20/01/23

Análise da Semana - 16 a 20 de janeiro

 Global

O PPI, índice de preços ao produtor, teve uma leitura de -0,5% m/m em dezembro, uma surpresa positiva para as pressões inflacionárias, tendo em vista que o consenso esperava uma desaceleração de -0,1% m/m. Os principais vetores de queda foram alimentos e energia, contando com a desaceleração dos preços das commodities. Para 2023 espera-se que os preços ao produtor continuem a se acomodar como consequência da desaceleração econômica global e a normalização dos gargalos produtivos. Contudo, ainda se observa riscos altistas provenientes da reabertura da economia chinesa e pela previsão de menor oferta de energia no segundo semestre. Esse dado corrobora com a expectativa da desaceleração do ritmo do ciclo de alta de juros, passando de 50 bps para 25 bps em fevereiro.

A leitura dos dados da atividade econômica dos EUA de dezembro mostrou uma atividade mais fraca do que a expectativa. No varejo houve queda em 12 dos 13 grupos pesquisados, influenciado pelo encarecimento do crédito junto da manutenção da inflação e o declínio da confiança dos consumidores. Do lado da oferta, a indústria sofreu quedas em manufatura e mineração. Dessa forma, varejo fechou o trimestre 1,8% abaixo do esperado e na indústria houve uma surpresa 1,0% menor no mesmo período. Nos próximos meses devemos continuar observando dados mais fracos tanto do lado da demanda quanto do lado da oferta.

A temporada de resultados continua nos EUA. O Goldman Sachs apresentou os piores números desde a pandemia e abaixo da expectativa do mercado, tendo em vista as condições econômicas piorando com os apertos monetários. A receita foi de US$10,54 bilhões, em linha com o esperado, enquanto o lucro por ação de US$3,32 foi muito aquém do que os US$5,48 estimados. O banco teve a pior estimativa de ganhos em dez anos, com aumento de despesas e queda de receita. Muito disso é explicado pela desaceleração do número de negócios no banco de investimentos e na gestão de recursos. Os IPO’s caíram 94% por causa de uma maior aversão ao risco do mercado. Para atenuar o problema, anunciaram o corte de 2.300 funcionários, representando 6,5% da equipe global.

O resultado do Morgan Stanley mostrou uma surpresa positiva. A receita do banco foi de US$ 12,7 bilhões, contra os US$ 12,54 bilhões esperados pelo consenso, o lucro por ação foi de US$1,31, pouco acima dos US$ 1,29 estimados. O resultado positivo foi influenciado pelo recorde na receita de gestão de patrimônio, que teve um aumento de 6% a/a, e pelo aumento dos negócios de trading. De qualquer forma, os números vieram piores do que os registrados no mesmo período no ano anterior, causados pelo impacto negativo que o aperto monetário teve nos IPO’s, emissões de dívidas e ações, fazendo com que a receita do banco de investimento caísse 49%.

A Netflix também divulgou seus resultados, apresentando dados melhores do que as expectativas. A quantidade de assinantes da plataforma cresceu em 7,7 milhões, muito além do que a empresa projetava. A receita foi em linha com o esperado, subindo 1,8% a/a e ficando em US$ 7,85 bilhões. Já o lucro foi abaixo do esperado, sendo US$ 0,12/ação, contra US$ 0,55/ação esperado por Wall Street. Para o próximo trimestre a projeção da companhia é de uma receita de US$ 8,2 bilhões e um lucro de US$ 2,82/ação. Além disso, também é esperado um crescimento modesto para o período.

Na França está acontecendo um grande movimento social, o qual levou mais de 1 milhão de pessoas para as ruas para manifestar a insatisfação em relação a proposta do governo de aumentar a idade de aposentadoria. Os protestos estão acontecendo em diversas cidades, como Paris, Tolouse, Nantes, Nice e Marselha, impactando o funcionamento de voos, escolas, trens e empresas no país. O governo de Emmanuel Macron quer exigir que os cidadãos trabalhem até os 64 anos, dois anos a mais do que na legislação vigente hoje em dia para que possam receber pensão completa do estado. Essa proposta foi pensada para combater o déficit dos fundos de pensão na França.

