O CPI, índice de inflação ao consumidor nos EUA, apresentou uma queda de -0,1% m/m em dezembro, em linha com as expectativas, representando uma desaceleração em relação ao dado de novembro, +0,1% m/m. Dessa forma, o índice encerra 2022 com uma alta de 6,5% a/a. A deflação em dezembro foi influenciada por uma forte queda nos preços de energia, consequência do arrefecimento no preço do petróleo no mês. Entretanto, o núcleo apresentou uma alta de 0,3% m/m, que, apesar de em linha com o consenso, não teve uma composição boa. Isto é, os segmentos de serviços e aluguéis apresentaram uma alta acima do esperado, as quais foram compensadas por deflação em outros segmentos. Dessa forma, o CPI trouxe um sentimento levemente negativo, com as surpresas altistas de alguns componentes do núcleo. Tendo em vista as últimas leituras do índice de preços ao consumidor, os sinais de desaceleração da atividade econômica e os dados mais moderados em ganho médio, o FOMC pode estar inclinado a diminuir o ritmo de alta dos fed fund rates, o que não significa que o ciclo irá também diminuir ou que a preocupação com a inflação americana acabou.
Essa semana iniciou a temporada de divulgação de resultados nos EUA. O JP Morgan apresentou um lucro líquido de US$ 11 bilhões, ou U$ 3,57 por ação, muito além das expectativas de US$ 3,08 por ação. Além disso, a receita foi de US$ 34,5 bilhões, em linha com a projeção de US$ 34,35 bilhões. Tanto a receita quanto o lucro líquido cresceram na comparação anual, sendo de US$ 29,26 bilhões e US$ 10,4 bilhões respectivamente. O lucro com operações em juros aumentou 48% a/a, se beneficiando da política monetária do Fed. Por outro lado, o segmento de investment banking teve uma queda de 57% na receita, sofrendo com o declínio de deals em 2022, já que o aumento na taxa de juros tornou as negociações mais difíceis. O resultado positivo veio acompanhado de uma visão levemente pessimista do CEO Jamie Dimon em relação à economia americana. Eles veem uma leve recessão como caso central no seu cenário macroeconômico. Por isso, o banco registrou uma provisão de US$ 2,3 bilhões para perda de crédito no trimestre, maior do que a estimativa, sendo uma antecipação para inadimplência esperadas no futuro.
O Citi Bank apresentou uma retração de 21,9% a/a no lucro líquido do 4T22, ficando em US$ 2,5 bilhões, ou US$ 1,16 por ação. A receita, por outro lado, subiu 6% na comparação anual, ficando em US$ 18 bilhões, pouco acima das projeções de US$ 17,9 bilhões. Esses resultados estão em linha com a previsão de Wall Street. Esses números estão relacionados com o custo de crédito no trimestre de US$ 1,8 bilhões, enquanto no mesmo período de 2021 o custo de crédito era negativo.
Brasil
O IPCA de dezembro mostrou uma inflação de 0,62% m/m, acima dos 0,44% m/m esperados pelo consenso. Essa surpresa é proveniente de uma reversão maior do que o imaginado das promoções de Black Friday. Os segmentos que impulsionaram essa leitura foram de bens industriais, bens semiduráveis e não duráveis. Apesar de parte da surpresa ser decorrente de itens voláteis, o núcleo da inflação também acelerou de 0,33% m/m para 0,66% m/m. Para 2023, além do fim da política de desoneração tributárias de 2022 em março, as políticas fiscais do novo governo devem complicar a convergência da inflação para o centro da meta. Com esse dado, o IPCA encerra 2022 com uma alta de 5,79%.
O setor de varejo no Brasil em novembro apresentou uma surpresa negativa, registrando uma leitura de -0,6% m/m vs. -0,4% m/m esperado pelo consenso. Na análise setorial, os setores com performance positiva estão concentrados entre aqueles que foram beneficiados pela Black Friday, enquanto os setores que tiveram o movimento contrário foram impactados pelo aumento na inadimplência e o alto endividamento das famílias. O BTG não espera uma mudança significativa no cenário do segmento para 2023.
