O CPI de agosto apresentou um aumento de 0,6% m/m, em linha com o consenso. Dessa forma, o índice acumula uma alta de 3,7% nos últimos 12 meses. O destaque da leitura foi a alta de 10,6% m/m nos preços da gasolina, depois do aumento de 5% no barril do petróleo no mês. Esse movimento afetou toda a cadeia ligada a transportes. Por outro lado, é possível notar desaceleração nos preços de serviços, moradia e alimentos nos últimos 12 meses. O núcleo apresentou alta de 0,3% m/m, acumulando uma taxa de 4,3% nos últimos 12 meses, menor valor desde setembro de 2021. Dessa forma, acreditamos que o Fed possa encerrar o ciclo de alta de juros nos EUA, mantendo o nível alto por um tempo.
O Índice de Preços ao Produtor americano subiu 0,7% m/m no mês de agosto, acumulando uma alta de 1,6% a/a. Essa leitura foi acima da expectativa de 0,4% m/m e 1,2% a/a. Esse foi o maior avanço desde junho de 2022. O núcleo do PPI avançou 0,3% m/m, também acima da previsão de 0,2% m/m e, na comparação anual, o núcleo registrou alta de 3%. Mais de 60% da alta do indicador foi causada pelos preços da gasolina, que subiram 20%, além do diesel, querosene e óleo de cozinha que também tiveram uma alta significativa. Por mais que esse índice tenha mostrado aceleração, gerando agitação no mercado, junto dos dados do CPI, os EUA têm um cenário inflacionário mais animador e não deve ser motivo para preocupação na reunião do Fed semana que vem.
A produção industrial dos EUA subiu 0,4% m/m em agosto, superando as expectativas do mercado que previa uma alta de 0,1% m/m. Todos os três componentes industriais tiveram avanço, com destaque para o setor de mineração que cresceu 1,4% no mês. Além disso, a taxa de utilização da capacidade instalada subiu 0,2 p.p. em agosto, atingindo o nível de 79,7%.
As vendas no varejo dos EUA subiram 0,6% m/m em agosto, ficando bem acima do esperado pelo consenso, que previa uma alta de 0,1% m/m. Mesmo assim, houve sinais subjacentes de que os consumidores estão começando a reduzir seus gastos. Essa alta pode ser explicada pelo aumento dos preços do combustível. Excluindo as vendas de carros, gasolina, materiais de construção e serviços alimentícios ficaram abaixo da expectativa, com uma variação de 0,1% m/m contra os 0,2% m/m do consenso.
O Governing Council do ECB elevou a taxa de juros da zona do euro em 25 bps, surpreendendo o mercado que esperava uma manutenção. A decisão não foi unanime. No comunicado de Lagarde, deixaram as portas menos abertas para novos ajustes. De maneira geral, a economia da zona do euro continua com baixo crescimento, efeitos do aperto monetário. O ECB começa a ver sinais iniciais de menor crescimento no setor de serviços e a continuidade na deterioração no setor de manufatura. Além disso, o comitê reconhece o progresso feito em relação à desaceleração da inflação, mas ainda estimam que ela continuará alta por mais tempo.
Na China, o CPI de agosto subiu 0,3% m/m, variação menor do que esperado, 0,2% m/m. Já o PPI apresentou um aumento de 0,2% m/m, apesar de ainda estar em processo desinflacionário, acumulando uma queda de 3,6% nos últimos 12 meses, ficando acima das expectativas. A desaceleração do CPI pode fazer com que o governo chinês considere medidas de estímulo ao consumo, enquanto a recuperação do PPI pode ser um indicador de melhora nas condições econômicas para as empresas.
A produção industrial na china aumentou 4,5% a/a em agosto, superando a estimativa de um crescimento de 4,1% a/a. As vendas no varejo também apresentaram um crescimento significativo, de 4,6% a/a. Por outro lado, mesmo com os esforços de flexibilização de Pequim para reverter a recessão no setor imobiliário, a atividade no país piorou ainda mais no período. Os investimentos imobiliários sofreram uma queda de 8,8% no período de janeiro a agosto em relação ao mesmo período do ano passado, piorando em relação ao declínio de 8,5% nos primeiros sete meses do ano. Além disso, o medidor de novas construções iniciadas caiu 24,4% desde o início do ano e as vendas de casas declinaram 1,5% no mesmo período.
Brasil
O IPCA de agosto registrou uma variação de 0,23% m/m, acumulando uma alta de 3,23% no ano e 4,61% nos últimos 12 meses. A leitura registrou uma surpresa positiva, tendo em vista que o mercado esperava uma alta de 0,36% m/m e no mesmo período do ano passado o índice teve uma variação de 0,36% m/m. Dentre os nove grupos pesquisados, seis apresentaram alta no período. O principal impacto altista foi proveniente do grupo de habitação, com destaque para o subitem de energia elétrica residência, a qual teve um aumento de 4,59% m/m. Esse movimento foi influenciado pelo fim da incorporação do bônus de Itaipu, referente a um saldo positivo na conta de comercialização de energia elétrica de Itaipu. Por outro lado, o grupo de alimentação e bebidas apresentou queda pelo terceiro mês consecutivo, -0,85% m/m.
