13/10/23

Análise da Semana - 9 a 13 de Outubro de 2023

A ata do FOMC de setembro manteve o posicionamento do Fed de que a política monetária deve ser mantida em níveis suficientemente restritivos para que a inflação americana volte à meta, tendo em vista que a atividade segue mais resiliente do que o esperado. O comitê acredita que a política monetária está restringindo a atividade, porém há um alto grau de incerteza em relação à perspectiva econômica. O FOMC destacou que agora classifica a atividade econômica como “sólida” ao invés de “moderada”, como definiram nos comunicados anteriores a reunião de setembro. Afirmaram também que precisam de mais dados que confirmem que a inflação está diminuindo para que tenham mais confiança de que o nível de preços está voltando para a meta. Até o último comunicado os membros com posicionamento mais hawkish defendiam uma nova alta de juros ainda esse ano, entretanto, o aumento expressivo nas condições financeiras tais membros já consideram a possibilidade de o ajuste promovido pelo mercado ser equivalente a um aumento adicional na taxa.

O CPI, índice de preços ao consumidor americano, registrou uma desaceleração em setembro em relação ao mês anterior. A leitura mostrou uma variação de 0,4% m/m, acima das expectativas. O núcleo, por outro lado, manteve o ritmo de agosto, ficando em linha com as projeções de 0,3% m/m. Na comparação anual, o CPI teve uma alta de preços de 3,7% e o núcleo cresceu 4,1% a/a. O principal responsável pela alta foi o item de moradia, que contribuiu com metade do aumento. Além disso, os preços de gasolina também deram uma boa contribuição para o índice de inflação em setembro.

O CPI da China se manteve estável em setembro na comparação anual, ficando abaixo das expectativas de uma alta de 0,2% a/a. Essa baixa se deu principalmente pela queda nos preços de alimentos, com uma variação negativa de 2,3% a/a. A estabilidade no índice indica que as pressões inflacionarias no país ainda são um risco para a economia. Por outro lado, o PPI, índice de preços ao produtor, teve um recuo de 2,5% a/a contra a previsão de queda de 2,3% a/a.

O banco JP Morgan abriu a temporada de resultados do 3T23 com ganhos levemente acima do consenso. Um destaque desse período foi a aquisição do First Republic Bank em maio, que foi responsável por 11% do aumento do lucro líquido t/t do JP Morgan e somou o total de US$ 13,2 bilhões.  Jamie Dimon, CEO do banco, demonstrou sua satisfação com os números desse trimestre, mas também pontuou a preocupação macroeconômica e geopolítica da situação em Israel e Ucrânia e reforçou que o foco do JP é apresentar resultados consistentes nos próximos períodos independente do cenário. Sua receita líquida foi de US$ 39,9 bilhões, levemente acima do estimado de US$ 39,6 bilhões da FactSet. O contexto global influenciou as baixas líquidas, que quase dobraram no ano a ano, chegando a US$ 1,5 bilhões no 3T23. Os custos de crédito foram de US$ 1,4 bilhões, com uma liberação de US$ 113 milhões nas reservas líquidas.

Wells Fargo apresentou resultados sólidos no terceiro trimestre de 2023 e números acima da expectativa do mercado. Sua receita líquida aumentou 7% a/a e foi reportada em US$ 20,86 bilhões, enquanto a FactSet esperava US$ 20,09 bilhões. As taxas elevadas de juros nos EUA tiveram impacto positivo nos resultados do banco, que teve US$ 13,11 bilhões em receitas de juros, valor 8% maior na comparação anual e US$ 380 milhões acima do esperado pelo consenso. Porém, mesmo que a economia americana se mostre resiliente, nos próximos períodos o CEO do banco alerta sobre a baixa dos empréstimos e possível deterioração discreta dos resultados num futuro próximo.

As demonstrações do 3T23 do Citigroup finalmente refletiram impactos de suas estratégias de turnaround nos últimos períodos e superaram estimativas. Sua receita somou US$ 20,1 bilhões, enquanto a expectativa era cerca de 19,3 bilhões. Já seu custo de crédito marcou US$ 1,8 bilhões e cresceu 35% a/a, número justificado como uma normalização na perda de crédito líquida segundo o banco. A gestão do Citi anunciou mais mudanças profundas em sua estrutura pouco antes de liberar os resultados do 3T23 na intenção de alinhar a estrutura organizacional com as novas estratégias da gestão do banco. Sua receita líquida cresceu 9% a/a e foi de US$ 20,1 bilhões, enquanto o lucro líquido subiu 2% a/a e somou US$ 3,5 bilhões.

