As vendas no varejo nos EUA tiveram uma alta de 0,7% m/m em setembro. Na comparação anual, as vendas no varejo subiram 3,8%. Essa leitura ficou acima do consenso, que previa um aumento de 0,3% m/m. Além disso, os dados de agosto foram revisados para cima, saindo de uma alta de 0,6% m/m pata 0,8% m/m. A produção industrial também teve uma variação acima das expectativas, de 0,3% m/m contra os 0,1% m/m projetados. Dos três componentes industriais, o de mineração e de atividades manufatureiras subiram 0,4% m/m cada um. Dessa forma, observamos o consumo e, consequentemente, a economia do país, ainda aquecidos, o que traz preocupações relativas à inflação.
O CPI da zona do euro apresentou desaceleração em setembro, saindo de 5,2% em agosto para 4,3% na base anual. O dado ficou em linha com as expectativas do mercado. Na comparação mensal, a variação foi de 0,3% e o núcleo teve avanço de 0,2% m/m, também de acordo com o esperado. Apesar da fraca demanda e os efeitos de base estarem tendo um efeito favorável para o arrefecimento da inflação, os custos de energia e os salários altos ainda trazem risco de a inflação ficar acima da meta por mais tempo do que se esperava.
A leitura do PIB chinês mostrou um ritmo de crescimento da economia maior do que o mercado esperava, de 4,9% a/a no período de julho a setembro enquanto a pesquisa da Reuters indicava um aumento de 4,4%. Mesmo assim, o avanço foi menor do que o observado no 2T23, de 6,3% a/a. Além disso, o consumo e a atividade industrial tiveram uma performance positiva, surpreendendo as expectativas, o que sugere que as medidas de estímulo do governo estão finalmente surtindo efeito. Dessa forma, é menos provável que o governo lance estímulos adicionais no 4T23, tendo em vista que a meta de crescimento de 5% deve ser alcançada.
Nesta segunda-feira, a Charles Schwab divulgou seus resultados do 3T23, que apontaram uma queda em suas margens menor do que as expectativas. Mesmo que os números tenham sido maiores do que se esperava, na comparação anual houve uma queda em suas margens. A receita caiu 16,18% a/a, no valor de US$ 4,61 bilhões, em linha com o esperado pelo Wall Street. A base de clientes reduziu o patrimônio depositado, reação ao nível elevado de taxas de juros no mercado, os depósitos caíram de US$ 304,4 bilhões para US$ 284,4 bilhões na comparação trimestral. O lucro líquido da corretora caiu 31% ao ano, marcando US$ 1,5 bilhões, enquanto o lucro por ação ajustado foi US$ 0,77, maior do que o US$ 0,74 previsto pela Avenue.
Os números do 3T23 da Tesla vieram abaixo do esperado, mas há esperança de melhora com entrega de Cybertruck a partir de novembro. A receita subiu 9% a/a, menor crescimento ao ano desde 2020, somando US$ 23,35 bilhões, versus US$ 24,32 bilhões esperado pela Avenue. Foram 435 mil automóveis vendidos, abaixo das expectativas de 450 mil, porém aumentou 29% a/a. A venda dos modelos de luxo caiu 14% a/a, enquanto os modelos 3/Y foram os mais vendidos. A Tesla focou em diminuir a margem bruta nesse ano, marcando 17,9% contra os 25,1% do mesmo período do ano anterior. O lucro líquido por ação da empresa foi de US$ 0,66, enquanto a Avenue estimou US$ 0,73. O resultado foi abaixo do esperado, porém a empresa continua crescendo e mostrando sua força no mercado de automóveis, com o guidance para o 4T23 otimista em vista da distribuição de seu novo modelo, o Cybertruck.
