O PIB da zona do euro registrou uma variação de +0,1% a/a no 3T23, abaixo dos +0,2% a/a estimados pelo consenso. Na comparação trimestral, por outro lado, o PIB teve um recuo de 0,1%, enquanto o mercado esperava estabilidade. O dado referente ao 2T23 foi revisado para cima, o que pode ter contribuído para o resultado atual ter vindo abaixo do esperado. A zona do euro está enfrentando desafios provenientes da alta inflação, taxas de juros altas e ao aperto lento da política fiscal. Entre os Estados membros do grupo econômico, o que teve o maior aumento do produto foi a Letônia, seguido pela Bélgica e, em terceiro lugar, Espanha. Por outro lado, os países com maiores quedas foram Irlanda, Áustria e República Tcheca.
O FOMC confirmou as expectativas do mercado e anunciou a manutenção da fed funds rate no patamar de 5,25%-5,50%. O comunicado deixou em aberto as próximas reuniões, demonstrando que o comitê espera observar as evoluções dos dados antes de tomar alguma decisão. Foi reconhecido o progresso da desaceleração da inflação e um menor aperto no mercado de trabalho, apesar da força do crescimento da economia americana ainda representar um desconforto para o comitê. Esse crescimento mostra que a economia pode permanecer resiliente por mais tempo, apesar de o FOMC entender que os efeitos defasados da política monetária devem acomodar o crescimento à frente. Powell disse no comunicado que ainda não é possível saber se a política monetária é restritiva suficiente, reforçando seu viés para o aperto das condições quando ele afirma que não seria difícil retomar o ciclo de alta de juros caso fosse necessário. Mostrando dessa forma que o comitê ainda não está focado em quanto tempo os juros devem se manter altos e sim pensando se ainda é necessário subir os juros.
O Payroll registrou a criação de 150 mil vagas nos Estados Unidos no mês de outubro, ficando abaixo da expectativa do consenso e representando uma queda significativa em relação às 297 mil vagas criadas em setembro. Além disso, a taxa de desemprego subiu, saindo de 3,8% no mês anterior para 3,9%. Por outro lado, o salário médio por hora teve um aumento de 0,2% m/m, acumulando uma alta de 4,1% nos últimos 12 meses. De maneira geral, o emprego nos setores de públicos, de saúde e de construção registraram tendência ascendentes, enquanto na indústria de transformação foi registrado declínio. Esse é mais um dado que corrobora a tese de uma leve desaceleração na economia americana, permitindo uma leitura do mercado um pouco mais dovish.
O índice de gerentes de compras, PMI, da China no setor de serviços mostrou uma leve evolução em outubro, saindo de 50,2 pontos no mês anterior para 50,4. Esse aumento moderado na atividade de serviços pode ser explicado pelas condições de procura também moderadas. O volume total de novas encomendas aumentou no ritmo mais suave dos últimos dez meses, enquanto os novos negócios de exportação cresceram no ritmo mais rápido dos últimos quatro meses.
O PMI industrial da China, por outro lado, apresentou retração, saindo de 50,2 em setembro para 49,5 em outubro, ficando abaixo dos 50 pontos e indicando, portanto, contração no setor. O dado ficou abaixo das estimativas do consenso, que esperava estabilidade. Parte dessa leitura pode ser explicada pelo feriado da Semana Dourada, que aconteceu até o sexto dia do mês. Para além disso, a economia do país está fragilizada, tendo em vista a fraca despesa dos consumidores, a crise imobiliária e a fraca procura global. O setor industrial representa 28% do PIB chinês e essa representa a quinta contração consecutiva do setor.
Mercado Livre teve um 3T23 acima do consenso mais uma vez e suas ações subiram durante o fim desta semana. Seu GMV subiu 59,3% a/a, somando US$11,4 bilhões, valor 3% acima do esperado. Já a receita líquida de US$ 3,76 bilhões veio 4% acima da previsão do BTG e com alta de 40% a/a. O volume total de pagamentos foi destaque positivo, já que subiu 121,2% a/a e ficou no valor de US$ 47,3 bilhões. Sua carteira de crédito cresceu 23% a/a e 5% t/t, além de uma melhora nos índices de inadimplência. O lucro líquido da empresa foi de US$ 359 milhões, 24% acima do consenso e representando altas de 178,3% anual e 37% trimestral. O México e Brasil foram os maiores impulsionadores dos resultados, com o setor de crédito de melhor qualidade dos ativos, além de crescimento no GMV.
