A Ata do FOMC foi divulgada essa semana, três semanas depois, momento em que o Fed ainda não havia observado o payroll nem o CPI, tornando a ata defasada. Os dados divulgados desde a última reunião têm sido bem mais construtivos do que os anteriores, reforçando o progresso em direção às metas do comitê. Os membros se manifestaram nas últimas semanas, mostrando uma postura ainda cautelosa em relação aos próximos passos, avisando que ainda precisam de mais evidências de que a inflação realmente está em uma trajetória sustentável em direção à meta. Dessa forma, acreditamos que a taxa de juros americana se mantenha estável em 5,25%-5,50% até o 2T24.
O PMI composto, que engloba indústria e serviços, dos EUA se manteve estável em relação ao mês anterior na leitura preliminar de novembro, totalizando 50,7 pontos, isso significa que a atividade econômica segue em expansão. O PMI de serviços apresentou leve alta, saindo de 50,6 em outubro para 50,8 pontos, maior nível dos últimos quatro meses e acima do esperado pelo consenso. O PMI industrial, por outro lado, caiu de 50 para 49,4 pontos de um mês para o outro, ficando abaixo das expectativas 49,9 pontos e representando a pior leitura dos últimos três meses.
A Ata referente a reunião de outubro do BCE indicou que a inflação da zona do euro está caindo conforme o esperado, ou até um pouco mais rápido. Mesmo assim, segundo os membros do comitê, o BCE precisa manter a possibilidade de realizar mais aumentos na taxa de juros se necessário, mesmo que não faça parte do cenário básico atual. Isso porque o aperto do mercado de trabalho pode reduzir a eficácia da política monetária restritiva. Ainda, o Banco Central Europeu prevê que a inflação da zona voltará à meta de 2% em 2025. Os membros, entretanto, reconhecem que o último trecho para levar a inflação de volta para a meta será o mais desafiador, de forma que não se deve declarar vitória contra a inflação agora.
No início da semana uma das principais empresas de inteligência artificial atualmente, a OpenAI, anunciou a demissão de seu CEO e co-fundador, Sam Altman. No comunicado oficial a diretoria afirmou que o executivo não era sincero com o conselho, fazendo com que perdessem a confiança nele. O evento foi seguido do comunicado do presidente do conselho de administração, Greg Brockman, que ele se desligaria da empresa. Foi criado um abaixo-assinado de centenas de funcionários da empresa com a intenção de deixaram a companhia se o conselho não renunciasse e Altman e Brockman não voltassem aos seus cargos. Ainda, a Microsoft anunciou sua intenção de contratar os executivos da OpenAI para chefiar a unidade de pesquisa de IA avançada de Redmond. Tudo isso gerou intenso lobby dos maiores investidores da empresa, em busca do retorno dele. Logo no dia seguinte, a OpenAI comunicou que chegaram em um novo “acordo de princípio” que trouxe de volta Altman, além de um novo conselho administrativo.
A Nvidia agradou o mercado ao divulgar resultados do 3T23 bastante positivos. Sua receita cresceu em 206% ao ano, impulsionada pelas vendas de data center, que somaram US$ 14,51 bilhões, valor condiz a 80% das vendas totais da empresa. Além disso, as vendas do setor de videogames, que já foi o maior segmento da Nvidia, cresceu 81% a/a. A receita total da empresa somou US$ 18,12 bilhões, enquanto a Avenue esperava US$ 16,18 bilhões. Já seu lucro líquido ajustado foi de US$ 10 bilhões ou US$ 4,02 por ação, acima da expectativa de US$ 3,37. Contudo, a empresa disse que o 4T23 terá seus resultados afetados pelos conflitos na Ucrânia e Oriente Médio, portanto o guidance não prevê crescimento em suas margens.
Brasil
O índice de confiança dos consumidores sofreu uma queda marginal em novembro, saindo de 93,2 pontos para 93 pontos. Isso pode ser explicado pela deterioração das perspectivas das finanças das famílias nos próximos meses. Houve uma queda intensa na confiança dos consumidores de classes de renda baixa, recuperação das faixas intermediarias e estabilidade na classe mais alta. A diferença deve estar relacionada com uma maior dificuldade financeira dessas famílias, com incertezas relacionadas a emprego. As perspectivas para as finanças familiares futuras sofreram a maior queda e os itens de perspectiva sobre a situação futura da economia e sobre a situação econômica também cederam. Por outro lado, a percepção sobre a situação financeira das famílias ficou estável.
