A temporada de resultados nos EUA continua. A Alphabet divulgou seus resultados apresentando uma surpresa negativa para o mercado. O crescimento da receita no 3T22 perdeu o ritmo, ficando em 6% a/a vs 41% a/a no ano anterior. Com exceção de um período durante a pandemia, esse foi o pior período desde 2013. A maior parte da receita da companhia vem de publicidade e foi exatamente esse segmento que teve uma performance abaixo do esperado pelo consenso, com uma receita de US$ 54,5 bilhões ficando 4,4% abaixo da expectativa. As receitas de cloud, entretanto, compensaram parcialmente esses resultados mais fracos de publicidade, mostrando números 4% mais fortes do que havia sido estimado. Os demais segmentos vieram em linha. Assim, as receitas totais da Alphabet foram de US$ 69,1 bilhões, com margem bruta de 54,9%, 149 bps abaixo do esperado pelo consenso.
A Amazon também apresentou um resultado abaixo das expectativas, prejudicando a projeção da companhia para o próximo trimestre. A receita e o lucro da empresa vieram em linha com as expectativas, porém o resultado da Amazon Web Services (AWS) cloud foi mais fraco do que o esperado. A receita de vendas apresentou um crescimento de 15% a/a, US$ 127,1 bilhões. Enquanto isso, a receita da AWS aumentou 27%, aproximadamente 15,6% abaixo do que o mercado havia antecipado. Apesar disso, o lucro por ação foi de US$ 0,28, ficando acima do consenso. Foi divulgado também que esperam uma receita de US$ 144 bilhões para o 4T22, representando uma surpresa negativa, já que o mercado prevê US$ 155 bilhões de receita no próximo período.
A Microsoft divulgou seus números, mostrando um desempenho misto em relação as expectativas. O maior destaque da divulgação foi o lucro líquido no trimestre, o qual foi US$ 17,5 bilhões, representando uma alta de 4,9% t/t, porém com uma queda anual de 14,4%. O faturamento no trimestre teve o menor crescimento trimestral nos últimos cinco anos, muito influenciado pela valorização do dólar. A divisão de computação pessoal foi o segmento que mais impactou negativamente o faturamento, - 7,1% t/t, tendo em vista a queda de vendas de PCs e notebooks e, consequentemente, nas vendas de licenças do sistema operacional Windows. Mesmo com os resultados mistos, ainda temos uma visão positiva da tese de investimentos quando comparada a outras empresas de tecnologia.
Na contramão das demais Big Techs, a Apple apresentou um bom resultado no 3T22, levemente acima do esperado. Apesar das vendas de iPhone terem sido um pouco mais fracas do que a expectativa, foi compensado pelo bom desempenho nas vendas de Mac. A receita total de vendas no trimestre foi US$ 90,1 bilhões, representando um crescimento de 8% a/a. Além disso, o lucro teve um salto de 4%, sendo de US$ 1,29 por ação, pouco acima do esperado. No geral, as vendas aumentaram 8% nas Américas, quase 10% na Europa e 6% na China, enquanto no Japão caiu 5%. Entretanto, a receita foi prejudicada pela taxa de câmbio.
Os resultados das empresas americanas estão mistos, mostrando que o cenário atual está complexo, sem uma clareza dos impactos da inflação e do aumento de juros e crescimento da economia.
O banco Credit Suisse Group AG reportou uma perda de US$ 4 bilhões no terceiro trimestre, incluindo uma baixa contábil aproximada de US$ 3 bilhões, relacionada à reestruturação. A empresa vem sendo prejudicada nos últimos anos por uma série de acontecimentos, incluindo o colapso da Archego Capital e do Greensill Capital. Os planos que a companhia tem para se reerguer são: (i) corte 9 mil funcionários em três anos, (ii) um enxugamento de seu banco de investimentos e (iii) venda de ativos. Essa reestruturação será financiada por um novo investidor da Arábia Saudita. Entretanto, os investidores não consideraram essas medidas suficientes.
