O CPI dos EUA apresentou uma alta de 0,1% m/m em novembro depois da estabilidade do dado de outubro. Na comparação anual, a variação foi de 3,1%. A leitura ficou um pouco acima do consenso Refinitiv que esperava estabilidade mensal, mas ficou dentro da expectativa na comparação anual. Os destaques foram os custos de energia que aumentaram 2,3% m/m e os preços de alimentos, com uma variação de 0,2% m/m. Já o núcleo teve uma alta mensal de 0,3% e anual de 4%. O dado corrobora com a ideia de que a inflação está desacelerando lentamente e que os EUA terão um soft landing em sua economia.
Na reunião do FOMC dessa semana foi anunciada a decisão de manter o nível de juros americano pera terceira vez consecutiva. A decisão foi em linha com o esperado pelo consenso. Segundo o comunicado do comitê, os dados recentes mostram que o crescimento da atividade econômica arrefeceu, com ganhos de empregos moderados em relação ao começo do ano, apesar de ainda fortes, e a inflação diminuiu ao longo do ano, mesmo ainda estando acima da média. O progresso verificado nas variáveis macroeconômicas foi incorporado pelos membros mais importantes ou hawkish do FOMC, aumentando a confiança de uma mudança de posicionamento no primeiro semestre de 2024.
A reunião do ECB decidiu manter as taxas de juros estáveis na zona do euro, conforme esperado pelo mercado. A decisão foi unânime, representando a segunda reunião de pausa no ciclo de aperto de juros. Mesmo assim, Lagarde sinalizou que o ECB continuará atento à dinâmica inflacionária e, reforçou que como o nível de incerteza em relação ao cenário futuro ainda é elevado as próximas reuniões ainda são dependentes de dados. Mesmo assim, a presidente reconhece um progresso claro na inflação subjacente e nas projeções de inflação, além de permanecerem com viés baixista de atividade. Tendo em vista esse cenário, acreditamos que o início do ciclo de cortes de juros será também ainda no primeiro semestre do ano que vem.
Brasil
Essa semana o Copom reduziu a taxa básica de juros ela quarta vez consecutiva, de 12,25% para 11,75%. O comunicado do comitê teve um tom mais neutro, afirmando que o cenário atual exige serenidade e moderação na condução da política monetária, mas já antecipou que pretende realizar novos cortes de mesma magnitude nas próximas reuniões e, a partir de março diminuir a intensidade dos ajustes. Ainda, o comunicado indicou que a magnitude total do ciclo de cortes irá depender da evolução da dinâmica inflacionária. O ambiente atual está em um estágio do processo desinflacionário, que tende a ser mais lento. Além disso, para o Copom os indicadores de atividade corroboram com o cenário de desaceleração da economia. As principais razões de uma Selic ainda com uma média maior são as preocupações com cenário externo e maior incerteza em relação a condução da política fiscal interna.
O IPCA subiu 0,28% m/m, representando uma aceleração em relação ao dado de outubro de 0,24% a/a e a menor taxa para o mês desde 2018. Dessa forma, no ano a inflação acumula uma alta de 4,04% e de 4,68% nos últimos 12 meses. Esse dado ficou abaixo dos 0,3% m/m esperados pelo consenso. Dos nove grupos pesquisados, seis tiveram alta no mês, principalmente o de alimentação e bebidas que variou 0,63% m/m. Isso pode ser explicado principalmente pelas temperaturas mais altas e o maior volumes de chuvas no país, o que influencia nas colheitas. Por outro lado, a gasolina foi a principal pressão baixista no índice, recuando 1,69% a/a. Ainda, a média dos núcleos do índice caiu de 0,26% m/m em outubro para 0,18% m/m em novembro. Tudo isso mostra uma trajetória de inflação construtiva para o país.
O volume de vendas do comércio varejista de outubro caiu 0,3% m/m, depois de um avanço de 0,5% m/m no mês anterior. Na comparação anual o dado apresenta uma alta de 0,2%, o quinto crescimento consecutivo do indicador. Essa leitura representou uma surpresa negativa, já que o consenso esperava um crescimento mensal de 0,2% nas vendas no varejo e anual de 1,76%. Desde fevereiro as leituras estão muito próximas de zero, com exceção de março, maio e julho, mostrando um retorno ao comportamento pré-pandemia, com número ainda mais tímidos do que os anteriores a 2020. Cinco das oito atividades pesquisadas apresentaram queda no período, com destaque para equipamentos e materiais para escritório, que teve a maior queda de 5,7% m/m, atividades com maior peso, como hiper e supermercado e combustíveis também puxaram para baixo. Por outro lado, o que influenciou a atividade para cima foi principalmente o grupo de artigos farmacêuticos.
