27/10/23

Análise da Semana - 23 a 27 de Outubro de 2023

O PIB americano referente ao 3T23 teve uma alta anualizada de 4,9%. O consenso esperado era uma variação levemente menor, de 4,3%, segundo a Refinitv. Na comparação trimestral, a variação foi de 2,1%. O resultado reflete, principalmente, os aumentos nos gastos dos consumidores, investimento privado em estoques, nas exportações, nas despesas dos governos federal, estaduais e locais, além do investimento fixo residencial. A atividade econômica americana resiliente indica que os juros devem continuar alto por mais tempo.

O PCE, indicador preferido do Fed para mensurar a inflação subjacente nos EUA, teve uma variação mensal de 0,4% em setembro, acima dos 0,3% esperados pelo mercado. O destaque da leitura vai para os preços do setor de serviços, que tiveram uma alta de 0,5% m/m, a maior desde janeiro. O núcleo, por sua vez, subiu 0,3% m/m, ficando em linha com as estimativas. Além disso, os gastos do consumidor cresceram em 0,4% m/m, impulsionado tanto por bens como por serviços. O principal fator que sustenta as despesas das famílias é a resiliência do mercado de trabalho. Fora isso, foi observado que os consumidores têm poupado menos para poderem sustentar os gastos, com a taxa de poupança caindo para 3,4%, menor nível registrado esse ano. De qualquer forma, essa leitura não deve alterar o ciclo de pausa do Fed na semana que vem.

O PMI composto da zona do euro, índice que mede a atividade empresarial, caiu de 47,2 pontos em setembro para 46,5 pontos em outubro, o quinto mês consecutivo de retração na atividade empresarial. Esse foi o declínio mais acentuado desde novembro de 2020. O PMI da indústria apresentou recuo, saindo de 43,4 pontos para 43 e o PMI de serviços caiu de 48,7 para 47,8, o menor nível nos últimos 32 meses. De maneira geral, é possível observar que a produção industrial da área do euro tem diminuído continuamente nos últimos 18 meses, enquanto os novos negócios recebidos no setor de serviços caíram pelo quarto mês consecutivo, com uma taxa de declínio bastante acelerada, o patamar mais rápido em quase dois anos.

Essa semana aconteceu a reunião do Banco Central Europeu, em que foi anunciada a decisão unânime de que os juros seguirão inalterados no bloco, com a taxa de depósito em 4%. Essa foi a primeira reunião de pausa, apesar da Christine Lagarde, presidente do BCE, ter sinalizado que o comitê continuará vigilante em relação à dinâmica inflacionária. Por um lado, já existem sinais de desaceleração da atividade do bloco, assim como a inflação subjacente, por outro ainda existe ainda um nível de incerteza elevado, de forma que os dirigentes estão dependendo de dados para as próximas decisões.

 Na terça-feira a Alphabet deu o tom para as Big Techs com resultados levemente positivos no 3T23. A divisão de publicidade, responsável por cerca de 89% da receita total da empresa, ficou em US$ 59,6 bilhões, com alta de 9,5% a/a. As vendas totais somaram US$ 76,69 bilhões, aumento de 11% ao ano, impulsionadas pelo Youtube e Google Cloud, que marcaram, respectivamente, US$ 67,99 bilhões e US$ 8,41 bilhões. O Google Services foi o destaque do trimestre em termos de lucro, que foi US$ 23,40 bilhões, crescendo 26,7% a/a. Vale ressaltar, entretanto, que o crescimento no segmento de clouding, de 22% a/a, ficou aquém do esperado, refletindo em uma queda de aproximadamente 9,5% de suas ações. Por fim, o lucro líquido somou US$ 19,69 bilhões, com alta de 46,2% a/a, influenciado principalmente pela mudança na classificação de seus ativos, que adicionou quase US$ 800 milhões de lucro no trimestre.

O resultado do terceiro trimestre de 2023 da Microsoft marcou um aumento nas margens anuais e superou as expectativas. A receita cresceu 13% a/a enquanto o lucro subiu 27% a/a. O segmento de Cloud, que hoje corresponde a quase metade da receita total da companhia, teve um crescimento maior do que o esperado de 19% a/a. Além disso, o segmento responsável pelo Microsoft 365, Linkedin e Dynamic, teve um crescimento de 13%, sendo responsável por 33% das receitas. Além disso, a Microsoft continuou buscando medidas de redução e controle de gastos, de forma que as despesas operacionais crescessem em um ritmo mais lento do que as receitas. Dessa forma, o lucro líquido superou em 1,8% a previsão do BTG e foi 14,4% maior que o mesmo período do ano passado, somando US$ 17,5 bilhões.