BofA e Morgan Stanley tiveram resultados acima da expectativa referentes ao 3T23, enquanto Goldman Sachs foi destaque negativo. O BofA divulgou os números na terça-feira, com aumento de 4% a/a da receita líquida, que ficou em US$ 14,5 bilhões, enquanto se esperava US$ 13,9 bilhões, segundo a Avenue. A corretora foi a unidade com maior crescimento de receita, 8% a/a, seguida pelo banco de varejo, que subiu 6% a/a. Já o lucro líquido por ação ajustado foi US$ 0,9, acima do consenso de US$ 0,82. O Morgan Stanley teve receita de US$ 13,3 bilhões, superando em US$ 50 milhões a expectativa do mercado. Seu lucro foi 9% menor em comparação ao ano anterior e somou US$ 2,41 bilhões. Porém, seu lucro por ação foi US$ 1,38, valor 4,55% acima do esperado pela Avenue. O principal destaque do Morgan Stanley foi a frente de trading, que compensou as quedas nas receitas de outras áreas, principalmente a frente de investment banking, tendo em vista a fraqueza no mercado de M&A e em listagens de IPO. Já o Goldman Sachs teve um 3T23 fraco, com receita de US$ 11,82 bilhões, US$ 530 milhões acima do esperado e caiu 1% a/a. Por sua vez, o lucro foi 33% menor a/a, no valor de US$ 5,47 por ação ajustado. Apesar das principais receitas do banco, de trading e de investment banking, terem superado as estimativas do mercado, a performance das áreas não foi boa o suficiente.
Netflix superou o consenso de Wall Street com demonstrativos do terceiro trimestre de 2023. Sua receita líquida aumentou 7,8% ao ano, acima dos US$ 8,53 bilhões esperados pelo mercado, impulsionada pelos 8,76 milhões de novos clientes no período. Seu resultado refletiu a estratégia polêmica para redução do compartilhamento de conta entre sua base de clientes, que somou mais de 247 milhões ao final do semestre. A empresa também aumentou o faturamento nos EUA e Reino Unido, aumentando a cobrança entre os planos básicos, mostrando sua força entre o setor de streaming. Seu lucro líquido caiu 9,07% a/a, ainda assim superando em aproximadamente 0,92% o consenso de Wall Street. Esse trimestre provou que a estratégia de aumentar a cobrança por casa foi bem-sucedida, comprovando que seus clientes reagiram bem a esse ajuste no pagamento.
Brasil
O setor de serviços apresentou queda no mês de agosto, criando um alerta para desaceleração da atividade do país. A variação mensal foi de -0,9%. Esse resultado interrompe as três altas seguidas do indicador, além de ter ficado muito abaixo da mediana das expectativas do Valor Data de alta de 0,4% m/m. Ainda assim, os serviços ainda estão 11,6% acima dos níveis pré-pandemia. Essa leitura, entretanto, ainda não trouxe revisões para baixo nas expectativas de crescimento do PIB para o ano. Essa desaceleração, por um lado, coloca um viés negativo para a economia, enquanto, por outro, pode ser visto como um bom dado para a inflação e para o Banco Central.
O volume de vendas no varejo restrito apresentou um recuo em agosto de 0,2% m/m, mas ainda acima dos 0,7% m/m estimados pelo mercado. O IBGE classificou a variação como estabilidade estatística, tendo em vista que ficou dentro da margem de erro da pesquisa. De oito segmentos pesquisados, quatro tiveram uma variação negativa, mais especificamente: outros artigos de uso pessoal e doméstico; livros, jornais, revistas e papelaria; móveis e eletrodomésticos; e tecidos, vestuário e calçados. Dessa forma, o setor está 2,4% abaixo do pico da série histórica, registrada em outubro de 2020. No varejo ampliado, o qual inclui vendas de veículos e motos, materiais de construção e atacarejo, o volume de vendas teve uma contração de 1,3% m/m, maior do que 0,7% m/m estimados por analistas.
O IBC-Br, índice de atividade econômica utilizado como proxy do PIB, caiu 0,77% m/m em agosto. Essa leitura foi uma surpresa altista, tendo em vista que analistas da Refinitiv que projetavam uma retração de 0,3% m/m. Isso pode ser explicado por uma pressão nos serviços, indicando um enfraquecimento no poder de consumo da população, ao mesmo tempo que as exportações de commodities não foram fortes o suficiente para compensar a queda no consumo. Na comparação anual, entretanto, o índice mostrou um crescimento de 1,28%. Dessa forma, o IBC-Br tem uma alta acumulada de 3,06% no ano e 2,28% nos últimos 12 meses. Esse dado acende um alerta de que a economia pode estar desacelerando mais do que o governo esperava. Dessa forma, o governo pode ter que rever suas intenções de gastos e os níveis de tributação, os quais afetam diretamente o consumo.
