03/02/23

Análise da Semana - 30 de janeiro a 3 de fevereiro

 Global - Na quarta-feira houve a reunião do FOMC, a qual não trouxe surpresas quanto a decisão de elevação de 25 bps da fed funds rate, ficando entre 4,5% - 4,75%. Esse aumento representou uma desaceleração no ritmo do ciclo de alta. Todavia, o comitê passou a mensagem de que não deixariam de aumentar a taxa novamente se assim acharem necessário em março. Foi sinalizado que ainda não atingiram o patamar suficientemente restritivo para a desaceleração da inflação. Por isso, acreditamos que o ciclo de alta ainda não acabou.

O payroll teve uma leitura surpreendente, de 517 mil vagas criadas em janeiro, acima do que o mercado havia antecipado, 189 mil. O setor de serviços é destaque na leitura, com os subgrupos de educação, saúde e turismo respondendo por 45% da leitura. A taxa de desemprego saiu de 3,5% em dezembro para 3,4%, voltando para o menor patamar da série histórica. Por outro lado, o ganho médio por hora veio em linha com as expectativas, uma alta de 0,3% m/m.

 O ISM industrial de janeiro, índice que reflete a condição na indústria no mês, mostrou desaceleração maior do que a esperada pelo consenso. A leitura foi de 47,4 pontos, indicando que a indústria está, pelo terceiro mês seguido, em patamar de contração. Os integrantes do setor têm muita incerteza em relação à demanda, tendo em vista o ciclo de aperto monetário. De forma geral, a leitura mostrou a continuação da normalização da oferta.

O ISM de serviços, por outro lado, surpreendeu significativamente, ficando em 55,2 pontos vs. 50,5 pontos esperados pelo consenso. Dessa forma, o setor de serviços volta ao patamar de expansão. O destaque da leitura foram os indicadores de atividade e novos pedidos, que expandiram de forma relevante. Esse dado mostra a resiliência do setor, afastando a possibilidade de uma recessão no curto prazo.

A temporada de resultados americanos continua. A MetaPlataforms, controladora do Facebook, reportou números que surpreenderam positivamente Wall Street. A receita no 4T22 foi de US$ 32,17 bilhões, enquanto o mercado esperava US$ 31,53 bilhões. Entretanto, a receita teve uma queda de 4% t/t, marcando o terceiro declínio seguido. As quantidades de usuários ativos diários e mensais superaram as expectativas, junto com a receita média por usuário. Por outro lado, os custos permanecem altos, com aumento de 22% a/a, mesmo com as demissões. Mark Zuckerberg deu um guidance de que em 2023 ele quer focar em eficiência, com uma receita entre US$ 26 bilhões e US$ 28,5 bilhões, junto das estimativas de custos que foram reduzidas, refletindo positivamente nas ações da empresa.

A Apple apresentou uma receita de US$ 117,15 bilhões, o que representa uma queda de 5,5% a/a, enquanto o consenso esperava US$ 121,10 bilhões. Também tivemos uma surpresa com o lucro da empresa, que ficou abaixo das expectativas pela primeira vez em 7 anos, com um EPS de US$ 1,88 vs. US$ 1,95 estimado pelo mercado. Houve queda de receita em praticamente todos os segmentos da companhia, com destaque de -8,17% a/a na receita de iPhone e -28,66% a/a na receita de Mac. Por outro lado, compensando parcialmente essa queda, a receita de serviços cresceu 6,4% a/a e as receitas de iPad subiram 26,66% a/a com o lançamento de novos modelos. Segundo a empresa, o resultado aquém das expectativas pode ser explicado pelo dólar mais forte, que impacta negativamente a venda fora dos EUA e por problemas nas cadeias de suprimentos. O CFO tem a expectativa de manter o crescimento da receita em serviços no 1T23, enquanto a receita de vendas de iPhone e Mac devem cair em relação ao mesmo período do ano anterior.

A Alphabet apresentou um crescimento de receita de apenas 1% durante o trimestre, com um lucro líquido de US$13,62 bilhões, ou US$1,05 por ação, ambos abaixo do esperado pelo mercado. Estes números resultaram numa queda de 1,93% em seu lucro por ação em função de uma menor demanda de clientes buscando anunciar em suas plataformas de busca online. A empresa anunciou a demissão de 12.000 pessoas, refletindo em um custo de indenizações para o semestre atual entre US$ 1,9 bilhão e US $2,3 bilhões. A CFO disse que a Alphabet não vai deixar de contratar funcionários, principalmente das áreas de engenharia e focando na presença global da marca.

A Amazon reportou US$ 149 bilhões em vendas, valor 9% acima da expectativa do mercado. Porém, a empresa apresentou uma queda substancial do seu lucro líquido no período, US$ 300 milhões, número muito abaixo se comparado ao resultado do 4T21, de US$ 14,3 bilhões. Esse resultado no trimestre inclui a perda não operacional de US$ 2.3 Bilhões no valor das ações da Rivian Automotives, comparado com o ganho de US$11.8 bilhões no 4T21. O aumento de 8,6% a/a na receita foi impulsionado pela América do Norte, com aumento de 13% a/a, enquanto o resto do mundo caiu 7,2% a/a.