Brasil

O IPCA de setembro teve uma variação de 0,26% m/m, abaixo das expectativas do mercado de 0,33% m/m. O IPCA mais baixo que o esperado reacendeu a discussão de que a inflação deste ano pode ficar abaixo do teto da meta perseguida pelo Banco Central, de 4,75%, o que permitiria à autoridade monetária manter um ritmo de queda nas taxas de juros. Apenas as altas de preços da gasolina e das passagens aéreas responderam, juntas, por cerca de 80% de toda a inflação em setembro. Por outro lado, os preços dos alimentos completaram em setembro quatro meses seguidos de queda. Este cenário mais positivo para a inflação pode ser abalado pelo atual conflito entre Israel e o Hamas, que pode levar os preços do petróleo para cima. A postura mais hawkish dos bancos centrais globais também pode ser um limitador para a queda de juros no Brasil. Ou seja, o ciclo de queda de juros no Brasil precisa ser monitorado constantemente para avaliar a continuidade e intensidade dos movimentos do BC.

 Mercados

Nessa semana de feriado nacional, os mercados tiveram performances mistas, repercutindo importantes dados inflacionários e um posicionamento mais dovish do FED. No campo internacional, a ata do FOMC, CPI e PPI dos EUA, além do CPI Chinês, foram os principais drivers de preço. No Brasil, mercado seguiu acompanhando o exterior e o IPCA de setembro.

Embora o IPCA de setembro tenha acelerado menos do que o previsto, os juros futuros subiram com maior intensidade nas parcelas curta e média da curva dada a pressão em serviços. Mesmo assim, a curva do DI continua precificando mais um corte de 50 bps no próximo COPOM e aponta para uma Selic terminal de 10,25% ao fim de 2024.

Nos EUA, a ata do FOMC sugeriu um discurso mais ameno do FED, dando indícios de que podem não haver mais aumentos na taxa. Segundo integrante do comitê, o movimento de alta dos títulos americanos longos serve como remédio para a atual conjuntura econômica. Dito isso, talvez mais uma alta de 25 bps possa ser descartada para novembro. Nesse contexto, a probabilidade implícita na curva de manutenção de juros no patamar atual em novembro passou para 92%, ante 72% na comparação semanal.

Já o índice de preços ao consumidor (CPI), veio ligeiramente acima das projeções. Segundo um próprio membro do FED, o dado serviu como um lembrete de que a restauração da estabilidade de preços leva tempo. Nessa linha, os Treasuries subiram após a divulgação, com o T10 apontando para 4,70% e influenciando a desaceleração das bolsas americanas no pregão de quinta-feira. 

Dado a um certo alívio dos Treasuries/DIs futuros e a alta do barril Brent, o mercado doméstico conseguiu performar e fechou a semana no campo positivo. Dito isso, o Ibovespa acumulou uma alta de 2,18% e fechou a semana aos 115.754 pontos. O destaque do noticiário corporativo fica para a Lojas Americanas, que propôs aumentar a capitalização em R$ 4 bi e assim, reduzir a alavancagem quando a empresa emergir da recuperação judicial. Atualmente a companhia possui uma dívida bruta de R$ 42 bi, dos quais R$ 5 bi são de fornecedores, R$ 1,6 bi de caixa e R$ 35 bi de dívidas bancárias. A Lojas Americanas prevê uma conversão da R$ 12 bi dos bancos e nesse sentido, a dívida bancária cairia para R$23 bi. No geral, a empresa usará certo financeiro para amortizar a dívida por meio de um leilão reverso e depois refinanciará parte da dívida existente em uma nova, que passaria a ser a única depois do processo de RJ. Essa proposta demonstra claramente um avanço nas negociações e melhora significativa do contexto atual, mas vale lembrar que os credores só se comprometerão depois que a companhia publicar os balanços auditados de 2021 e 2022. Fora isso, a companhia está trabalhando para apresentar os balanços dos primeiros trimestres desse ano e estudando um planejamento estratégico que possa proporcionar algum guidance de EBITDA para frente.

O dólar perdeu força em relação ao real e a curva de juros brasileira apresentou uma amenização nos vértices a partir do miolo (vencimentos de 2+ anos).  Mesmo com um fluxo ainda contaminado pelo recém estresse dos juros nos EUA e feriado nacional, o volume no IBOV foi majoritariamente comprador. Nesses últimos cinco dias, comprovou-se mais uma vez a soberania da curva de juros americana, que serve como termômetro de apetite por risco dos mercados globais.

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