A ata da última reunião do FOMC mostrou que o comitê se surpreendeu positivamente com a atividade econômica, ou seja, veio abaixo do esperado apesar de ainda estar preocupado com a dinâmica da inflação. Sendo assim, como foi comunicado na reunião, a intenção de elevação da taxa de juros e de sua manutenção em um nível alto por mais tempo, são as estratégias para atingir o equilíbrio entre oferta e demanda. O comitê, entretanto, não deu qualquer tipo de sinalização em relação a decisão que deve ser tomada na próxima reunião, em fevereiro. O consenso está dividido entre um aumento de 25 bps ou 50 bps.
O ISM Industrial, índice de atividade industrial dos EUA, apresentou arrefecimento em dezembro, ficando em 48,4 pontos e em linha com o consenso, contra os 49 pontos do período anterior. Esse dado significa que o setor continua em patamar de contração, isto é, abaixo de 50 pontos. De maneira geral, a leitura mostra que a normalização da oferta continua, como um reflexo da desaceleração esperada da demanda à frente.
O ISM de Serviços apresentou uma leitura abaixo do consenso, de 49,6 pontos vs 56,5 pontos esperados. Esse dado representa uma surpresa negativa tendo em vista que o anterior foi de 55 pontos, fazendo com que o setor saísse do patamar de expansão. Os principais indicadores responsáveis pela queda foram os de atividade e de novos pedidos. Esse movimento provavelmente aconteceu como uma consequência do aumento dos juros.
O payroll de dezembro mostrou o aumento de 223 mil empregos, acima dos 202 mil esperados pelo consenso. Dessa forma, o ano encerra com a criação de 4,5 milhões de vagas, com uma média de 375 mil vagas por mês. Mesmo com a diminuição do ritmo, os dados permanecem bem acima do nível histórico de 125 mil vagas por mês. Nesse sentido, a taxa de desemprego foi de 3,7% para 3,5%, retornando para o menor patamar da série histórica. Já o indicador de ganho médio por hora apresentou um recuo de 4,6% a/a, abaixo do esperado pelo mercado. Esses indicadores corroboram com o cenário de mercado de trabalho apertado. Todos esses fatores mencionados nos trazem um sentimento misto de queda na atividade econômica ainda com um mercado de trabalho apertado, fazendo com que as expectativas do BTG da taxa terminal de juros nos EUA fiquem entre 5%-5,25%, acima do que o consenso espera atualmente.
Brasil
A produção industrial em novembro apresentou uma contração de -0,1% m/m, menor do que os -0,2% esperados pelo consenso. Comparado a outubro, a leitura teve um caráter mais positivo, apresentando avanço nas leituras de 15 dos 26 conceitos pesquisados. Em 2023, projeta-se um setor industrial mais enfraquecido por conta do aperto das condições financeiras e pelo cenário também fraco globalmente. Para o último trimestre de 2022, caso não haja crescimento em dezembro a indústria deve recuar 0,5% t/t e a expectativa para 2023 é de uma queda de 0,3%.
Após um início confuso, as lideranças do novo governo estão buscando uma melhor coordenação na comunicação e no tom dos discursos do alto escalão com o objetivo de passar uma melhor mensagem para os mercados. Também está sendo dada uma sinalização de que a revisão de reformas não está em pauta nesse momento. Apesar desta pequena melhora na coordenação e na comunicação ainda recomendamos cautela nos investimentos.
Ações Brasil
Em uma semana de muita volatilidade, marcada pelas posses do novo governo, divulgação de dados econômicos dos EUA e a ata do FOMC, o Ibovespa acumulou uma baixa de -0,7%, fechando aos 108.963,70 pontos. Os ativos que tiveram o melhor desempenho da semana foram Gafisa (GFSA3), Enjoei (ENJU3), CSN Mineração (CSNA3), Lojas Americanas (AMER3) e Qualicorp (QUAL3), enquanto os piores desempenhos ficaram para ClearSale (CSLA3), Traders Club (TRAD3), São Martinho (SMTO3), Positivo (POSI3) e Raízen (RAIZ4).
Dentre os destaques positivos, a polêmica do aumento de capital da Gafisa com um dos seus acionistas resultou em um fenômeno de mercado conhecido como short squeeze. Basicamente, isso acontece quando quem está vendido é obrigado a recomprar sua posição (se zerar) e as ações disparam. Shorts squeezes podem acontecer por dois motivos. O primeiro deles é uma forte pressão compradora que faz com que a posição vendida chame margem, obrigando o investidor a recomprar o papel. Outro motivo é a escassez de contratos de aluguel, impossibilitando a manutenção da posição vendida e induzindo a compra. Com muitos compradores e fundos tendo chamada de margem, o preço da ação disparou e ocasionou a valorização do papel. Fora isso, o aumento do preço do aço no mercado internacional decorrente da flexibilização das medidas de isolamento social na China contribuiu para o otimismo e valorização dos papéis da CSN. Ademais, a redução na percepção de risco do novo governo, que demonstrou recentemente uma centralização dos posicionamentos econômicos e políticos, aliviou a curva de juros e impulsionou setores mais sensíveis a Selic. O anúncio de mudanças na gestão na Qualicorp foi bem-visto pelo mercado, justificando a alta do papel no período.
Já para as piores performances, vale destacar a extensão da isenção de impostos sobre combustíveis por mais dois meses, o que pode desencadear uma queda mais acentuada nos preços do etanol. Essa renovação da medida que venceu no final do ano passado impactou empresas ligadas a produção do insumo, como São Martinho e Raízen. Por mais que dois meses possam ser insignificantes para os resultados anuais das companhias, deve-se atentar aos possíveis riscos oriundos da gestão do novo governo, como repentinas mudanças regulatórias e tributárias no setor.
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