O volume de serviços de novembro apresentou estabilidade em relação a outubro, sendo também uma surpresa negativa, já que o mercado esperava uma aceleração de 0,2% m/m. A leitura foi bastante heterogênea, com alta em 6 dos 12 grupos pesquisados. Os destaques altistas foram aqueles beneficiados pela Copa do Mundo e Black Friday, mais especificamente outros serviços prestados às famílias, serviços audiovisual, transporte aquaviário e transporte aéreo. Para 2023 espera-se que o setor se mantenha como um vetor positivo tendo em vista o mercado de trabalho fortalecido e o aumento da massa salarial real. Já o aperto das condições financeiras deve contribuir negativamente para o avanço do setor.
O IBC-Br de novembro, índice usado como proxy do PIB, apresentou um arrefecimento de -0,6% m/m, abaixo das expectativas do mercado de -0,3% m/m. Setorialmente, todos os segmentos apresentaram leituras mais fracas, com resultados negativos em indústria e varejo. Esse resultado se deve ao alto nível de juros que, consequentemente, encarece o crédito. Assim, para 2023 espera-se um sentimento de crescimento mais brando, isso porque, além do aperto econômico, temos também um cenário de desaceleração da economia global e incertezas em relação ao arcabouço fiscal do governo eleito.
Ações Brasil
Em uma semana marcada pelo release do CPI americano de dezembro, resultados dos principais grandes bancos americanos, escândalo nas Lojas Americanas e a apresentação de um pacote econômico fiscal por parte de Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o qual busca reduzir o déficit esperado para cerca de R$100 bilhões em 2023, o Ibovespa acumulou uma alta de 1,78%, fechando aos 110.916,08 pontos. Os maiores desempenhos da semana ficam para Magazine Luiza (MGLU3), 3R Petroleum (RRRP3), Minerva (BEEF3), Petro Rio (PRIO3) e Pão de Açúcar (PCAR3) enquanto os piores ficam para Lojas Americanas (AMER3), Hapvida (HAPV3), Brasil Foods (BRFS3), Rede D’or (RDOR3) e Yduqs (YDUQ3).
Dentre os destaques positivos, pode-se ressaltar Petro Rio e 3R Petroleum. Ambas as empresas apresentaram aumento da produção em dezembro de 2022, mas o highlight fica para 3R, que obteve produção recorde com início dos trabalhos no campo Papa Terra. Além do mais, a valorização do preço do barril de petróleo em função da expectativa de reabertura da China também contribuiu para a valorização das petroleiras nessa semana. Essa flexibilização das políticas de covid na China combinada com a atualização da recomendação do JP Morgan para compra de Minerva e a apresentação ao mercado de proposta de redução do capital social pelo grupo Pão de Açúcar foram outros pontos favoráveis para essas companhias.
Já nos destaques negativos, o anúncio feito ao público por parte das Lojas Americanas, em que foram descobertas inconsistências no balanço da companhia que somavam aproximadamente R$ 20 bilhões, assustou o mercado e o papel chegou a cair aproximadamente 77% no pregão de quinta-feira, dia 12/01/2023. Em suma, o ocorrido gira em torno da conta “fornecedores”, em que os financiamentos decorrentes da compra de estoque e mercadorias eram contabilizados na conta de fornecedores e não reconhecidos como despesas financeiras nos balanços da companhia. Com isso, pode-se concluir que a dívida bancária da empresa é muito maior do que a apresentada atualmente e a grande questão agora se baseia em qual será o custo adicional dessa dívida e os possíveis impactos na empresa como um todo. Ademais, é de suma importância distinguir o desempenho de Magazine Luiza dos destaques positivos dado que estamos céticos com o setor de varejo como um todo e não existem garantias de que essa e outras empresas também tenham práticas contábeis mais agressivas. Apesar de podermos pensar que problemas na Lojas Americanas podem favorecer os concorrentes, no sentido de ganharem fatia de mercado, a questão foi tão relevante que pode impactar negativamente no setor de forma geral, levantando dúvidas se as demais empresas não teriam problema semelhante e implicando em dificuldade de obter crédito, custos mais altos de financiamentos e revisão em todas as práticas contábeis.
Fora isso, a onda de corte de recomendações de ações do setor de saúde repercutiu em Hapvida e Rede D’or, influenciando diretamente os papéis. Para Hapvida em especial, analistas veem desafios para integração da companhia após aquisições realizadas e têm visão mais cautelosa sobre as margens após resultado do 3T22. Acreditamos também que a demanda fraca de mercado, a forte concorrência e perda de produtividade na produção sejam fatores desfavoráveis para a Brasil Foods, que detém as marcas Sadia e Perdigão.
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