Brasil

A taxa de desemprego no Brasil registrou a nona queda seguida no trimestre móvel encerrado em novembro, ficando em 8,1% e em linha com o consenso. Esse dado representa uma queda de 3,8% a/a. A composição do dado mostra que o movimento de aceleração do rendimento médio continua, mas que ainda há espaço para crescer, já que está 2,5% abaixo do observado em fevereiro de 2020. Ademais, observou-se a abertura de 98 mil vagas no setor formal e o fechamento de 66 mil postos no setor informal. Para 2023 o cenário positivo do mercado de trabalho é incerto, isso por conta do efeito do aperto econômico que deve impactar a atividade no 1S23.

O presidente Lula criticou esta semana a ideia de um Banco Central independente, o que não faz sentido. A função dos Bancos Centrais é proteger a moeda nacional e garantir a estabilidade da economia. Não adianta nada ter uma taxa de juro baixa se não houver credibilidade no combate à inflação. A consequência final desse processo é um aumento nas taxas de juros de longo prazo, impactando negativamente os investimentos. Se o BC tiver autonomia para cumprir sua função, contribuirá para o crescimento sustentável do país.

Ações Brasil

Em uma semana marcada pelo vencimento de opções na B3, divulgação do índice de preços do consumidor dos EUA (PPI), PIB da China, resultados de grandes bancos e big techs americanas e dados de desemprego no Brasil, o Ibovespa acumulou uma alta de 1,02%, fechando aos 112.040,64 pontos. Os melhores desempenhos da semana ficam para Banco do Brasil (BBAS3), Magazine Luiza (MGLU3), 3R Petroleum (RRRP3), Petrobras (PETR3) e Rede D’or (RDOR3) enquanto os piores ficam para Lojas Americanas (AMER3), Qualicorp (QUAL3), CVC (CVCB3), Braskem (BRKM5) e Suzano (SUZB3).

Dentre os destaques positivos, a aprovação da distribuição de 40% dos lucros em dividendos por parte do Banco do Brasil foi o headline para a valorização do papel. Ainda vemos um risco político no case, mas um anúncio desse calibre minimiza desconfianças com o novo governo. Fora isso, o efeito Americanas alinhado a uma certa volatilidade foi o driver para a valorização dos papéis da Magalu, dado que o mercado continua precificando que uma Americanas enfraquecida pode beneficiar seus pares direto.

O mercado continua ainda processando a notícia do recorde de produção em dezembro de 2022 divulgada pela 3R Petroleum. Além disso, o salto do preço do barril decorrente da expectativa de maior demanda global em 2023 dado PIB chinês mais forte no 4T22 foi muito positivo para as petroleiras no geral, refletindo diretamente nas cotações dos papéis.

O Bank of America revisou as estimativas em relação aos números de Rede D’Or, projetando expansão da margem EBITDA, redução de despesas e do capital regulamentar, animando os investidores.

Já nos destaques negativos, o case envolvendo as Lojas Americanas foi o que seguiu nos holofotes. Nessa semana, a empresa entrou com um pedido de recuperação judicial após reconhecer a incapacidade de pagar a dívida estimada em 43 bilhões de reais. De acordo com especulações, dado patamar da Selic atual, a capacidade de geração de caixa da companhia não seria suficiente nem para arcar com as despesas dos juros, tampouco com o montante principal da dívida, o que de fato deixou a administração da companhia sem muitas opções. Esse processo de RJ pode causar cautela na concessão de crédito por parte dos bancos, o que deve impactar os fornecedores da cadeia de varejo como um todo. Além disso, permite à varejista um prazo de 180 dias de respiro em relação as suas obrigações de passivo, porém deve-se apresentar uma versão preliminar do plano de recuperação em até 60 dias. Vale ressaltar que as Lojas Americanas terão seus papéis excluídos de todos os índices da bolsa, incluindo o Ibovespa. Isso ocorrerá, pois, companhias em processo de recuperação judicial não são elegíveis de participação em nenhum índice da B3, reduzindo ainda mais a liquidez do papel.

O Goldman Sachs atualizou a recomendação de Qualicorp para “neutra”, com corte de 50% no preço-alvo. O cenário macro e inflação persistente combinados a uma maior concorrência e custos médicos ainda em alta levam a um movimento fraco de lucros no curto prazo com fracas adições líquidas. Ademais, esse recente rally dos preços do barril de petróleo, que pode encarecer os combustíveis de aeronaves no curto prazo e a previsão de queda do preço da celulose para esse ano foram fatores negativos para CVC e Suzano.

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