Os números da Meta Platforms surpreenderam o mercado positivamente. A receita da companhia cresceu 23% a/a, totalizando US$ 34,5 bilhões, se traduzindo em uma expansão de mais de 160% a/a nos seus lucros. Isso pode ser explicado pelos avanços que a empresa teve na eficácia dos anúncios online. Segundo a Meta, para conseguirem atingir esse resultado os investimentos em inteligência artificial foram fundamentais pois ajudaram a conquistar empresas que procuram oferecer promoções direcionadas. Dessa forma, foi observado um aumento de 7% no tempo gasto no Facebook e 6% no Instagram até agora no ano. Além disso, houve iniciativas de redução de custo que ajudaram nos resultados. Apesar disso, o guidance da empresa é de que as receitas no quarto trimestre podem ser prejudicadas tendo em vista uma diminuição nos anúncios nos últimos dias, que podem ser atribuídos aos conflitos no Oriente Médio.

A Amazon divulgou resultados que superaram as estimativas do mercado. As receitas da empresa tiveram um crescimento de 13% a/a, enquanto o lucro líquido mais que triplicou, saindo de US$ 2,9 bilhões ano passado para US$ 9,9 bilhões. No entanto, o importante segmento de armazenamento na nuvem tiveram número abaixo das expectativas. O AWS teve um crescimento de 12% a/a, enquanto a Microsoft e o Google Cloud apresentaram um crescimento de 29% a/a e 22% a/a, respectivamente, para o mesmo serviço. No guidance para 4T23, o topo das estimativas da empresa ficou apenas um pouco acima do que o mercado estava estimando para o período, de forma que nos leve a entender que talvez o mercado esteja otimista demais com a empresa.

Brasil

O IPCA-15, utilizado como uma prévia da inflação oficial, registrou uma variação de 0,21% m/m em outubro. Essa leitura veio em linha com as expectativas do mercado. A principal influência para a alta do índice fora as passagens aéreas, que tiveram uma alta de 23,75% no preço. Das nove classes usadas para o cálculo, sete apresentaram alta e apenas comunicação e alimentação e bebidas apresentaram queda. Dessa forma, o IPCA-15 acumula uma alta de 5,05% nos últimos 12 meses, acima da meta de inflação de 3,25% para 2023.

Essa semana começou a temporada de resultados referentes ao 3T23 no Brasil. A Vale apresentou números em linha com as expectativas do BTG, mas ainda com um progresso limitado nas linhas operacionais. O EBITDA, apesar de ter apresentado crescimento de 8% t/t e de 12% a/a, ficou 3% abaixo do esperado. Isso pode ser explicado pelo desempenho mais morno na divisão de metais básicos. Além disso, a geração de fluxo de caixa da companhia foi fraca no trimestre, de US$ 1,1 bilhão. Por outro lado, o preço do minério de ferro acima de US$ 110/t e as políticas fiscais fomentadoras da China fizeram com que o lucro da companhia não fosse prejudicado, ficando 8% acima do estimado. Vale ressaltar também que a empresa anunciou dividendos extraordinários de US$ 2 bilhões, superando as expectativas do mercado e indicando que a Vale está na direção certa em sua alocação de capital. O BTG está confiante de que o baixo nível operacional da empresa ficou para trás e que a produção e os custos devem continuar melhorando gradualmente. EV/EBITDA 2023E = 4x.

A Suzano apresentou número sólidos, tendo em vista as difíceis condições de mercado. O EBITDA foi de R$ 3,7 bilhões, 10% acima das expectativas do consenso, tendo em vista os melhores preços realizados de celulose, os quais ficaram 9% acima do esperado, e o menor custo de caixa da celulose. Ainda, o Projeto Cerrado já atingiu 78% de evolução, estando no pico do ciclo de investimento. Mesmo assim, a alavancagem permanece contida, no patamar de 2,7x. A empresa anunciou novos investimentos de R$ 1 bilhão, que envolvem uma nova caldeira de biomassa, capacidade adicional de fluff e uma nova fábrica de tissue. De qualquer forma, esse anúncio deve impactar pouco as perspectivas de desalavancagem no futuro. Entendemos que a Suzano é um investimento de médio prazo, já que os investidores precificam pouca contribuição do Cerrado e preços de celulose abaixo dos custos marginais de produção para sempre. Apesar disso, o momentum positivo da commodity pode perder força nos próximos meses. EV/EBITDA 2023E = 6.3x.

O Santander Brasil foi o primeiro dos grandes bancos a divulgar números do 3T23, mais uma vez fracos. A inadimplência teve uma melhora no trimestre, com seu índice de atraso caindo para 3,0%, refletindo a nova política de crédito conservadora adotada pelo banco e impulsionada pela linha de pessoa física. No trimestre, os serviços cresceram 7%, com a ajuda de receita de consórcio, conta corrente e operação de crédito. As despesas do Santander tiveram alta de 8% a/a, influenciadas pela tesouraria, já que a margem com mercado teve prejuízo de R$ 827 milhões. Esse valor pôs fim na melhora trimestral da margem, mas ficou próximo do 2T22. O lucro líquido ficou em R$ 2,7 bilhões, acima das expectativas. Por sua vez, o ROE foi de 13,1%, com a linha de imposto próxima a zero, apontando uma melhora gradual, mas ainda longe de fazer o mercado ter um guidance positivo no médio prazo. P/E 2023E = 12,04x.

