O CPI americano subiu 0,3% m/m, acumulando uma alta de 3,4% em 2023. A leitura surpreendeu o consenso, que projetava uma variação de 0,2% m/m. Além disso, o núcleo da inflação teve uma alta de mesma magnitude. De maneira geral, os dados não sugerem preocupação. Mesmo mostrando uma variação maior do que no mês anterior, a leitura mostra um progresso contínuo da inflação em direção ao objetivo do FED. De qualquer forma, a inflação subjacente ainda se mostra rígida, dando motivos para o comitê ter cautela no início do ciclo de corte de juros.
O PPI, índice de preços ao produtor, dos EUA caiu 0,1% m/m, sendo o terceiro mês consecutivo de queda. O dado foi abaixo dos +0,2% m/m esperados pelo consenso. Grande parte da queda pode ser explicada pelo preço do diesel, que teve uma depreciação de 12,4% m/m. O núcleo do índice, por outro lado, subiu 0,2% a/a. Essa leitura mostra alguns sinais deflacionários, corroborando com a possibilidade de o FED começar a fazer cortes na taxa de juros.
O CPI da China apresentou uma variação de -0,3% a/a em dezembro, ficando abaixo do consenso da Reuters, que previa uma queda de 0,2%. Apesar da queda ter sido menos acentuada do que no mês anterior, esse foi o terceiro mês de inflação negativa, aumentando a pressão sobre o governo a reativar a economia do país. O índice tem sido afetado nos últimos meses principalmente pela volatilidade nos preços da carne suína. Por outro lado, o núcleo da inflação, que exclui os preços de energia e alimentos, teve uma variação positiva de 0,6% a/a.
Brasil
O IPCA de dezembro teve uma variação de 0,56% m/m, registrando o sexto mês seguido de alta. Dessa forma, o índice acumulou ao longo do ano de 2023 uma alta de 4,62%. Esse número é menor do que os 5,79% registrados em 2022 e, pela primeira vez desde 2020, está abaixo do teto da meta. A leitura mensal e a acumulada foram acima da expectativa do mercado de 0,48% m/m e 4,56%, respectivamente. O maior impacto anual do índice foi o grupo de transportes, especialmente por conta da alta acumulada de 12,09% da gasolina. Vale ressaltar que a reoneração do ICMS e dos tributos federais foi a principal responsável por esse salto nos preços.
Mercados
Nessa semana mais movimentada em termos de agenda macroeconômica, os mercados permaneceram mistos e apresentaram certa volatilidade nessas duas primeiras semanas do ano. No escopo global, os principais drivers de preço foram o kick-off da temporada de balanços americana e a inflação ao consumidor americano (CPI). No Brasil, investidores repercutiram o IPCA de dezembro e seguiram a dinâmica do exterior.
A inflação ao consumidor americano (CPI) veio acima das projeções tanto em seu núcleo quanto no índice cheio. Por mais que o dado tenha sido negativo, as bolsas reagiram de forma bem branda. Pela trajetória de desaceleração continuar parecendo positiva, o CPI de dezembro não alterou a perspectiva de cortes de taxas do Fed. Mesmo assim, viu-se certa volatilidade nos yields dos Treasuries e a cesta de moedas (DXY) se valorizando levemente. Frente ao real, dólar se manteve praticamente estável.
A leitura do IPCA de dezembro veio acima das expectativas e apresentou núcleos ainda pressionados. Segundo alguns economistas, o dado ajudou a reforçar o discurso de paciência e parcimônia do BACEN, com a manutenção de cortes de 50 bps. Dito isso, DIs tiveram leves altas e curva dos contratos de DIs futuros negociados na B3 agora passa a precificar uma Selic terminal de 9,5% para 2024. Vale ressaltar que a precificação da Selic embutida nos juros de mercado também vem subindo nesse início de ano, conforme sensibilidade à curva americana e ao final do ano passado, a curva brasileira sugeria uma taxa terminal de 9% em 2024.
Dada a sequência do movimento natural de realização de começo de ano e a sensibilidade ao fluxo estrangeiro, o Ibovespa acumulou uma desvalorização de 0,78% e fechou a segunda semana do ano abaixo dos 131 mil pontos. Dentre o noticiário corporativo, o destaque negativo fica para a MRV, que desabou após especulação sobre prévia e guidance. Na tarde de ontem, o volume de negociação disparou e atingiu seis vezes a média diária de R$60 milhões por dia. No geral existem duas hipóteses sendo precificadas; a primeira é de que a companhia vai anunciar uma revisão do guidance do lucro líquido. Já a segunda tese é baseada na possível medida provisória da reoneração da folha de pagamentos para as construtoras, impactando principalmente empresas que atuam no Minha Casa, Minha Vida.
O dólar teve leve enfraquecimento contra o real e a curva de juros brasileira ficou praticamente estável, com vencimentos mais longos cedendo e curtos abrindo. Teve-se um fluxo estrangeiro praticamente neutro no Ibovespa, com volume majoritariamente vendedor e continuidade de parte do movimento de realização visto na semana passada. Os mercados globais continuam a precificar parte de um “delay” no movimento de afrouxamento monetário nos EUA e ficam à deriva da curva de juros americana, responsável por significativa parcela da liquidez dos mesmos. Vale relembrar também a questão geopolítica no Mar Vermelho, em que a reversão do movimento de baixa do preço do barril de petróleo pode dificultar a narrativa de arrefecimento inflacionário e consequente flexibilização monetária por parte dos bancos centrais.
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