A Apple reportou seu resultado essa semana, com número acima do esperado. O lucro líquido da companhia foi de US$ 22,96 bilhões, contra US$ 20,72 bilhões no ano passado, e as receitas somaram US$ 383,29 bilhões, representando uma queda de 3% a/a. As receitas da maioria de seus produtos apresentaram queda, com exceção do iPhone, a qual cresceu 2% a/a. Tim Cook, CEO da companhia, disse que o iPhone 15, o qual quase não teve participação no resultado, tendo em vista que ele foi lançado no final do trimestre, estava se saindo melhor do que o iPhone 14 no mesmo período do ano passado. Por outro lado, as vendas de Mac caíram 34% a/a. Vale ressaltar, entretanto, que a base de comparação prejudica o número já que as vendas dessa categoria bateram recorde histórico nessa mesma época ano passado. A receita de iPads caíram 10% a/a e da unidade de negócios de wearables caíram 3% a/a. Por fim, a divisão de serviços online teve um crescimento de 16% a/a, sendo o destaque positivo da leitura.
Brasil
Segundo a PNAD, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua, a taxa de desocupação no Brasil saiu de 8% no 2T23 para 7,7% no 3T23, ficando dentro das expectativas do mercado. Esse é o menor nível para o período desde 2014. Esse resultado foi impulsionado pela criação de empregos formais. Assim, o número de desempregados caiu 3,8% t/t e o número de pessoas ocupadas bateu recorde na série histórica. A renda média cresceu 1,7% t/t e 4,2% na comparação anual, ficando em R$ 2.982,00. Dessa forma, a massa de rendimento atingiu novamente o maior nível da série histórica, estimada em R$ 293 milhões. De maneira geral, entendemos que a queda da desocupação pode ser lida como um sinal de retomada da economia.
A decisão da reunião do Copom essa semana teve um tom neutro, com anúncio de redução de 50 bps na taxa básica de juros. O comunicado deu um peso maior ao ambiente externo em comparação com a última reunião, sinalizando que o pace da política monetária local deve ter boa correlação com as próximas decisões do Fed, além de continuarem demonstrando preocupação em relação ao fiscal do país. Fora isso, o comitê sinalizou mais dois cortes de mesma magnitude para as próximas reuniões.
Os resultados da PetroRio no 3T23 surpreenderam positivamente o mercado. Seu EBITDA somou US$ 629 milhões, enquanto a margem foi de 80% ou US$ 66/bbl, recorde histórico da empresa. O lucro líquido também bateu recorde ao subir 123% a/a e 95% t/t e ficou valor de US$ 345,2 milhões. Os resultados foram impulsionados pela queda dos custos de extração do petróleo para US$ 7/bbl, além da alta trimestral de 10% da produção. Houve também uma geração de fluxo de caixa no valor de US$ 290 milhões, responsável por uma redução de 0,2x t/t na Dívida Líquida/EBITDA, que marcou 0,9x no 3T23. O guidance da PetroRio é bastante positivo, uma vez que o campo de Wahoo terá melhorias no 4T23, com uma alta de 11% m/m na produção em outubro.
O Grupo Vamos teve um 3T23 com números fracos, mas o investment case da empresa continua positivo. Sua receita atingiu R$ 1,5 bilhão, com alta de 8% a/a e de acordo com o esperado pelo BTG. O setor de aluguel teve o melhor resultado, a receita aumentou 61% a/a, devido à expansão da frota. A alavancagem da Vamos caiu para 3,3x, comparado ao 3,6x do 2T23. O EBITDA cresceu 23% a/a, próximo ao esperado pelo consenso. Já o ROIC da empresa marcou os 18,7% nos últimos doze meses, diferença de 0,1% ao trimestre. O lucro líquido caiu 23% ao ano e somou R$ 116 milhões. Mesmo com o lucro líquido abaixo do esperado, a operação da empresa ainda entrega resultados sólidos e existem boas perspectivas para o médio e longo prazo.
