmente contabilizadas. É importante salientar que o fraco desempenho não está apenas relacionado ao evento atípico da varejista, pois excluindo isso, o lucro antes dos impostos ainda estaria 20% abaixo das expectativas. O guidance para o ano sugere um lucro líquido de R$ 20 bilhões e ROE de 12,7%, 20% abaixo do que o consenso estima. O lucro antes dos impostos deve ficar 50% abaixo de seus pares no ano.

Os resultados da Klabin no 4T22 foram alinhados com o consenso do mercado, mas abaixo do potencial. O EBITDA foi de R$ 1,9 bilhão, 18% abaixo do trimestre anterior, apesar dos preços estarem estáveis. A demanda foi mais fraca levando a empresa a fazer paradas em algumas de suas unidades. Do lado positivo a empresa gerou um FCF de R$ 670 milhões no trimestre e conseguiu manter a alavancagem estável em 2,6x. Apesar do momento operacional negativo, a empresa tem um modelo de negócios robusto e deve continuar a entregar uma agenda de crescimento com geração de valor à frente.

 Ações Brasil

Nessa semana, com uma agenda mais esvaziada de dados econômicos, tivemos alguns discursos dos membros do FED, com destaque para Jerome Powell. No geral, como dito acima, os integrantes do BC americano reiteraram que o ciclo de alta pode ser mais longo que o planejado incialmente. Vale destacar o anúncio do corte da produção petrolífera russa, em resposta ao teto de preços imposto pelo Ocidente. No âmbito doméstico, a forte pressão do novo governo Lula sobre o Banco Central, com questionamentos sobre o patamar de juros, e rumores sobre a alteração da meta da inflação para 2023 foram fatores que movimentaram o mercado. Dado isso, o Ibovespa acumulou uma queda de 0,4%, fechando aos 108.078 pontos. Os melhores desempenhos da semana ficam para São Martinho, Cielo, Petrobras e Petro Rio enquanto os piores ficam para Alpargatas, Azul, Gol, Brasil Foods e Grupo Soma.

Dentre os destaques positivos, a elevação de recomendação e preço-alvo de São Martinho por parte do UBS e JP Morgan impulsionaram o papel. Segundo análise do JP Morgan, os preços do açúcar estão atraentes e o etanol passa por um aperto na oferta, além de uma reprecificação decorrente da volta da incidência de PIS/COFINS.

As petroleiras divulgaram suas prévias operacionais recentemente. A Petrobrás apresentou ótimos números, com crescimento na produção de pré-sal. Já a Petro Rio, atingiu uma produção de 50,8 mil barris de óleo equivalente por dia, aumento de 12,1% em relação a dezembro de 2022. Do total produzido em janeiro, mais de um terço corresponde a produção diária de Albacora Leste, campo que foi recém adquirido pela empresa. Além disso, a disparada do preço do barril Brent decorrente de possíveis cortes de produção por parte da Rússia também apoiaram a valorização das petrolíferas no geral.

O principal destaque negativo da semana fica para Alpargatas. Ontem, a empresa divulgou seu resultado do 4T22, que surpreendeu o mercado negativamente. A companhia reportou um prejuízo líquido de R$21 milhões, revertendo o lucro líquido de R$303 milhões na comparação com mesmo trimestre do ano anterior. Deve-se esse resultado, principalmente, aos ajustes nas operações internas, com despesas de reestruturação, e cenário macro desafiador dada sensibilidade do setor à Selic, pressionando no geral a dinâmica de receita. O mercado reagiu mal aos dados do varejo brasileiro, afetando também o setor de vestuário e consequentemente o preço de negociação dos papéis do Grupo Soma.

A agência Fitch (de classificação de risco de crédito) rebaixou o rating de crédito da Azul para CCC, ou seja, para perto do nível de calote. A companhia tem um volume substancial de dívidas de curto prazo e pode ter dificuldades de se refinanciar devido ao cenário de restrição na concessão de crédito oriundo do choque na cadeia gerado pelo caso da Lojas Americanas. Para as aéreas no geral, o aumento de custos resultante da valorização do dólar e uma Selic a 13,75%, que pressiona ainda mais as despesas financeiras, são fatores que impactam diretamente nas margens. Com isso, vemos um mercado pessimista com o setor, precificando esse cenário desafiador para os players.

A manutenção da Selic e uma inflação cedendo mais lentamente também contribuem negativamente para a Brasil Foods, composta majoritariamente pela Sadia e Perdigão. A alta alavancagem alinhada com esse aumento dos preços dos alimentos danificam o preço do papel. O recente terremoto na Turquia corrobora com essa perspectiva negativa dado que o país representa aproximadamente 6% da receita total da empresa, variando para mais de acordo com a magnitude das exportações. Não se pode prever o tamanho do impacto na operação, mas analistas acreditam que os resultados do 1T23 já reflitam esse acontecimento. É importante lembrar do release dos dados do 4T22 da Tyson Foods, que teve um trimestre abaixo do esperado, com corte das margens operacionais. Esse resultado afeta diretamente as expectativas para as empresas brasileiras que também têm operação nos EUA, como a própria BRF, Marfrig e outras do setor.

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