Essa semana foi divulgado o livro bege, documento que detalha uma visão sobre as condições econômicas nos 12 distritos do Fed. Nele foi relatado que o crescimento nos preços nos EUA desacelerou nos últimos dois meses, puxado pela desinflação de produtos manufaturados e bens de consumo. Além disso, os preços de matérias-primas desaceleraram a um ritmo mais suave diante da dificuldade das empresas em repassar os custos ao consumidor, de forma que as margens de lucro caíram em vários distritos. Por outro lado, o mercado de trabalho continua desequilibrado, tendo em vista uma oferta de mão de obra reduzida. Além disso, o crescimento econômico no período entre o começo de julho e final de agosto foi moderado. De maneira geral, a desaceleração da economia é desafiada pelo mercado de trabalho ainda apertado.
O PMI de serviços nos EUA subiu de 52,7 pontos em julho para 54,4 em agosto. Essa leitura foi acima da previsão de uma queda para 52,5 pontos. Dessa forma, o índice continua em patamar de expansão. Houve um aumento na taxa de crescimento do setor tendo em vista as altas em todos os quatro subíndices que influenciam o PMI. De maneira geral, o sentimento entre os entrevistados está positivo em relação as condições econômicas e empresariais.
O PMI de serviços da China saiu de 54,1 pontos em julho para 51,8 pontos em agosto. Mesmo ainda estando acima dos 50 pontos, que divide o nível de expansão do nível de contração, esse é o menor nível do indicador em oito meses. Segundo a S&P Global, essa desaceleração está relacionada com o fraco volume global de novos negócios. Por outro lado, o PMI industrial subiu de 49,2 pontos em julho para 51,0 em agosto, ocasionado por uma recuperação na indústria de transformação. Dessa forma, o PMI composto caiu de 51,9 para 51,7 em um mês.
O volume de vendas no varejo na zona do euro recuou 0,2% m/m em julho e na comparação anual observamos uma queda de 1%. A leitura representou uma surpresa negativa, tendo em vista que o consenso esperava uma desaceleração mais branda, de 0,1% m/m. Entre os Estados-membros, as maiores quedas no comércio varejista foram registradas na Dinamarca, Irlanda, Holanda e Luxemburgo. Por outro lado, os países com as altas mais significativas foram Portugal, Suécia e Chipre. Na análise setorial, houve retração principalmente nas vendas de combustíveis e nas lojas de alimentos, bebidas e tabaco.
Brasil
A produção industrial brasileira caiu 0,6% m/m no mês de julho, acima dos -0,3% m/m esperados pelo consenso. Já na comparação anual, o índice registrou uma queda de 1,1%, interrompendo dois meses consecutivos de taxas positivas. Em três das quatro grandes categorias e 15 dos 25 ramos pesquisados dentro da indústria registraram resultados negativos. Os bens de capital e bens de consumo duráveis correspondem aos setores com as mais acentuadas taxas negativas no mês.
Mercados
Nesse começo de setembro, os feriados do Labor Day nos EUA na segunda-feira e o de Independência no Brasil na quinta-feira reduziram a liquidez dos mercados, que se mantiveram no campo negativo nessa semana. Os destaques internacionais incluem dados da zona do euro, Livro Bege e números da balança comercial dos EUA, bem como a inflação e PMI de serviços chinês. No Brasil, investidores monitorando a produção industrial de julho e o envio do projeto da Lei Orçamentária Anual de 2024 para o Congresso Nacional.
O PMI (índice de gerente de compras) do setor de serviços dos Estados Unidos acelerou e ficou acima do consenso. Na visão dos agentes de mercado, o número fomentou a hipótese de juros altos por mais tempo nos EUA e pressionou os yields dos Treasuries e demais ativos de risco, como as bolsas americanas. Segundo o livro bege, a suavização dos preços de manufaturados e bens de consumo vem contribuindo para o arrefecimento da inflação, mas na contraparte ainda existe um mercado de trabalho desproporcional. Nesse cenário, a probabilidade implícita na curva de manutenção de juros na próxima reunião do FED aumentou de 90% para 92% desde a semana passada.
O PMI chinês de serviços ficou no nível mais baixo do ano e mostrou uma queda maior do que as expectativas em comparação ao mês de julho. Acreditamos que a fórmula de crescimento chinês para os próximos anos se sustente na esfera de bens e serviços, considerando uma indústria já muito bem consolidada. Nesse sentido, a conjuntura de dados abaixo das expectativas vista nas últimas semanas polui a visão macro e fomenta a preocupação sobre a frágil recuperação econômica do país, que possui um papel fundamental na economia global.
O mercado doméstico interpretou negativamente a produção industrial de julho e gerou mais fluxo negativo no Ibovespa, que já estava influenciado pelo escopo internacional. Fora isso, incertezas sobre a solidez do arcabouço fiscal e meta de déficit de 2024 adicionaram mais prêmio de risco na curva de juros brasileira, com a ponta média abrindo em média aproximadamente 13 bps e a ponta longa 26 bps. A curva passa, então, a indicar juros acima de 11% nos vértices mais longos.
Dada a liquidez comprometida, resultante dos feriados no Brasil e Estados Unidos, o Ibovespa seguiu o mau humor do exterior e acumulou uma desvalorização de 0,37%, fechando a semana aos 115.313 pontos. O destaque do noticiário corporativo fica para Minerva, que depois de comprar os ativos da Marfrig, acessou o mercado de capitais para financiar o grosso da transação. A companhia parece estar tentando aproveitar uma janela de mercado dado que a linha de crédito de R$6 bilhões concedida pelo JP Morgan costuma ser bem mais cara que uma nova emissão de um bond. Atualmente, a Minerva vem construindo uma base de acionistas focados em dividendos e a nova operação pode impedi-la de distribuí-los pelos próximos um ou dois anos.
O real perdeu mais tração em relação ao dólar e a curva de juros brasileira estressou na comparação semanal devido a crescentes preocupações de que será desafiador cumprir a meta de zerar o déficit fiscal já no ano que vem. Teve-se um fluxo negativo no IBOV, com volume majoritariamente vendedor e menor apetite ao risco. Em suma, vemos os mercados precificando o receio de uma nova alta na inflação e consequente desaceleração econômica dos principais blocos econômicos mundiais, elevando a aversão global ao risco global nessa primeira semana de setembro.
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