Em julho os números de venda do varejo e produção industrial na China voltaram a decepcionar, ficando abaixo do estimado pelos analistas. O primeiro subiu 2,5% a/a, enquanto esperava-se um aumento de 4,5% a/a representando a evolução mais fraca do varejo desde dezembro. A produção industrial cresceu 3,7% a/a, também abaixo dos 4,4% a/a esperado pela Reuters. Esse desempenho motivou o corte inesperado de algumas das principais taxas de empréstimo pelo Banco Popular da China.
O setor imobiliário chinês sofreu a 17° queda mensal em julho, com uma perda acumulada de 8,5% no primeiro semestre do ano em relação ao mesmo período do ano anterior. Esse dado é de extrema importância tendo em vista que o segmento, junto do setor de construção representa 25% do PIB do país. Gigantes imobiliárias do país estão enfrentando dificuldade financeira, apresentando prejuízo e até mesmo deixando de pagar suas dívidas. Isso acontece pois os preços dos imóveis vêm caindo e há uma demanda enfraquecida no mercado. Na semana passada uma das maiores empresas do mundo, segundo a Forbes, a incorporadora Country Garden, deixou de pagar juros de suas dívidas, tendo agora 30 dias para pagar ou declarará default. A Evergrande, outra gigante do setor, pediu proteção à falência essa semana. Isso mostra que a China passa por um momento de fragilidade econômica.
A ata do FOMC mostrou que o comitê enxerga uma melhora nos dados recentes, mas permanece com o balanço de riscos negativos para o crescimento. A desaceleração econômica do país é uma resposta aos efeitos cumulativos da política monetária, mas a equipe do Fed não enxerga mais a possibilidade de recessão no país. Apesar do mercado de trabalho ainda estar aquecido, existem sinais de que a demanda e a oferta estão entrando em equilíbrio, com uma queda de número de vagas abertas, redução nos pedidos de demissão e moderação nas taxas de crescimento dos salários nominais. Os gastos das famílias também continuam resilientes, mas o aumento adicional de 25 bps deve contribuir para um crescimento mais lento do consumo. O setor imobiliário é o principal risco inflacionário para 2024, tendo em vista a falta de oferta de imóveis existentes. Acreditamos que o FOMC irá realizar mais um ajuste de 25 bps em setembro, atingindo o patamar de 5,50%-5,75% e permanecendo assim, pelo menos no curto prazo.
Essa semana acabou a temporada de resultados dos EUA referentes ao 2T23. De maneira geral, a maioria dos releases superaram as estimativas do mercado, segundo a Bloomberg. Mesmo assim, foi observada uma desaceleração de 6,9% a/a no ritmo de vendas. Além disso, os lucros das empresas também foram menores, com uma queda de aproximadamente 5,2% a/a e marcando o maior declínio desde 2020. Esses resultados corroboram com a perspectiva de uma economia desacelerando mesmo que em um ritmo menor do que o mercado esperava.
Brasil
O IBC-Br, índice utilizado como uma proxy do PIB, teve um desempenho melhor do que o esperado em junho. A leitura indicou uma variação positiva de 0,63% m/m depois de uma queda de 2% m/m em maio. A surpresa pode ser atribuída a um comércio mais acelerado, impulsionado pelas políticas do governo para o mercado de automóveis, serviços crescendo e a atividade industrial andando de lado. Com esse dado, espera-se que o PIB do 2T23 também seja acima do esperado.
O volume de vendas no varejo no país caiu 1% m/m em maio. Na comparação anual a queda teve a mesma magnitude, sendo a primeira taxa negativa depois de nove meses de altas. Dessa forma, o indicador acumulado no ano atinge +1,3%. A leitura representou uma surpresa positiva, dado que o consenso Refinitv esperava estabilidade na comparação mensal. As atividades pesquisadas tiveram um desempenho dividido, metade registrou queda e a outra metade subiu. Entre aquelas que recuaram o destaque vai para o setor de hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, com um declínio de 3,2%.