Mercados
Nessa semana, bem esvaziada de agenda econômica e com liquidez reduzida, os mercados apresentaram leve viés de alta nos últimos cinco dias, ainda suportados pela sensação de que o trabalho dos bancos centrais terminou e os juros não subirão mais. No âmbito internacional, a ata do FOMC e do banco central europeu foram os principais headlines. No Brasil, mercado repercutiu o exterior, alguns dados de déficit e o discurso positivo de Roberto Campos Neto.
A divulgação da ata do FOMC sugeriu o inexistente apetite dos membros do Fed para cortar a taxa de juros americana no curtíssimo prazo. Pelo visto, nem foi discutido quando esse ciclo de cortes poderia iniciar, principalmente pelo fato de a inflação ainda permanecer longe da meta de 2%. Nesse contexto, os yields dos Treasuries longos apresentaram leve alta, mas houve quedas na parte intermediária da curva. Já as bolsas mantiveram sua trajetória de queda ao longo do dia e o DXY se fortaleceu ligeiramente. É indispensável destacar a curva americana precificando o início do processo de flexibilização monetária em maio e espera-se que o mercado antecipe parte desse movimento.
No ambiente doméstico, o discurso do presidente do BACEN foi positivo e chegou a gerar certo otimismo. Dentre os principais pontos abordados, Roberto Campos Neto destacou que o Brasil teve queda na inflação, com pouco custo na atividade econômica. Além disso, reiterou que os juros ainda estão em nível restritivo e com isso, pode-se dar continuidade ao ritmo de cortes de 50 pontos nas próximas reuniões. Por outro lado, os vencimentos futuros da curva de juros brasileira apresentaram leve stress e volatilidade nos últimos cinco dias, fatores associados ao aumento da projeção de déficit primário para 2023, agora em R$ 177,4 bi, e potencial efeito inflacionário oriundo de uma possível elevação de ICMS por parte dos estados.
Por mais que o Ibovespa apresentou uma liquidez reduzida, dado feriado e semana de Black Friday nos EUA, o índice conseguiu se sustentar com a ajuda do preço do minério e acumulou uma valorização de 0,54%, fechando acima dos 125 mil pontos. O destaque do noticiário corporativo fica para Cemig, que anunciou uma proposta de federalização da companhia. Esse movimento consiste na transferência dos ativos de Minas Gerais para a União a fim de liquidar parte da dívida do estado. A federalização é negativa do ponto de vista do mercado pois toda a agenda de melhora operacional e eficiência seria cancelada e pode ter aumento de interferência política na estatal. De qualquer forma, as negociações ainda estão em estágio inicial, sem nenhum dado técnico sobre um possível valor justo da companhia. Vale ressaltar que, apesar de todo apetite político, o processo de federalização é muito complexo e burocrático. Diferentemente das fusões e aquisições comuns do setor privado, em que se faz uma oferta e depois o due diligence, na federalização o Tesouro primeiro levanta os passivos e faz um inventário de todos os ativos lançados no balanço para depois chegar a um preço justo. Mas no geral, pode-se destacar que as federalizações não funcionam pois os estados sempre exigem ágios altos em relação ao preço de mercado e adotam o ativo em questão como centro de custos. Assim, quando é absorvido pelo Tesouro, seu valor já está completamente deteriorado.
O dólar ficou praticamente estável em relação ao real e a curva de juros brasileira apresentou um leve stress dadas as projeções de déficit desse ano. Teve-se um fluxo estrangeiro positivo no Ibovespa, com volume misto e mais cautela. Num panorama mais geral, os dados macro melhores, principalmente de atividade americana, continuaram ajudando as bolsas nessa semana. Os mercados também precificaram a mudança estrutural do comunicado nos EUA e agora ficam em compasso de espera à medida que a sensação de que a queda de juros nos Estados Unidos e Europa está próxima, passou.
2022 Todos os Direitos Reservados | Política de Privacidade