A reunião do FOMC confirmou as expectativas de mercado de manutenção da taxa de juros americana no intervalo de 5,25%-5,50%. Dessa forma, entendemos que se iniciou o ciclo de manutenção, principalmente tendo em vista a evolução dos dados recentes de emprego, inflação e crescimento. O comitê ainda reconhece a expansão da economia, que apresenta um crescimento sólido. Mesmo assim, Powell ainda acredita que seja possível acontecer um soft landing, apesar de não classificar como o cenário base. Ele reforçou que ainda é difícil saber se a política é restritiva o suficiente, ainda sendo necessário ver os dados para avaliar o diagnóstico, mas entendem que existem efeitos defasados da política monetária para serem incorporados. Acreditamos que o Fed deve manter a taxa de juros nesse nível até o segundo trimestre do ano que vem, quando o ciclo de cortes deve iniciar.
O PMI, índice de gerentes de compras, composto dos EUA apresentou uma leve queda em setembro, saindo de 50,2 pontos para 50,1. Esse é o nível mais baixo em sete meses, mas ainda está acima dos 50 pontos que determina o patamar de expansão. Do lado de serviços, o indicador saiu de 50,5 pontos no mês anterior para 50,2, também atingindo seu ponto mais baixo em oito meses. Já do lado da indústria, o índice subiu de 47,9 para 48,9, representando o nível mais alto em dois meses, mesmo que ainda esteja em patamar de contração. De maneira geral, as empresas observaram que o alto nível de juros e a pressão inflacionária levaram uma fraca demanda dos consumidores, impactando a produção global.
O CPI da zona do euro apresentou recuo pelo quarto mês consecutivo no mês de agosto, saindo de 5,3% em julho para 5,2% em termos anualizados. O núcleo teve uma variação de 0,3% m/m, em linha com as expectativas. Os preços de energia caíram 3,3% em termos anuais, depois de uma queda de 6,6% em julho. Além disso, a inflação de serviços teve um recuo de 5,6% para 5,5% entre julho e agosto, ante os mesmos meses do ano passado. A menor inflação anual foi registrada na Dinamarca, seguida por Espanha e Bélgica, enquanto as maiores taxas foram observadas na Hungria, República Tcheca e Eslováquia. Na comparação com julho, a inflação anualizada caiu em 15 países e subiu em 11.
Brasil
A reunião do Copom essa semana anunciou a decisão unanime de cortar a taxa básica de juros em 50 bps, atingindo o patamar de 12,75% a.a., de acordo com as expectativas. Esse comunicado veio acompanhado de uma sinalização de ajustes de mesma magnitude nas próximas reuniões, com a finalidade de reduzir as expectativas sobre uma aceleração de corte na reunião de dezembro. Além disso, o comitê elevou o tom sobre a preocupação fiscal, deixando claro que a execução das metas fiscais tem relação direta com a convergência das expectativas de inflação.
O IBC-Br, índice de atividade econômica considerado uma proxy do PIB, cresceu 0,4% m/m em julho. Esse dado ficou acima da projeção dos analistas, que esperavam uma aceleração de 0,3% m/m. Dessa forma, o índice acumula uma alta de 3,21% no ano. Esse bom desempenho foi puxado por serviços, segmento que se beneficiou com o recuo da inflação e melhores níveis de renda e emprego. Espera-se que a economia comece a desacelerar no segundo semestre, tendo em vista a restrição de crédito e pela expectativa de acomodação do mercado de trabalho.
Mercados
Na semana mais importante do mês, os mercados performaram no campo negativo, precificando as perspectivas das políticas monetárias de alguns principais blocos econômicos globais. No espectro global, as decisões de juros nos Estados Unidos e Europa, além do CPI da zona do euro e PMI dos EUA foram os principais drivers de preço. No Brasil, mercado repercutiu a decisão do COPOM, que reduziu a taxa de juros básica da economia em mais 50 bps.
Na reunião do Copom, o comitê sinalizou que não deve acelerar os cortes como parte do mercado esperava. Para isso é necessário quedas substanciais da atividade e das medidas subjacentes de inflação, como núcleos e serviços. A preocupação que o BC mostrou com os riscos que estão em torno das expectativas de inflação adicionou mais prêmio na curva de juros brasileira, que estressou nesses últimos cinco dias e pressionou o mercado doméstico. Fora isso, o movimento de abertura dos yields dos treasuries impulsionou o dólar e drenou o fluxo estrangeiro no Ibovespa, com investidores reduzindo suas exposições e migrando recursos dada melhora na atratividade dos rendimentos dos títulos americanos.
Nos EUA, o Federal Reserve manteve a taxa de juros americana inalterada no intervalo entre 5,25%-5,50%. Mas segundo Jerome Powell, a decisão de manter o patamar atual não significa que o ciclo contracionista foi encerrado. O presidente do FED citou que é necessário um reequilíbrio contínuo no mercado de trabalho, um progresso na inflação e sinalizou que não medirão esforços para convergir a inflação à meta desejada de 2%. Portanto, o mercado logo repercutiu o recado, com yields abrindo, dólar se valorizando e bolsas intensificando as quedas. Para a próxima reunião em novembro, existe ainda uma probabilidade implícita na curva de juros inalterados de 72,6%, número que no mês passado era 53,9%.
Dado o pessimismo global e perspectiva de juros altos por mais tempo terem contaminado os mercados, o Ibovespa acumulou uma queda 2% e fechou a semana aos 116.458 pontos. O destaque corporativo da semana fica para a Rumo, dada recomendação de compra do Morgan Stanley e um potencial de alta de 27% em relação ao preço de tela. Genericamente, os analistas acreditam que a produção de grãos continuará crescendo no Brasil e assim, deve pressionar positivamente a demanda no setor de transportes e garantir que os preços dos fretes continuem aquecidos por mais tempo. De acordo com o research do Morgan Stanley, as ferrovias da Rumo estão bem posicionadas para se beneficiar dessa demanda aquecida oriunda do aumento significativo das safras. O banco vê a Rumo entregando um EBITDA de R$ 7,1 bi para 2024 e R$ 8,6 bi para 2025, negociando a 8,8x e 7,5x respectivamente. As projeções seriam um desconto de cerca de 20% das médias históricas (11x).
O dólar ganhou força frente ao real e a curva de juros estressou em média 11 bps nos vértices de 2025 para frente. Teve-se um fluxo negativo no índice, com volume majoritariamente vendedor e investidores estrangeiros diluindo o risco em emergentes. Em resumo, os mercados precificaram a aversão ao risco global dado horizonte de extensão das políticas monetárias contracionistas.
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