A novidade na semana foi a divulgação do CPI, índice de inflação americana abaixo do esperado, resultando numa alta expressiva de +5,5% no S&P 500 e +7,4% no Nasdaq. Os investidores começam a considerar uma taxa final de juros abaixo de 5%, o que pode iniciar um movimento mais positivo para o mercado de bolsa. Considerando o P/E 2023E do S&P 500 em torno de 16x e o P/E 2023E do Ibovespa de 10x, deve começar um momento, analisando a relação de risco/retorno, no qual a bolsa americana vai ficar mais atrativa que a brasileira.
O CPI, índice de preços ao consumidor dos EUA, avançou 0,4% em outubro, 20 bps abaixo do consenso. O dado se manteve estável em relação ao mês anterior, mesmo com uma aceleração nos preços do setor de energia. Por outro lado, o núcleo apresentou um arrefecimento em relação a setembro, +0,3% m/m. As principais contribuições baixistas no núcleo foram os setores de serviços, bens duráveis e saúde. Mesmo com essa melhora na leitura, alguns itens não mostram que há espaço para um afrouxamento no ciclo de aumento da taxa de juros americana.
Brasil
Após as eleições o mercado estava neutro, aguardando maiores definições do novo governo. Entretanto, o pouco compromisso fiscal demonstrado por integrantes da nova equipe, aliado à indefinição da equipe econômica, causou um dia de stress e realização nos mercados brasileiros, com queda de -3,4% no Ibovespa e alta de +4,1% no dólar. Estamos adotando uma posição mais conservadora para os nossos clientes em relação à bolsa brasileira, e enquanto não houver uma sinalização clara do novo governo na direção de uma política fiscal responsável, iremos manter a posição mais cautelosa.
A temporada de resultados continua no Brasil. O Iguatemi apresentou bons números no 3T22, com um crescimento de 70% a/a do FFO (Funds from Operations), ficando no nível de R$ 0,33/ação. A receita da empresa foi de R$ 270 milhões, representando um crescimento de 37% a/a. Esse aumento se deu especialmente pelo crescimento nos aluguéis. Além disso, o EBITDA também apresentou um crescimento de 33% a/a, ficando em R$ 183 milhões. Vale também ressaltar que os indicadores operacionais foram sólidos, o crescimento de vendas nas mesmas lojas (SSS) foi de 19,6% a/a e houve também um aumento de 35,7% a/a do aluguel nas mesmas lojas. Fora isso, o índice de inadimplência foi de 0,7% no período e a taxa de vacância caiu 250 bps, ficando em 6,8%. Dessa forma, reiteramos compra de Iguatemi.
A 3R Petroleum apresentou números fracos, apesar de continuar com bons fundamentos. Os preços mais baixos do petróleo no trimestre, os maiores custos de extração e despesas pré-operacionais do campo Papa-Terra resultaram em uma desaceleração t/t do EBTIDA, que alcançou R$ 193 milhões, o esperado era R$ 250 milhões. Por outro lado, o lucro líquido da companhia foi de R$ 470 milhões, 130% acima do esperado pelo BTG, proveniente de ganhos de hedge não recorrentes. Acredita-se que os altos custos possam ser persistentes no próximo trimestre, causados pela incorporação e início de operação de novos campos. Entretanto, não podemos esquecer que a empresa conseguiu construir um portfólio forte com múltiplos de entrada baixos e tem custos muito competitivos. Tudo isso sugere uma tese de investimentos robusta e temos uma visão positiva em relação a empresa.
A Eletrobras reportou um resultado fraco, porém em linha com as expectativas. Os números refletem as mudanças estruturais provenientes da privatização. O EBITDA foi de R$ 1,83 bilhão, prejudicado por diversas provisões e impactos do IFRS na transmissão. Ao ajustar a métrica por esses fatores, foi possível observar um EBITDA 2% acima da projeção do BTG Pactual. Além disso, foi observado um prejuízo líquido decorrente de itens não recorrentes. Mais uma vez, ajustado para os elementos pontuais o lucro líquido foi de R$ 1,09 bilhão, em linha com as expectativas. O resultado mostrou também que a empresa teve um avanço em relação a redução da exposição aos preços de energia. Enxergamos a empresa como umas das principais do setor.
Os números operacionais reportados pela Simpar vieram em linha com a expectativa de mercado. Entretanto, o lucro líquido foi impactado por despesas financeiras mais altas do que o esperado. A receita líquida foi de R$46,9 bilhões, registrando um aumento de 74% a/a, EBITDA de R$ 1,9 bilhão, representando um crescimento de 66% a/a e, em direção oposta, o lucro líquido foi de R$ 111 milhões, uma queda de 71% a/a. Mesmo com as preocupações em relação a alavancagem, as três principais empresas da holding, Vamos, Movida e JSL divulgaram resultados sólidos no 3T22. O modelo de negócios da companhia é resiliente e seu valuation está barato. Sendo assim, reiteramos compra mesmo com a recente queda.