Depois de três meses registrando estabilidade, o volume de vendas no varejo cresceu 0,7% m/m no mês de julho, acima do esperado pelo mercado. Com essa leitura, a média móvel trimestral variou 0,1% entre maio e julho. Na comparação anual, foi observada uma alta de 2,4%, segunda alta consecutiva. Setorialmente, quatro das oito atividades pesquisadas apresentaram alta no mês. O destaque, entretanto, foi o segmento de equipamentos e material para escritório, com uma expansão de 11,7% m/m. Isso ocorreu principalmente por conta de algumas mudanças na questão da tributação das importações, que beneficiaram esse tipo de produto.
Mercados
Nessa semana dinâmica, os mercados se mantiveram praticamente no campo positivo, com uma enorme bateria de dados econômicos dos EUA, Europa, China e Brasil. No âmbito internacional, o CPI, PPI e vendas no varejo dos EUA, além da decisão de juros no bloco econômico europeu foram os principais drivers de preço. No Brasil, mercado de olho no índice de preços ao consumidor amplo (IPCA) de agosto, essencial para o mercado reprecificar as expectativas acerca da possível intensificação do ciclo de corte da taxa básica de juros da economia.
Conforme divulgado, o CPI americano demonstrou na margem, números ligeiramente mais fortes que o esperado, reacendendo preocupações sobre a resiliência inflacionária. A inflação segue desacelerando nos EUA, mas ainda longe da meta de 2%. Nesse sentido, os yields subiram com a leitura de que ainda há muito trabalho a ser feito pelo FED, sustentando o panorama do “higher for longer” e os futuros acentuaram as quedas no pregão de quarta-feira, que depois foram revertidas. É importante lembrar que a probabilidade implícita na curva de manutenção do patamar atual de juros subiu para 97% na reunião da próxima quarta-feira (20/09) e o mercado acredita que os membros do FOMC não devem sinalizar o fim do ciclo de aperto e manterão no radar a viabilidade para uma possível extensão da contração monetária.
O IPCA de agosto veio um pouco melhor que a estimativa do mercado, apesar do aumento da inflação acumulada em doze meses. De qualquer forma, esse aumento foi menor que o esperado e o research do BTG revisou a inflação esperada para 4,5%, dentro da margem de tolerância da meta. No entanto, dado que a inflação esperada para 2025 e 2026 ainda está acima do estipulado, entende-se que existem poucas chances de o BC intensificar o ritmo de cortes nesse ano. Fora isso, os juros aliviaram e suportaram a valorização do IBOV nessa semana após terem estressado significativamente no início do mês. Deve-se isso a surpresa de um debate acerca da mudança de meta de déficit primário para 2024 e a consequente incerteza sobre o apoio político necessário para o ajuste fiscal e os compromissos com as metas estabelecidas pelo governo para o ano que vem.
Dado minério de ferro em maior nível de preço em cinco meses e petróleo se mantendo próximo do melhor patamar visto em dez meses com certo otimismo chinês e restrições de oferta de Arábia Saudita e Rússia respectivamente, o Ibovespa acumulou uma alta de 2,98% e fechou a semana aos 118.757 pontos. O destaque negativo fica para a Via Varejo, que chegou a perder mais de 30% de valor nos últimos cinco dias. Deve-se o ocorrido principalmente ao fato de a varejista ter captado um valor inferior ao esperado no follow-on. A companhia tinha o objetivo de levantar R$ 1 bilhão, porém a oferta subsequente ficou precificada em R$0,80 por papel, o que implicou em um desconto em relação à cotação da véspera de aproximadamente 29% e uma arrecadação de apenas R$ 622 milhões. Assim, investidores se adequaram a essa cotação da oferta, o que derrubou a ação no pregão de quinta-feira, se juntando a Americanas e se tornando mais uma varejista com seus papéis classificados como penny stocks, por valerem centavos.
No geral, o real ganhou força frente ao dólar e teve-se um alívio em todos os vencimentos futuros que compõem a curva de juros brasileira. Esse movimento suportou o otimismo no IBOV, que teve um fluxo positivo e um volume majoritariamente comprador. Os mercados tiveram suas performances impulsionadas pelos bons dados de venda de novas moradias na China no final dessa semana e ficam no aguardo da reunião do FED e o discurso de Powell na quarta-feira que vem, que transmitirá novas referências sobre a trajetória de juros da maior economia global.
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