Mercados
Os mercados performaram no campo negativo, refletindo a escalada das tensões do conflito geopolítico vigente no oriente médio e o noticiário em torno da economia americana. Na esfera internacional, os principais drivers de preço foram as vendas do varejo americano e produção industrial, PIB Chinês, o discurso de Powell sobre política monetária na quinta-feira e o início da temporada de resultados nos EUA. No Brasil, mercado repercutiu exterior e monitorou o volume de serviços e dados de varejo de agosto.
As vendas no varejo americano vieram contrárias as projeções de desaceleração e suportaram a tese da resiliência econômica americana. Dito isso, o rendimento da T-note de 10 anos subia de 4,83% para 4,91% e o juro da T-note de 2 anos passava de 5,20% para 5,23% após publicação do report. O mercado reacendeu as preocupações de que os juros voltem a subir nos EUA E as bolsas logo reagiram ao mau-humor, à medida que investidores foram abandonando ativos de risco já no pregão de quarta-feira.
Após discurso de Powell na quinta-feira, economistas não descartam possibilidade de mais um aumento na Fed Funds Rate em dezembro. Por mais que a curva demonstre uma probabilidade implícita de manutenção de juros na reunião de novembro em 98,5%, economistas acreditam que não há convicção de que o FED encerrou o ciclo contracionista. A persistência do crescimento econômico alinhada a força do mercado de trabalho e a recém escalada do preço do barril de petróleo podem colocar em risco a desaceleração da inflação, o que reconduziria a um novo aumento de juros. Portanto, dadas as circunstâncias atuais e a fala relativamente neutra de Powell, é provável que se repita o recém movimento do FED, em que a taxa se manterá a mesma para melhor análise da conjuntura e consequentemente uma decisão mais certeira na reunião subsequente.
No cenário doméstico, o dado de vendas no varejo de setembro confirmou a trajetória de desaceleração do setor, ainda que tenha surpreendido as estimativas do consenso. Nessa semana, Roberto Campos Neto afirmou que o cenário interno no Brasil tem melhorado e que a inflação está qualitativamente melhor. O presidente do BACEN também reiterou que ritmo de corte da Selic de 50 bps é apropriado, o que de certa forma, aliviou, na margem, DI curtos.
Em semana de vencimento de opções sobre o índice e intensificação da aversão ao risco global, o Ibovespa acumulou uma desvalorização de 2,25% e fechou a semana aos 113.155,28 pontos. O destaque fica para o preço do barril de petróleo, que vem disparando nas últimas semanas. No mundo contemporâneo, conflitos entre nações que possuem participação relevante na cadeia de suprimentos global geralmente tendem a ocasionar choques de oferta de insumos/commodities e consequentemente um aumento nos preços desses ativos. Após o bombardeio em um hospital de Gaza, a piora do cenário fez com que se aumentasse os temores de uma entrada de outros países vizinhos no conflito. O Irã, que é um dos dez principais produtores globais de petróleo, pediu sanções contra Israel e nesse contexto, o preço do barril Brent para entrega em dezembro subiu mais de 1,40%. Segundo estrategistas da TS Lombard, uma possível expansão desse conflito de forma a envolver diretamente o Irã ameaçaria a produção iraniana em mais de três milhões de barris por dia, o que é suficiente para aumentar o preço mundial da commodity dado mercado atual apertado. Caso os combates se espalhem pelo Irã, não só a produção será comprometida, mas também uma possível interrupção do tráfego de navios pelo estreito de Ormuz, principal rota de transporte de petróleo para o sul do Irã.
O dólar ganhou leve força em relação ao real e a curva de juros brasileira estressou nos últimos cinco dias, reflexo, principalmente, do movimento dos Treasuries e a corrida por ativos mais seguros. Teve-se um fluxo negativo no Ibovespa, com volume majoritariamente vendedor e um movimento de realização. No geral, os ativos de países emergentes continuaram a ser penalizados, diante do receio da escalda do conflito entre Israel e o Hamas.
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