A rentabilidade das bolsas americanas e brasileiras foram negativas essa semana, com Ibovespa -4,3% e S&P500 -2,1%. No Brasil, grande parte do movimento foi explicado pela falta de confiança no novo governo, principalmente após o episódio da MP do Mercadante, a qual tem a intenção da quebra da Lei das Estatais. Além disso, as incertezas em relação as políticas fiscais do governo Lula fizeram com que a curva de juros abrisse consideravelmente e o mercado sinalizasse preocupação em relação a inflação nos próximos anos.
Já nos EUA, o discurso de Powell na reunião do FOMC fez o mercado reagir negativamente. Isso porque foi sinalizado que o fed funds rate deve se manter alto por mais tempo. O discurso, embora indique uma economia ainda aquecida e com riscos inflacionários, não elimina temores de uma recessão e gera ainda mais incertezas sobre o comportamento da economia americana no próximo ano.
Global
Houve no decorrer da semana a reunião do FOMC, na qual foi decidido o aumento de 50 bps da fed funds rate, como previsto pelo mercado, alcançando o intervalo de 4,25%-4,50%. Powell, presidente do FED, afirmou que acredita não estarem ainda em patamar restritivo e voltou a dizer que pretender manter a taxa elevada por mais tempo. Ele faz questão de reiterar que a estabilidade de preços é o principal foco do FOMC e ainda é um ponto de atenção para o comitê. Mesmo com uma leitura de surpresas positivas do CPI, o PCE segue alto. Sendo assim, as projeções para a fed fund rate para 2023 foram atualizadas, aumentando para 5,1%, tendo em vista a revisão altista da inflação.
O CPI, inflação ao consumidor dos EUA, avançou 0,1% m/m, 20 bps abaixo do consenso e mostrando desaceleração em relação a leitura do mês anterior. Essa surpresa se deu principalmente por conta de uma maior deflação em carros usados e passagens aéreas. No núcleo também houve uma surpresa positiva, registrando 0,2% vs 0,3% esperado pelo mercado. De maneira geral, observa-se desaceleração em componentes importantes dentro de serviços e bens duráveis. Ainda não acreditamos que haja espaço para amenizar o tom hawkish, já que os dados econômicos seguem trazendo surpresas positivas e, portanto, o balanço de riscos não mudou.
Os dados de atividade econômica nos EUA de novembro mostraram continuidade no movimento de desaceleração. No varejo foi observada uma surpresa negativa, com leitura de -0,6% vs. -0,2% esperado pelo consenso. 9 dos 12 grupos sofreram impactos negativos da inflação, possibilidade de recessão nos próximos 12 meses e o aumento dos juros. Na indústria, o resultado foi de -0,2% contra 0,0% da expectativa de mercado, com um arrefecimento disseminado entre os grupos. Nos próximos meses espera-se que as leituras mais fracas se mantenham, tendo em vista a queda da confiança dos consumidores e dos empresários, somado ao aperto monetário.
O PMI, índice de atividade econômica para dezembro nos EUA, apresentou uma desaceleração. O dado composto, ou seja, que agrega indústria e serviços, saiu de 46,1 pontos em novembro para 44,6 pontos no mês corrente, contra uma expectativa de 47 pontos. A surpresa foi decorrente da queda nos “novos pedidos”, que atingiram o menor nível em mais de dois anos. A desaceleração tem ênfase no setor industrial, o que já era esperado tendo em vista o processo de aceleração da taxa de juros. Esse dado junto do ISM, corrobora com uma projeção do PIB americano para o 4T22 é de 2,04% t/t.
Brasil
Na ata do Copom publicada essa semana, o comitê reforçou que as decisões fiscais do governo podem impactar a inflação de diversas formas. Em tom mais duro, foi dito que as políticas que o novo governo está sinalizando devem reduzir a eficiência da política monetária. Depois de um debate sobre os impactos dessas medidas na inflação em diversos cenários, chegou-se à conclusão de que o efeito depende muito da combinação e magnitude das políticas fiscais e parafiscais. Além disso, a mediana das expectativas de inflação do mercado aumentou para 2023, a preocupação, entretanto, é com o aumento da média das expectativas para 2024. De qualquer forma, a projeção para o 2S24 ainda é compatível com a estratégia de convergência para o redor da meta.
Especulações sobre a nomeação de Aloizio Mercadante, político afiliado ao PT, para presidente do BNDES estressou o mercado durante a semana. Essa nomeação significaria a quebra da Lei das Estatais, a qual estabelece algumas regras em relação as empresas estatais entre elas a proibição de nomeação de pessoas filiadas a partidos políticos para fazer parte do conselho administrativo ou cargos de diretoria. Essa lei foi criada justamente para que pudessem definir regras mais claras em relação a essas empresas, reduzindo a corrupção dentro delas e melhorando a gestão. Por isso, o presidente eleito mostra intenções de modificar essa lei ainda no início do ano que vem. Essa notícia traz muitas incertezas em relação ao governo Lula, tornando justificável o estresse do mercado, com alta do dólar e dos juros.
O volume de serviços no mês de outubro teve uma queda de 0,6% vs -0,2%, representando uma surpresa negativa. Essa leitura aconteceu principalmente pelos dados fracos de serviços prestados às famílias. Nas próximas divulgações, apesar de ainda haver um vetor positivo tendo em vista a melhora da renda mensal das famílias, mercado de trabalho forte e sazonalidade positiva, o aperto das condições financeiras deve promover desaceleração para os próximos meses.
O IBC-Br de outubro, índice utilizado como proxy do PIB mensal no Brasil, teve uma leitura de -0,1% m/m enquanto o mercado esperava uma alta de 0,5% m/m. Na análise setorial é possível observar que todos os grupos de varejo e indústria apresentaram dados mais fracos e em serviços houve queda, mostrando um cenário de desaceleração da atividade econômica no 4T22. O principal responsável pela surpresa, entretanto, foram os setores de materiais de construção e veículos, tendo em vista o encarecimento do crédito. Vale ressaltar que parte dessa leitura é proveniente das extensivas promovidas na série histórica. Nos próximos meses do ano espera-se que a atividade econômica continue no processo de desaceleração por conta do aperto monetário e da economia global enfraquecida.
Ações Brasil
Em uma semana marcada pela aprovação da modificação da lei das estatais na câmara e pelo vencimento de opções, que acaba gerando mais volatilidade na bolsa como um todo, o Ibovespa acumulou uma queda de -4,3%, fechando aos 102.855 mil pontos.
Os melhores desempenhos da semana ficam para Minerva, Duratex, Cielo, Petrorio e SLC Agrícola enquanto os piores ficam para Gol, Magazine Luiza, Natura, CVC e Petrobras.
Dentre os destaques positivos, a correção de mercado após quatro semanas de quedas consecutivas e a dinâmica favorável do preço do boi gordo para as margens de Minerva contribuíram para a alta do papel. Fora isso, a atualização de recomendação para “Buy” do case de Cielo pela UBS e o anúncio de JCP animou os investidores, resultando no rally evidenciado.
Já nos destaques negativos, a aprovação da modificação na lei das estatais pela câmara, que reduz o tempo de quarentena necessário para que indivíduos que participaram de campanhas eleitorais assumam cargos em empresas estatais, foi malvista pelo mercado, impactando no preço da ação da Petrobras justamente pela governança, que é o principal fator que entra em risco. Fora isso, dada as novas perspectivas fiscais e econômicas para 2023, o mercado continua precificando um cenário difícil para os setores de consumo, ocasionando, portanto, em maiores desvalorizações para papéis como Gol, Magalu, Natura e CVC.
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