17/11/23

Análise da Semana - 13 a 17 de Novembro de 2023

O CPI, índice de preços ao consumidor, nos EUA apresentou estabilidade no mês de outubro, abaixo da projeção de variação de 0,1% m/m. Essa leitura representa uma desaceleração no ritmo da inflação, depois de aumentos de 0,4% m/m e 0,6% m/m em setembro e agosto, respectivamente. Enquanto o item de moradia continuou crescendo no mês, os declínios nos preços da gasolina anularam o movimento. O núcleo da inflação, que desconsidera os grupos de alimentos e energia, apresentou uma alta de 0,2% m/m, mostrando uma desaceleração em relação ao dado de setembro de 0,3% m/m, além de estar abaixo dos 0,3% m/m projetados. Na base anual o núcleo apresentou uma variação de 4%, menor expansão nos últimos 12 meses. Esse dado foi importante para criar um ambiente mais positivo em relação aos juros.

As vendas no varejo nos EUA em outubro caíram 0,1% m/m, menos do que o previsto, além dos dados dos dois meses anteriores terem sido revisados para cima. Das treze categorias pesquisadas, sete registraram queda, com destaque para móveis e concessionárias de automóveis. Por outro lado, os gastos em lojas de cuidados pessoais e mercearias foi o grupo que registrou maior aumento. Essa leitura mostrou resiliência do consumidor dos EUA e continuou surpreendendo os economistas. Junto do dado do CPI, entendemos que o país está no caminho para um pouso suave.

A produção industrial da China teve um aumento de 4,6% a/a em outubro. Esse resultado superou as expectativas do consenso que previam um aumento de 4,3% a/a. Além disso, as vendas no varejo cresceram 7,6% a/a, também surpreendendo o mercado que esperava uma elevação de 7% a/a. Esse resultado foi auxiliado parcialmente pela comparação com a contração que aconteceu em outubro de 2022. O sentimento do consumidor ainda não está seguro, o ritmo de crescimento não mudou muito em relação ao mês anterior, mostrando uma procura interna ainda fraca.

O índice de preços ao consumidor, CPI, da zona do euro teve uma forte desaceleração em outubro, saindo de 4,3% em termos anualizados em setembro para 2,9%. Na comparação mensal, a inflação variou 0,1%, em linha com as expectativas do consenso Refinitv. Dentre os países da zona, os que registraram taxas anuais mais baixas foram a Bélgica, Holanda e Dinamarca, enquanto os países com maiores variações foram Hungria, República Tcheca e Romênia. O núcleo do CPI, o qual exclui energia, alimentos, bebidas e fumo, teve uma variação de 4,2% em outubro contra 4,5% em setembro.

Brasil

O volume de serviços no país apresentou queda de -0,3% m/m em setembro, representando o segundo mês de contração consecutivo. Das cinco atividades pesquisadas, três apresentaram contração. Isso pode ser explicado pelo endividamento das famílias, pela inflação e pelos juros altos. Essa leitura, entretanto, não deve impactar o PIB de 2023. Espera-se que o consumo de serviços volte a crescer, primeiro por ser um setor que demora mais para sentir os efeitos de melhora na economia, como a queda de inflação, segundo que as férias de final de ano costumam ser essenciais para o reaquecimento dos serviços.

O IBC-Br, índice de atividade econômica do Banco Central utilizado como proxy mensal do PIB, apresentou uma retração de 0,06% m/m em setembro. Essa leitura está abaixo das expectativas do consenso, que esperava uma variação positiva de 0,2% m/m. Com esse dado, o índice acumula uma queda de 0,64% no 3T23, enquanto nos últimos 12 meses o indicador tem um avanço de 2,5%. Foi observada uma desaceleração marginal em todos os segmentos da economia, inclusive na agropecuária, sugerindo uma variação negativa do PIB no trimestre. Essa leitura mostra uma desaceleração da economia do país, de forma a reduzir as chances de fecharmos o ano com um crescimento de 3% do PIB em 2023.

O Magazine Luiza divulgou seu 3T23 na segunda-feira e inconsistências contábeis na terça-feira. A Magalu teve um trimestre com bons demonstrativos, com leve queda na receita e Ebitda 0,1% maior na base anual. O maior ponto positivo foi a reversão de tributos, que gerou créditos tributários de períodos mais antigos que 2022, no valor total de R$ 688,7 milhões. Seu lucro líquido foi de R$ 331,2 milhões no período, sendo que no 3T22, houve um prejuízo de R$ 190,9 milhões. Já as irregularidades reportadas logo após foram fruto de uma denúncia anônima. Seu pagamento a certos fornecedores contaria com um bônus de acordo com o número de vendas de alguns produtos, quanto mais unidades vendidas, mais barato seria o custo para o Magalu. Isto estaria acontecendo nos anos de 2022 e 2023, com a contabilização antecipada desse bônus influenciando os demonstrativos da empresa desde 2022.

A Localiza apresentou um 3T23 em linha com as expectativas, com melhora do lucro líquido. Mesmo com margem de aluguel de veículos (RAC) tendo uma queda de 7% a/a no volume, a receita dessa divisão teve alta de 3% a/a. Já na divisão de gestão e terceirização de frotas (GTF) cresceu 26% a/a no volume e sua margem Ebitda ficou estável ao ano, marcando 74%. O setor de seminovos vendeu 57 mil veículos, alta de 29,6% t/t e 9,62% a/a, com preço médio de R$ 60,2 mil. A integração da Unidas continua sendo o maior custo operacional da Localiza. A receita líquida do 3T23 foi de R$ 7,3 bilhões, em linha com o esperado pelo BTG e 19% maior ao ano. O lucro líquido ajustado, maior destaque do trimestre, foi de R$ 703 milhões, 12% acima das expectativas do BTG.