Rentabilidade da Weg é destaque positivo do 3T23 e houve crescimento nas margens, porém abaixo das expectativas. Sua receita cresceu 2% a/a e ficou em 8,1 bilhões, sendo 53% proveniente do mercado externo, impulsionado pelo crescimento anual de 49% na transmissão e distribuição de energia. A geração de caixa já soma R$ 5,1 bilhões no ano, adaptado ao cenário de alta taxa de juros. Sua margem bruta e margem EBITDA tiveram altas discretas ao ano de, respectivamente, 1,8% e 1,7%. Já o lucro líquido foi de R$ 1,3 bilhão, subindo 13,3% ao ano, enquanto sua margem líquida foi de 16%. Por mais que os resultados tenham sido positivos, os crescimentos da Weg foram menores do que o mercado esperava, fazendo suas ações caírem após a divulgação. P/E 2023E = 25,02x.

 Mercados

A última semana do mês foi de certa forma turbulenta para os mercados no geral. As bolsas americanas fecharam no negativo nesses últimos cinco dias, mas o mercado doméstico conseguiu se sustentar com drivers internos e a escalada do minério de ferro. No cenário internacional, os principais drivers de preço foram o PIB e PCE dos EUA, release de resultados do 3T23 de importantes Big Techs americanas, PMI da zona do euro e lucro das indústrias/estímulos econômicos na China. No Brasil, investidores de olho na prévia da inflação de outubro, aprovação na Câmara da taxação de fundos exclusivos e offshores e repercussões de ruídos políticos.    

A prévia da inflação de outubro veio melhor que a expectativa e contribuiu para certo otimismo no cenário doméstico. Assim, com um deflator mais positivo e a aprovação da tributação de fundos exclusivos e offshore por parte da câmara fez os juros futuros cederam em toda a curva na comparação semanal. A aprovação dessa tributação simboliza uma nova fonte de receita para o governo, importante para que tenha capacidade de cumprir a meta de primário de 2024. Nesse contexto, uma nova linha de receita significa mais arrecadação pública e, consequentemente, implica em um menor prêmio de risco para a economia. Atualmente, os contratos de DI precificam que o BACEN cortará a Selic em 50 bps na próxima semana. Em linha com esse movimento dos juros, o Ibovespa logo reagiu positivamente e fechou a sessão de quinta-feira no verde. Fora isso, o lucro das indústrias chinesas e os novos estímulos no setor de infraestrutura também deram suporte para o mercado local, sugerindo que a economia chinesa está se recuperando.

O mercado não se animou com os números do PIB americano do terceiro trimestre, que foi muito superior as expectativas. Se por um lado o crescimento econômico é algo favorável, nos Estados Unidos, a dinâmica no contexto corrente é exatamente oposta. Um PIB acima do esperado sugere que a atual política monetária contracionista não está fazendo efeito e tende a sugerir apertos monetários adicionais. Já o PCE, índice preferido do Federal Reserve, veio de acordo com o consenso nessa sexta-feira. Os Treasuries se mantiveram estáveis e, de certa forma, reiterou-se a probabilidade implícita na curva americana de manutenção de juros pelo FED na semana que vem, que está em 94,2%.

Dada escalada do minério de ferro e a prévia da inflação mais benigna, o Ibovespa acumulou uma ligeira alta de 0,21%, fechando a semana aos 113 mil pontos. O destaque negativo fica para a Petrobrás, que perdeu mais de R$ 30 bi de valor de mercado na semana. Em linhas gerais, o conselho quer mudar o estatuto, permitindo indicações políticas e flexibilizando a política de dividendos. Dentre as duas principais mudanças, a primeira é a criação de uma reserva de remuneração de capital. A leitura é que essa nova reserva daria mais flexibilidade para a Petrobrás não pagar dividendos extraordinários no futuro, possibilitando a companhia segurar o dinheiro em caixa se desejar. Já a segunda mudança propõe a retirada de uma regra da Lei das Estatais, que é a proibição da indicação de PEPs para cargos de management e conselho. O mercado viu com maus olhos o movimento dado que simboliza um retrocesso na governança da estatal, algo que já foi explorado pelos políticos em governos passados do PT.

O real ganhou força frente ao dólar com arrefecimento da rentabilidade dos títulos americanos e a curva de juros brasileira aliviou em todos os vértices na comparação semanal, estressando levemente nessa sexta com as falas confusas do presidente Lula. Vale ressaltar que os mercados seguem acompanhando a guerra entre Israel e o Hamas, dado que um possível alastramento para outros países do Oriente Médio colocaria em risco toda a cadeia de suprimentos global.

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