25/08/23

Análise da Semana - 21 a 25 de Agosto de 2023

Economistas acreditam que a incerteza externa deve começar a arrefecer nos próximos meses. Os dois principais fatores que corroboram com esse cenário são a acomodação dos juros longos americanos e a desaceleração da inflação nos EUA. Os juros longos no país subiram acentuadamente nos últimos meses, de forma que gerasse aversão ao risco e uma maior volatilidade nos mercados globais, entretanto economistas acreditam que os juros longos devem se acomodar nos próximos meses, reduzindo a incerteza. Além disso, a inflação elevada também contribui para incerteza, mas a maioria dos economistas acredita que o índice de preços começará a arrefecer logo. Se tudo isso realmente acontecer irá ajudar na recuperação dos mercados globais. De qualquer forma, a queda da incerteza não significa que os riscos não irão mais existir, ainda existe a possibilidade de eventos inesperados que podem causar turbulência no mercado.

 O índice de gerentes de compras, o PMI, composto apresentou um recuo de 3,1% m/m, atingindo 50,4 pontos e decepcionando o consenso que esperava estabilidade no mês. Dessa forma, o índice está no patamar mais baixo dos últimos seis meses. O PMI específico de serviços também atingiu o nível mais baixo do último semestre, saindo de 52,3 pontos em julho para 51 pontos em agosto, enquanto a projeção que o indicador se mantivesse. O PMI industrial também veio abaixo do esperado, esperava-se uma alta de 0,6% m/m e foi observado uma queda de -4,01% m/m. As empresas relatam que a demanda está cada vez mais devagar devido ao alto nível de preços. Essa estagnação da atividade comercial possivelmente já é uma resposta aos efeitos defasados da política monetária restritiva do Fed.

O PMI composto da zona do euro caiu para 47 pontos em agosto ante 48,6 pontos em julho, representando a pior leitura em 33 meses. Esse resultado está não apenas abaixo da expectativa do consenso de 48,8 pontos, mas também abaixo do nível de expansão de 50 pontos. Do lado de serviços, o índice saiu de 50,9 pontos para 48,3 pontos, ficando em nível contracionista pela primeira vez desde o final do ano passado, o nível mais baixo em trinta meses. Já do lado da indústria, o indicador saiu de 42,7 pontos para 43,7, surpreendendo positivamente. Com esses números, analistas acreditam que a zona do euro deve encolher 0,2% no terceiro trimestre.

Jerome Powell fez um discurso hoje no Jackson Hole, encontro dos bancos centrais ao redor do mundo que discute eventos mundiais e tendencias financeiras, adotando uma postura hawkish. O presidente do Fed explicitou em seu discurso que reconhece os avanços da política monetária feitos até aqui, mas reafirma a necessidade de se manterem vigilantes com a inflação. Mais uma vez, foi destacada a necessidade do “higher for longer”, indicando que a taxa de juros americana deve continuar em um patamar alto ainda por algum tempo para que a inflação volte para a meta. Além disso, Powell deixou em aberto a possibilidade de mais aumentos de juros caso o comitê entenda ser necessário.  

O resultado da Nvidia do segundo trimestre do ano foi bem acima das projeções. A empresa retificou sua liderança entre os negócios de inteligência artificial e anualmente foi a melhor performance entre as empresas do S&P500, com alta de 222,44%. A sua receita aumentou 49,9% a/a, atingindo US$ 13,5 bilhões, cerca de 22,3% acima da expectativa do mercado, performance acima até mesmo do consenso mais otimista de Wall Street. A Nvidia mostrou quanto a alocação de aproximadamente US$ 1 trilhão em infraestrutura de data-center foi capaz de impulsionar a estruturação de computadores no geral. Por sua vez, o lucro líquido subiu 79,3% a/a e foi de US$ 6,7 bilhões, subindo mais do que a receita no ano a ano e salientando que a empresa, e o setor em geral, foram capazes de aumentar suas margens. Os principais analistas que cobrem a empresa estão revisando suas projeções e target prices para cima. Existem ainda algumas dúvidas por parte dos analistas sobre a continuidade desse boom relacionado ao setor de tecnologia e inteligência artificial.