O 3T23 da CSN foi misto, com resultados fracos de aço e números sólidos de mineração. A CMIN, divisão da mineração da empresa, teve uma alta de 81% t/t de seu Ebitda de R$ 1,99 bilhão, marcado pela alta volatilidade de seus preços provisórios. Seu volume total cresceu 20% a/a, levemente acima da expectativa do BTG e ficou em 11,6 Mt. Já o setor de aço reportou um Ebitda de R$ 183 milhões, queda de 67% ao trimestre, devido a custos elevados. No todo, a CSN teve um Ebitda de R$ 2,8 bilhões, em linha com o BTG e 24% maior t/t. A divisão de siderurgia teve margem Ebitda de 3% e o setor de cimento foi menor do que as expectativas. A empresa está num período de alavancagem elevada, vinda de diversos setores da empresa, em que a divisão de minério está sobressaindo.

A JBS mostrou um terceiro trimestre com queda nas margens, mas próximo das expectativas do mercado. A carne suína dos EUA foi a maior impulsionadora dos resultados, devido ao aumento das exportações, menor custo com rações e maior valor agregado da carteira. A Seara apresentou margem Ebitda de 5,5%, representando alta de 35% t/t, mas número ainda não se destaca entre seus pares. A margem Ebitda da JBS foi de 3,4%, recuo de 4,8% t/t, no valor de R$ 484 milhões, queda de 28% t/t. O lucro líquido foi de R$ 628 milhões, valor próximo do que o consenso do mercado esperava, mas com queda de 84% na base anual.

Mercados

Nessa semana, os mercados continuaram no movimento altista e conseguiram performar, fechando a semana no campo positivo. No cenário internacional, o CPI e vendas no varejo no EUA, além da produção industrial na China foram os principais drivers de preço. No Brasil, agenda de indicadores esvaziada e sem nenhum catalisador importante de curto prazo. Mercado repercutiu as discussões da Lei das Diretrizes Orçamentárias, proxy do PIB de setembro e o bom humor no exterior.

O índice de preços ao consumidor americano teve uma leitura positiva e seguiu mostrando uma evolução, dado que tanto o núcleo quanto o índice cheio vieram abaixo do esperado. Assim, os yields cederam, dada trajetória de inflação mais benigna, com os rendimentos de dez anos caindo abaixo de 4,5% e o de dois anos abaixo de 4,9%. As bolsas americanas reagiram de forma forte e acentuaram as altas após divulgação do indicador. Já o dólar cedeu e perdeu ímpeto contra a cesta de moedas (DXY). Esse número do CPI alinhado à leitura de uma inflação ao produtor (PPI) também mais positiva fortaleceu as expectativas de que o Fed possa pausar o ciclo de aumento de juros e fez com que as chances de uma nova alta caíssem para zero. Assim, a probabilidade implícita na curva futura mostra agora 100% de chance de juros inalterados na próxima reunião do dia 13 de dezembro.

No Brasil, mercado também repercutiu a manutenção da meta de déficit zero até pelo menos uma segunda revisão. O debate girou em torno de se o governo já faria agora uma emenda na LDO para já propor uma nova meta de resultado primário para o ano que vem, pauta que foi adiada e deu mais fôlego ao Ministro da Fazenda. Essa é uma importante questão pois pode impactar o prêmio de risco doméstico ao trazer mais credibilidade para o arcabouço, ajudar no fechamento da curva e consequentemente acarretar num bom desempenho para bolsa e câmbio, algo que foi visto nos últimos dias. Fora isso, a proxy do PIB demonstrou um arrefecimento da inflação e desaceleração da atividade no geral, sugerindo a eficácia da política monetária contracionista e ancorando as expectativas de inflação, fatores primordiais para a continuidade do movimento de redução da Selic.

Dado investidores com maior apetite ao risco, fechamento dos juros e continuidade altista do preço do minério, o Ibovespa acumulou uma alta de 4,85% e atingiu a máxima do ano, fechando a semana aos 124.773 pontos. O grande destaque do noticiário corporativo fica para a Itaúsa, que vendeu mais de R$ 900 milhões da sua posição na XP. Aproveitando um mercado mais aquecido, a holding levantou US$ 185 milhões e este foi o nono block trade da companhia desde que começou a desmontar sua posição na XP. A demanda dos papéis ofertados ficou praticamente dividida entre investidores locais e internacionais e diferentemente dos outros, esse trade não impôs um prazo mínimo de permanência aos compradores. Vale lembrar que depois da venda, a Itaúsa ainda tem 6,7 milhões de ações da XP, equivalente a um dia de volume de negociação do papel. De qualquer forma, a XP fechou o dia da negociação valendo mais de US$ 12 bilhões na bolsa americana e vem recomprando ações desde o começo do ano, além de totalizar mais de R$ 3,6 bi em dividendos neste ano.

O dólar seguiu o movimento de enfraquecimento frente a moedas de economias com juros nominais mais elevados e os juros futuros aliviaram em toda a composição da curva brasileira, cedendo em média 23 pontos percentuais. Teve-se um fluxo estrangeiro positivo no Ibovespa, volume majoritariamente comprador, contribuindo para que o índice atingisse os patamares máximos desse ano. Resumidamente, a combinação entre a confiança de que a China entregará a meta de crescimento de 5% esse ano alinhada à desaceleração em conjunto dos principais setores da economia americana, o que sugere o início do ciclo de corte de juros ano que vem, aliviou o prêmio de risco implícito e destravou valor nas bolsas mundo à fora.

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