Mercados
Nessa semana agitada, os principais índices americanos e a bolsa brasileira performaram bem e fecharam o começo do mês no campo positivo. Dentre a agenda internacional, os principais drivers de preço foram as decisões de juros nos EUA e na Europa, números da indústria Chinesa e o Payroll americano. No Brasil, atenções voltadas a ata do COPOM e as discussões acerca da meta fiscal para 2024.
Conforme esperado, o Federal Reserve manteve as taxas de juros inalteradas no patamar entre 5,25% e 5,50%. Na interpretação corrente no mercado, a sinalização do Fed de que uma eventual nova elevação da taxa vai depender dos próximos indicadores não mostra clara inclinação para elevações adicionais. Assim, os yields perderam força e as bolsas americanas tiveram um impacto positivo como reflexo desse movimento. Frente ao real, que é um ativo de risco, o dólar também cedeu dada queda das taxas longas.
O Payroll veio abaixo das projeções e sugeriu um arrefecimento no mercado de trabalho americano. Dado número positivo, os principais índices logo repercutiram bem a leitura. Os yields cederam ainda mais, suportando a ideia de que a economia está desacelerando e fomentando a expectativa de que a Fed Funds Rate possa vir a cair num futuro próximo. Vale ressaltar que após o Payroll, as apostas majoritárias são de que os juros podem ser cortados em maio do ano que vem. Já as apostas de uma nova alta em dezembro (próxima perderam força, caindo de 19,5% para 9,8%.
No mercado doméstico, o Copom manteve o ritmo de corte e conforme já esperado, reduziu a taxa básica de juros da economia (Selic) em mais 50 bps, para 12,25%. No comunicado, o BC sinalizou que esse ritmo deve continuar pelas próximas reuniões e nessa linha, terminaríamos 2023 com uma Selic na casa de 11,75%. Assim, alinhado ao movimento de correção dos ganhos do EWZ no exterior em dia de feriado no Brasil, o mercado também repercutiu positivamente o corte de 50 bps e a unanimidade do órgão no que diz respeito a continuidade desse pace de flexibilização monetária. Os juros também deram sinais de trégua, com DIs futuros cedendo por toda curva.
O preço do minério de ferro subiu pela segunda semana consecutiva, impulsionado por vários fatores. O otimismo relacionado a estímulos econômicos, bem como fundamentos favoráveis na China, o maior consumidor mundial do minério, contribuíram para esse aumento. A produção diária também se manteve em alta, indicando uma demanda sólida no curto prazo. Além disso, os formuladores de política da China afirmaram o compromisso de reduzir os riscos da dívida local e apoiar demandas razoáveis de financiamento para empresas imobiliárias durante uma reunião realizada no final de outubro.
Dado maior apetite ao risco oriundo do bom humor após FED e minério de ferro em alta, o Ibovespa conseguiu performar e acumulou uma valorização de 2,95%, fechando a semana aos 118.159 pontos. O destaque corporativo fica para a Equatorial, que acabou de vender um ativo de transmissão num movimento de reciclagem de capital para a holding de energia. A venda da Intesa saiu por um Enterprise Value de R$714 milhões (considerando a dívida líquida de R$ 318 milhões) e o comprador foi um fundo de pensão canadense, que já vem investindo em linhas de transmissões brasileiras. Em linhas gerais, segundo um analista de buy-side, a venda do ativo foi uma estratégia muito inteligente e excelente para os acionistas da companhia. Vale mencionar que o retorno da venda foi extremamente atrativo para a Equatorial, implicando em uma TIR real de 7,5% para o comprador e um múltiplo EV/EBITDA de 7,5x.
O real ganhou mais força frente ao dólar e a curva de juros brasileira cedeu em todos os vértices, em linha com o movimento de queda dos rendimentos dos Treasuries americanos. Teve-se um fluxo positivo no Ibovespa, com volume majoritariamente comprador e investidores estrangeiros restabelecendo o apetite por mercados com maiores prêmios de risco. No geral, um mercado de trabalho menos apertado e as sinalizações de que a contração monetária nos Estados Unidos atingiu um patamar teto, sugerem que a atual política contracionista está cumprindo seu papel, o que, consequentemente, abre espaço para o início da flexibilização.
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