Brasil

O IPCA-15 acelerou 0,28% m/m em agosto, depois de uma deflação de 0,07% m/m em julho. A leitura foi acima dos 0,17% m/m esperados pela Reuters. Dessa forma, a variação do índice foi de 4,24% nos últimos 12 meses. Dentre os nove grupos de produtos e serviços pesquisados, setes deles apresentaram uma variação positiva em seus preços. O destaque foi o grupo de habitação que contribuiu com 0,16 pontos percentuais no resultado do período, o maior impacto dentro dessa categoria foi proveniente da alta da energia elétrica residencial.  Por outro lado, o grupo de alimentação e bebidas apresentou deflação, influenciado principalmente pelo subgrupo de alimentação no domicílio que já estava registrando recuo nos últimos meses.

Mercados

Nessa semana, os mercados se mantiveram mistos, monitorando o FED, repercutindo uma recuperação das commodities e reiterando a confiança do mercado americano no setor de tecnologia. No âmbito internacional, PMI dos EUA, Jackson Hole e a extensão de estímulos ao setor imobiliário por parte do órgão regulador chinês foram os principais drivers de preço. No Brasil, investidores de olho no exterior e no IPCA-15, a prévia do índice de preços ao consumidor de agosto.

O IPCA-15 de agosto veio um pouco acima do consenso e decepcionou o mercado doméstico. Assim, a prévia de agosto resultou em um estresse na curva de juros brasileira na comparação diária. A ponta curta e média da curva balançou mais, justamente por terem maior sensibilidade a mudanças nas perspectivas de corte da Selic. Mesmo que o indicador de serviços tenha demonstrado uma composição benigna, os números de hoje não corroboraram com a perspectiva de que o BC acelere o ritmo dos cortes juros no curto prazo e fizeram com que investidores desmontassem posições que apostassem na intensificação da flexibilização vigente.

O discurso de Jerome Powell no evento de Jackson Hole gerou bastante volatilidade nos índices acionários, que amanheceram essa sexta-feira no positivo e depois viraram. Assim, a curva americana também estressou com os yields precificando o fato de que é possível que tenham mais aumentos na taxa à frente. Na bolsa de Chicago, a probabilidade implícita na curva de elevação dos juros em 25 bps em novembro aumentou para 47%, ante 42,2% ontem.

Na China, mercado ganhou fôlego passageiro com a notícia de que o país flexibilizou regras de compras de imóveis para estimular demanda e impulsionar o setor imobiliário. Dadas as crescentes especulações de que a siderúrgicas chinesas aumentarão a produção antes do período de recuperação habitual da atividade de construção civil, o minério de ferro também suspirou e voltou a subir, chegando perto do maior nível de preço em um mês.

Com exterior nebuloso e um respiro das commodities, o Ibovespa ficou praticamente de lado e fechou a semana aos 115.700 pontos. O destaque corporativo fica para o resultado da Nvidia, que apresentou um segundo trimestre excelente. Em linhas gerais, o lucro superou todas as expectativas e a perspectiva otimista à frente reforça ainda mais a confiança do mercado no setor de Tecnologia (especificamente AI). As gigantes desse nicho de mercado têm mostrado resiliência e potencial de crescimento mesmo em tempos incertos, o que vêm de certa forma, chamando a atenção dos investidores.

O dólar perdeu força frente ao real e a curva de juros brasileira apresentou um alívio na comparação semanal, com a proposta do arcabouço fiscal fluindo na câmara. O Ibovespa apresentou um fluxo majoritariamente negativo e volume vendedor. Mesmo assim, as sessões positivas de quarta e quinta-feira conseguiram sustentar o índice, que fechou a semana no positivo. Dados os últimos pronunciamentos e números de inflação, vemos tanto o investidor brasileiro quanto o americano recalibrando as expectativas acerca das trajetórias das políticas monetárias dessas economias, em que certa parte de um excessivo otimismo começa a ser eliminada.

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