Por fim, a Pfizer chamou atenção ao divulgar os resultados no final de 2022. Seu lucro líquido teve um aumento de 47% em relação ao ano anterior, com um lucro por ação de US$ 1,14, acima do esperado e mais de US$ 100 bilhões em vendas anuais, a maior receita da história. Porém, a queda de venda de vacinas será maior do que a expectativa do mercado, e a companhia espera ver uma queda nas vendas em 2023 antes de subir no ano seguinte, 2024.

Brasil

Como esperado, o Copom manteve a taxa básica de juros em 13,75%, como esperado pelo mercado. A decisão foi acompanhada por uma comunicação mais dura quando comparada às últimas reuniões, expressando preocupação com o distanciamento das expectativas de inflação para horizontes mais longos. Assim, ficou bem claro que o comitê pretende manter a taxa Selic no mesmo nível por mais tempo do que o previsto anteriormente. As críticas feitas pelo governo à meta de inflação e a manutenção de um cenário fiscal incerto está ocasionando um movimento de desancoragem das expectativas, com uma expectativa de cortes na taxa de juros cada vez mais distantes. O Relatório Focus espera o primeiro corte, de 25 bps, na antepenúltima reunião de 2023.

 O CAGED de dezembro apresentou uma leitura de encerramento de 431 mil novos postos, 100 mil a mais do que esperado pelo consenso. Esse fechamento é decorrente da sazonalidade e o arrefecimento da atividade econômica causada pela política monetária. Dessa forma, foram abertas 2 milhões de vagas em 2020, vs. 2,7 milhões em 2021. Em 2023 a criação de empregos deve continuar em ritmo de arrefecimento, tendo em vista a atividade econômica. Além disso, o BTG espera que esse ano tenhamos uma taxa média de desemprego de 8,2%, ainda em nível historicamente baixo.

 Ações Brasil

Nessa semana movimentada e adversa, tivemos a divulgação de alguns dados econômicos tanto nacionais quanto globais, além da continuidade temporada de resultados corporativos de grandes empresas americanas e brasileiras. Em meio a tantos releases, podemos ressaltar o da Meta (Facebook), Alphabet (Google), Microsoft, Apple e Santander. No âmbito econômico, decisões de juros dos Estados Unidos e Bloco Europeu, com respectivos aumentos de 0,25% e 0,5% na taxa de juros e a manutenção da Selic em 13,75% por parte do Banco Central do Brasil. Vale ressaltar o CAGED do Brasil e o Payroll dos EUA, que veio muito acima do que o mercado previa. Nesse contexto, o Ibovespa acumulou uma queda de 3,23%, fechando aos 108.523 pontos. Os melhores desempenhos da semana ficam para Petz, Natura, São Martinho, Arezzo e Cogna enquanto os piores ficam para CVC, Raízen, Assaí, JBS e Eletrobras.

Dentre os destaques positivos, a Petz continua com uma demanda resiliente. O papel sofreu bastante nos últimos tempos dado patamar de juros, sendo essa alta mais relacionada a um respiro do papel. Vale ressaltar que a demanda de curto prazo continua pressionada para o setor de consumo discricionário como um todo. Ainda assim, a Petz alcançou o objetivo de crescimento de 2022 e o mercado espera que a companhia continue crescendo.

Para Natura, os rumores de possíveis avanços nas negociações da venda da Aesop resultaram no rally evidenciado na semana. De acordo com o Itaú BBA, o desinvestimento da Aesop poderia beneficiar a Natura pois desalavancaria a companhia e traria o P/L para níveis mais confortáveis. Os principais players interessados são o grupo LVMH e a L’Oreal, além da Shiseido também estar estudando uma oferta de compra da marca.

Acreditamos que o efeito “stock picking” de setor pode ter impulsionado Arezzo na semana. Deve-se isso ao fato de produtos premium serem mais capazes de repassar a inflação e, portanto, menos prejudicados pelo cenário macro. O mercado também viu com bons olhos a aquisição da Vicenza, dado que é uma operação consolidada, com mais de trinta anos de atuação no mercado de calçados e bolsas. É importante lembrar que qualquer alívio na curva futura de juros também impacta no papel dada sensibilidade à mesma.

O grande destaque negativo da semana ficou para CVC. A empresa de turismo sofreu um ajuste após forte alta registrada na semana passada. O mercado e os investidores também repercutem a desistência de compra da Ōner, startup de viagens. Essa aquisição seria um bom driver para a digitalização da empresa, além de adicionar novos canais de distribuição a sua atual operação.

Ao que tudo sinaliza, um veículo de investimentos da Louis Dreyfus Company, uma das principais comercializadoras e processadoras globais de produtos agrícolas vendeu sua participação na Raízen essa semana. Esse veículo possuía 24,32% das ações preferenciais da companhia, que foram leiloadas no pregão de quarta-feira. Uma das hipóteses para esse desinvestimento está ligada as turbulências macroeconômicas que cercam o setor de combustíveis, dada incerteza regulatória e tributária nesse novo governo. Com isso, o papel negociou em mínimas históricas e teve um aumento significante no free float.

A crítica, em carta ao congresso, e a evidente oposição do novo governo ao processo de privatização da Eletrobrás trouxe volatilidade para as ações. Segundo o Credit Suisse, uma possível reversão do processo seria cara e traria consequências extremamente negativas para o setor.

A queda do dólar e um cenário mais desafiador nesse ano para o setor de “atacarejo” foram fatores que impactaram respectivamente os papéis de JBS e Assai. Não vemos nenhum ponto negativo para o atacadista pois é vencedor dentre os concorrentes e os resultados futuros devem permanecer sólidos.

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