O 3T22 da Santos Brasil foi levemente acima do consenso. A receita líquida teve um salto de 32% a/a, totalizando R$ 522 milhões e o EBITDA foi de R$ 215 milhões, com um crescimento de 42% a/a. Gerando uma margem EBITDA de 41%, versus 38% no mesmo período em 2021. O lucro líquido ficou em R$ 110 milhões, pouco acima do esperado. Esse resultado mostra o bom desempenho da empresa no curto prazo em todos os segmentos e no posicionamento de preços. O cenário continua favorável para melhora operacional e crescimento dos lucros. Continuamos otimistas com a empresa.
Magazine Luiza teve um trimestre de resultados fracos, tendo em vista a queda de 10% no e-commerce brasileiro no período. Fora isso, as operações das lojas físicas foram impactadas pelas pressões inflacionárias, com as vendas nas mesmas lojas caindo 3,6% a/a, já o volume bruto de mercadorias subiu 2,6% a/a, abaixo da expectativa do BTG Pactual. Entretanto, a lucratividade da companhia está melhorando e tem uma tendência de fluxo de caixa saudável. A margem bruta subiu 320 bps a/a e a margem EBITDA ajustado ficou em 6%, +190 bps. Magalu reportou um prejuízo líquido de R$ 146 milhões, acima do esperado pelo mercado, muito impactado pela alta taxa Selic no período. Esses resultados fracos estavam dentro das previsões e espera-se que a ação continue volátil nos próximos meses.
Bradesco apresentou um resultado extremamente decepcionante no período. O lucro líquido recorrente do banco teve uma queda de 25% t/t, ficando em R$ 5,2 bilhões, representando uma surpresa negativa de 20% em relação a expectativa do mercado. Desconsiderando o 1S20, pior momento da pandemia, o ROE do trimestre foi o mais baixo nos últimos 10 anos, 13,5%, ante 18,1% no 2T22. Esse resultado ter sido, em parte, causado por questões cíclicas, entretanto, não podemos excluir a possibilidade de que existam problemas estruturais, o que explicaria a diferença de desempenho entre seus peers. Além disso, Bradesco está muito exposto a microempresas e pessoas de baixa renda quando comparado com seus pares, e o declínio dessas carteiras foi mais forte do que o esperado, fazendo com que houvesse uma piora da inadimplência. O banco comunicou que os resultados devem continuar fracos nos próximos trimestres, justamente por conta da piora da qualidade de crédito. Dado que Itaú apresentou um bom resultado, ficou uma dúvida grande sobre o que está ocorrendo com o Bradesco, e quando deve voltar para uma normalidade.
O resultado do Itaú não apresentou surpresas para o mercado. O lucro líquido recorrente foi de R$ 8,1 bilhões, registrando uma variação de +19% a/a e um ROE de 21%. Por outro lado, os empréstimos não produtivos, ou seja, inadimplência, subiram, mas já mostram sinais de estabilização. Depois dos números desastrosos do Bradesco e do Santander, o resultado do Itaú se mostrou forte. Em linhas gerais, foi observado um trimestre muito bom. Esse desempenho superior aos seus pares privados se dá pela maior exposição aos segmentos de alta renda e grandes empresas, o que fornece uma maior proteção no ambiente atual. Dessa forma, desempenho distinto do banco deve ser estrutural.
Em outubro, o IPCA registrou inflação de 0,59% m/m, acima das expectativas de mercado, de 0,49% m/m. Depois de três meses consecutivos de deflação, a surpresa inflacionária foi proveniente do setor de combustíveis, por conta do menor impacto e bens industriais. Até o final do ano as leituras devem continuar apresentando preços positivos, porém em níveis mais baixos do que no primeiro semestre deste ano.
Em setembro, o setor do varejo apresentou uma surpresa positiva tanto para o restrito quanto para o ampliado. Em relação ao varejo restrito, foi observado um crescimento de 1,1% m/m, enquanto o consenso esperava +0,2% m/m. Já no ampliado, o resultado foi de +1,5% m/m vs. +0,7% m/m da expectativa de mercado. No final do ano espera-se que o setor continue com esse sentimento mais brando em relação à serviços. Isso, porque a taxa de juros alta deve segurar os segmentos dependentes de crédito.
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