O PIB dos EUA no 3T22 teve um avanço de 2,6% t/t, depois de dois trimestres de recuo. O saldo positivo da balança comercial teve uma contribuição de 2,77% da leitura. Esse dado não traz grandes surpresas, tendo em vista a desaceleração dos grupos de consumo, por conta do arrefecimento na demanda, e a manutenção do ímpeto no setor de serviços. Projeta-se um crescimento do PIB de 1,8% em 2022, com isso, a decisão do FOMC em dezembro não tem muito espaço para ser diferente do que o esperado pelo consenso, ou seja, um aumento de 75 bps.
Brasil
A Vale apresentou um trimestre decepcionante, com resultados abaixo do esperado. O EBITDA da empresa foi de US$ 4 bilhões, representando uma redução de 28% t/t e 13% abaixo das expectativas do BTG. Esse resultado é atribuído principalmente pelo custo de extração do minério de ferro que veio mais alto do que o projetado e pelos custos altos de frete. Os resultados dos metais básicos se mantêm abaixo do potencial. Além disso, a gestão mudou o cálculo da dívida líquida expandida e, assim, a empresa terá mais flexibilidade para ações mais agressivas no retorno de caixa futuro. Continuamos com a recomendação de compra da ação, tendo em vista que a economiza chinesa deve melhorar aos poucos ao longo de 2023.
A Vamos, por outro lado, teve o resultado recorde, já batendo as metas de investimento para o ano. O lucro líquido da empresa foi de R$ 150 milhões, representando um crescimento de 34,7% a/a e 5,3% t/t. O EBITDA também teve um crescimento impressionante de 90,2% a/a, registrando uma cifra de R$ 554,3 milhões. No fim do trimestre a companhia tinha uma frota de 30 mil caminhões e 8 mil máquinas, tudo isso avaliado em R$ 9,4 bilhões, mostrando um avanço de 89,2% a/a. Esse crescimento é fruto do plano de expansão da empresa que atua em um segmento que ainda não possui concorrentes relevantes.
Na reunião do Copom desta semana foi decidida a manutenção da taxa básica de juros, permanecendo em 13,75%, como esperado pelo mercado. O comitê está optando pela cautela, tendo em vista as incertezas em relação a política fiscal. As novidades provenientes da reunião foram a sinalização de um ritmo de crescimento mais moderado, além de um aumento nas expectativas de inflação nos próximos anos. A expectativa continua sendo de que os cortes na Selic comecem a acontecer no começo do 2S23.
O IPCA-15 de outubro apresentou inflação depois de dois meses deflacionários, registrando um índice de 0,16% m/m, ainda maior do que a expectativa do mercado. Essa surpresa se deu principalmente por conta dos segmentos de alimentação no domicílio, transportes, vestuário e comunicação. Sendo assim, espera-se que o IPCA de outubro tenha também uma leitura positiva. Acreditamos que deve haver uma melhora nos gargalos produtivos gerando uma inflação mais baixa no curto prazo. Entretanto, ainda encaramos riscos altistas tendo em vista a incerteza política e fiscal.
O IGP-M de outubro teve sua terceira deflação consecutiva, apresentando uma deflação de -0,97% m/m. Essa leitura representou uma contração no nível de preços maior do que o esperado. Esse movimento foi motivado pelas quedas nos preços de adubos e fertilizantes, óleo diesel, cana-de-açúcar, leite in natura e algodão. No curto prazo, ainda existe uma tendência baixista por conta dos preços das commodities no cenário internacional, principalmente para os preços ao produtor. O ponto de atenção é o câmbio, já que a desvalorização do real pode pressionar os preços no mercado interno.
Em setembro foram criadas 278 mil vagas de emprego no país, mostrando desaceleração em relação ao mês de agosto. Dessa forma, temos um saldo de 2,1 milhões de vagas criadas no ano até agora. Esse dado se dá principalmente pelos setores de serviços e comércio, os quais representam aproximadamente 64% da leitura. Sendo assim, espera-se que o dado de criação de vagas no 3T22 seja forte. No último trimestre deve haver uma perda de ímpeto. Corroborando com essa leitura, o desemprego no Brasil recuou para 8,7%, sendo a sétima queda consecutiva no indicador. Na comparação anual, o desemprego sofreu uma queda de 3,9% a/a.
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