Mercados
Nessa semana, os mercados conseguiram performar e se mantiveram no campo positivo dadas expectativas mais positivas em relação ao ciclo de corte de juros nos Estados Unidos. Na esfera internacional, os principais drivers de preço foram o índice de preços ao consumidor americano, as decisões de juros nos Estados Unidos e Europa, e o anúncio recorde de estímulos à economia chinesa. No Brasil, o mercado repercutiu a redução de 50 pontos percentuais na Selic e o IPCA de novembro.
O índice de preços ao consumidor americano veio em linha com as projeções e não apresentou nenhum grande impacto no preço dos ativos. Os yields cederam de forma branda e as bolsas num primeiro momento não adotaram uma tendência clara visto que o CPI não contrariou as expectativas. Já o dólar se valorizou levemente frente ao real e ficou estável contra uma cesta de moedas (DXY). Vale ressaltar que a trajetória inflacionária continua sendo benigna, sugerindo que o processo desinflacionário segue em constante evolução.
Em seguida do CPI e conforme já esperado, o FED manteve o juro inalterado na última reunião do ano, mas indicou cortes em 2024. As mudanças nas projeções de juros para o final de 2024 foram o principal fator contribuinte para esse view mais otimista do comunicado. Pode-se afirmar que a queda de juros é coerente ao cenário de menor crescimento e um arrefecimento da inflação, a qual pode encerrar 2024 dentro da meta prevista de 2,5%. Nesse ínterim, viu-se uma correção significativa nos rendimentos dos Treasuries, dólar se desvalorizando de forma moderada e bolsas acelerando as altas como reflexo desse fechamento dos yields. Atualmente, a probabilidade maior de início da flexibilização está em março do ano que vem, número que após o comunicado de quarta, aumentou para 60,5%.
O IPCA de novembro veio dentro do esperado e trouxe núcleos “comportados”, apresentando características que embasam a continuidade da condução da política monetária. Assim, a curva de juros brasileira reduziu a Selic precificada para o fim de 2024 e os DIs futuros caíram ao longo de toda a curva, com maior intensidade na parte intermediária e longa.
O Copom manteve o guidance e reduziu em 50 pontos percentuais a taxa básica de juros da economia brasileira, fechando 2023 em 11,75%. O Banco Central avaliou que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para a continuidade do processo desinflacionário. Por mais que o tom dovish do FED alimentou a expectativa local de que o Copom passe a ter mais espaço para acelerar o ritmo, parte do mercado viu o comunicado do órgão brasileiro como mais hawkish dado que eliminou essa possibilidade de abrir esse espaço para acelerar o passo de janeiro em diante.
Dada a influência do cenário internacional no mercado doméstico e a divulgação de alguns dados balizadores de preço no mercado doméstico, o Ibovespa navegou perto de topos históricos e acumulou uma alta de 2,31%, fechando a semana acima dos 130 mil pontos. Dentre os destaques do noticiário semanal, pode-se destacar o fato de o mercado no geral estar “overweight” no setor de utilities e a maioria pensa em manter ou até aumentar a exposição no ano que vem. De acordo com uma pesquisa do BTG, o segmento preferido dos gestores é o das distribuidoras de energia e empresas que operam em todos os elos da cadeia dado que o ciclo de queda de juros tem um impacto relevante no valuation dessas companhias. No geral, o long favorito dos gestores no setor é Equatorial, seguida por Eletrobrás, Sabesp e Copel. Na ponta vendida, as empresas de transmissão lideram o ranking, como a ISA Cteep, Taesa e AES Brasil. Outro insight relevante da pesquisa foram as perspectivas para o preço de energia no mercado livre, em que mais da metade dos entrevistados acredita que os preços tendem a subir nos próximos três anos.
O dólar se manteve praticamente estável frente ao real e os DIs futuros aliviaram por toda parte da curva brasileira, em média 27 pontos percentuais. Por mais que o índice tenha apresentado menor liquidez no começo da semana e um volume mais misto, o fluxo estrangeiro positivo colaborou com a performance vista. Em suma, o tom dovish do FED e a percepção de que a inflação está arrefecendo gerou um movimento de risk-on para ativos globais, beneficiando, principalmente, mercados emergentes.
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