A Magalu apresentou resultados fracos no segundo trimestre de 2023, com prejuízo líquido mais uma vez. Apesar de ter crescido 6% a/a, o GMV (Gross Merchandise Volume) foi 1,6% abaixo da expectativa do BTG e ficou no valor de R$ 14,7 bilhões. A receita de serviços foi um destaque positivo, com aumento de 26% a/a e impulsionou a margem bruta a chegar em 28,8%. As despesas SG&A marcaram 22,4% da receita líquida e ficaram 1% acima do esperado pelo BTG, sendo que as provisões para devedores duvidosos cresceram R$ 46 milhões no ano a ano, e atingiram R$ 105 milhões. O EBITDA foi 10% abaixo do esperado, com valor ajustado de R$ 160 milhões, com -R$ 155 milhões de despesas não recorrentes. A Magalu reportou um prejuízo antes dos impostos de R$ 412 milhões e um prejuízo líquido ajustado de R$ 199 milhões, vs. a projeção do BTG de R$ 160 milhões, ainda impactados pela deterioração dos resultados financeiros devido à taxa Selic ainda alta e aumento nos descontos de recebíveis no 2T.
Os resultados de Magalu tem sido pressionados no curto prazo devido a: (i) crescimento mais lento do GMV online dado à sua exposição a categorias altamente cíclicas como eletroeletrônicos e eletrodomésticos, significando margens menores, (ii) fraco desempenho das lojas físicas continuando a pressionar a rentabilidade, (iii) impacto do aumento das taxas de juros no Brasil (levando a maior inadimplência) nos resultados da Luizacred, (iv) maior custo de captação para desconto de recebíveis, impactando o resultado financeiro e o lucro líquido. Embora a empresa deva se beneficiar pelos cortes nas taxas de juros no Brasil ainda vemos um processo lento de recuperação.
Mercados
Nessa semana, os mercados permaneceram no campo negativo, repercutindo as preocupações com a saúde da economia Chinesa e taxas de juros globais mais elevadas. No âmbito internacional, a ata do FOMC e dados desanimadores da China foram os principais drivers de preço. No Brasil, investidores de olho na proxy do PIB de volume de vendas no varejo doméstico.
Em linhas gerais, a Ata do FOMC indicou que a alta de juros ainda não acabou. A perspectiva de inflação persistente aliada a essa nova visão de mais uma alta de juros nos EUA em novembro fez a rentabilidade do principal título de renda fixa americano (US 10 Year Treasury) subir e chegar a patamares de 4,30%. Além de tirar atratividade das ações, dado uma elevada taxa livre de risco, a alta do T-10 pesa nos balanços das empresas, pois aumenta o custo de capital como um todo. Nesse sentido, as principais bolsas americanas realizaram após a divulgação do comunicado do FED e fecharam a semana no vermelho.
Desde o começo de agosto, o Ibovespa vem perdendo valor e na última quinta-feira (17/08), completou treze pregões seguidos no campo negativo. A China segue responsável por parte do astral negativo dos últimos pregões, entre dados decepcionantes e risco do setor imobiliário. Por outro lado, temos os rendimentos dos Treasuries americanos nos maiores níveis em quinze anos, resultando num déficit de fluxo estrangeiro na B3 e consequentemente uma desvalorização do real em relação ao dólar. Portanto, pode-se dizer que os acontecimentos internacionais vêm contribuindo para essa negatividade vigente no mercado doméstico.
O Ibovespa apresentou bastante volatilidade na semana com comodities e vencimento de opções sobre ações no Brasil e Estados Unidos. Assim, acumulou uma desvalorização de 2,25% na semana e fechou o pregão de sexta-feira aos 115.408 pontos. O destaque do noticiário corporativo foi a renúncia e consequente troca do CEO da Eletrobrás. Com a renúncia de Wilson Ferreira Jr., o conselho logo nomeou Ivan Monteiro como sucessor, um nome experiente e com trânsito político. Vale destacar que essa troca se deu num momento em que a Eletrobras sofre pressão do atual governo, nitidamente contrário à privatização da companhia.
O real perdeu mais valor em relação ao dólar e a curva de juros brasileira inclinou, ou seja, os vencimentos curtos demonstraram um pequeno respiro e os médios e longos estressaram com a curva reprecificando o prêmio de risco doméstico após ruídos políticos e a questão em torno da política de preços dos combustíveis. Além disso, o fluxo no índice foi negativo com influência do exterior e investidores dando continuidade ao movimento de realização de lucros visto desde o começo do mês. Em suma, os mercados foram atingidos nessa semana pela perspectiva de uma persistência inflacionária e rendimentos dos títulos americanos em níveis elevados.
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